sábado, 25 de fevereiro de 2017

O Pequeno Príncipe - Parte 1

Uma vez, quando tinha seis anos, vi um desenho magnífico num livro chamado Histórias Vividas, sobre a floresta primitiva. Era um desenho que mostrava uma jiboia prestes a engolir um animal. Aqui vai uma cópia dele.


No livro era dito: “As jiboias engolem suas presas por inteiro, sem nem mastigar. Depois disso elas ficam incapazes de se mover, e dormem pelos seis meses que necessitam para a digestão.” Eu então refleti profundamente acerca das aventuras da selva, e após algum trabalho com um lápis de cor, consegui fazer o meu primeiro desenho, meu Desenho Número Um. Ele era mais ou menos assim:



Eu mostrei minha obra-prima às pessoas grandes, e perguntei se meu desenho as assustava. Mas elas me responderam: “Assustar? Por que alguém se assustaria com um chapéu?” Meu desenho não era um chapéu. Era o desenho de uma jiboia digerindo um elefante. Mas como as pessoas grandes não conseguiam entendê-lo, eu fiz um novo desenho: desenhei o interior de uma jiboia, assim as pessoas grandes poderiam ver claramente o elefante. Elas sempre precisam de explicações para as coisas. Meu Desenho Número Dois era assim:


Desta vez as pessoas grandes me aconselharam a deixar de lado meus desenhos de jiboias, fossem elas abertas ou fechadas, e me dedicar a coisas como geografia, história, aritmética e gramática. Foi por isso que, aos meus seis anos, desisti do que poderia vir a ser uma carreira magnífica na pintura. Eu fui desencorajado pelos fracassos do meu Desenho Número Um e do meu Desenho Número Dois. As pessoas grandes nunca entendem nada por elas mesmas, e é muito cansativo para as crianças ficarem sempre explicando as coisas para elas. Então eu escolhi outra profissão, e aprendi a pilotar aviões. Eu voei por todas as partes do mundo; e é verdade que a geografia acabou me sendo muito útil. De relance, posso distinguir a China do Arizona. Se alguém fica perdido no céu noturno, este conhecimento é bem valioso. No curso desta vida eu tive muitos grandes encontros com muitas pessoas que se preocupavam com assuntos muito sérios. Eu vivi por um bom tempo entre as pessoas grandes. Eu fui muito próximo e íntimo a elas, mas tudo isso não melhorou muito a opinião que tenho delas. Sempre que eu me encontrava com uma delas que me parecia mais lúcida à primeira vista, eu fazia um experimento: mostrava a elas o meu Desenho Número Um, que sempre carreguei comigo. Eu buscava saber se aquela era uma pessoa de compreensão verdadeira. Mas, quem quer que ela fosse, um adulto ou uma adulta, sempre me respondia:   “Isto é um chapéu.”   Então eu jamais falaria com aquela pessoa sobre jiboias, ou florestas primitivas, ou estrelas. Eu precisava descer ao seu nível de compreensão. Eu conversaria com ela sobre jogos de cartas, e golfe, e política, e gravatas. E a pessoa grande ficava encantada em conhecer um homem tão refinado.


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