Os
europeus mais atentos - uma minoria - previram as consequências para a Europa
do papel exercido pelos Estados Unidos, tanto política quanto militarmente. Por
volta de 1900, o país chegava à marca de 80 milhões de habitantes, cerca de 20
milhões a mais do que a Alemanha. Na produção de aço - o barômetro econômico da
época -, era o líder mundial. Em outros produtos, de tabaco a minerais, era o
maior ou o segundo maior produtor. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, seus
produtos manufaturados alcançavam a quantidade total produzida pela
Grã-Bretanha, Alemanha e França juntas.
Os
Estados Unidos eram o centro da criatividade, fosse em forma de religião, como
a ciência cristã, fundada por Mary Baker Eddy, ou em forma de música, como o
jazz, criado por afrodescendentes. Nova York era a capital mundial da novidade.
The House ofMirth, romance de Edith Warthon publicado em 1905 (lançado mais
tarde no Brasil com o título A Casa da Alegria), começa com a descrição de uma
elegante mulher que deixa a agitação de fim de tarde na Grand Central Station -
uma das visões mais fascinantes do mundo - e dirige-se a ruas onde se encontram
belas casas de tijolos e pedras, decoradas com floreiras e toldos, tudo
“fantasticamente variado, de acordo com a ânsia americana pela modernidade”.
Lá
também surgiam novas palavras e expressões. Lá se encontravam os mais altos
edifícios comerciais do mundo, as mais extensas linhas ferroviárias e grandes
minas de carvão que ameaçavam suplantar a Grã-Bretanha na extração do mineral.
Os Estados Unidos eram os líderes em engenharia elétrica, fornecendo mão de
obra e
equipamentos para a construção das linhas do
metrô de Londres no início do século. O índice de crianças europeias alfabetizadas
era inferior ao de crianças norte-americanas, e um soberbo núcleo de universidades
tomava forma na América. Apesar de não possuírem uma tradição histórica em
artes visuais, os Estados Unidos a compravam com dólares. Pinturas famosas
discretamente deixavam os castelos e palácios europeus para, depois de
leiloadas em Londres, aparecerem em galerias particulares de magnatas do aço e
das estradas de ferro, como os Carnegies e os Fricks.
Os
Estados Unidos haviam se tornado um império, embora os cidadãos, em sua
maioria, não se sentissem donos dele. O país possuía o Alasca, negociado com a
Rússia no ano de 1867; possuía o Havaí; havia derrotado a Espanha em uma rápida
guerra, conquistando temporariamente Cuba e as Filipinas, e aumentava a marinha
de guerra, a fim de acompanhar sua expansão territorial. Um dos emocionantes
eventos de 1908 foi a viagem de uma grande esquadra desarmada para as distantes
costas do Pacífico, onde seus marinheiros marcharam à vontade pelas ruas - diferentemente
da formalidade europeia -, para deleite das multidões. Essa elegante esquadra,
de proporções até então inéditas no Oceano Pacífico, foi uma espécie de aviso
ao Japão, no entender de alguns observadores. Em 1914, a marinha de guerra
norte-americana já era a terceira maior do mundo, contrastando com o diminuto
exército.
Os
Estados Unidos, que tinham até então preferido viver em isolamento - a ponto de
seus esportes favoritos, como o beisebol e o futebol americano, terem sido
inventados lá mesmo - começaram a olhar para fora. Iniciava-se o planejamento
do Canal do Panamá, que colocaria a América do Norte no centro da rota de
comércio global. Em 1900, o país enviou tropas para o norte da China, a fim de
se juntarem a outros exércitos de diversas nações e assim restabelecer a ordem
após a Rebelião dos Boxers, de cunho antiocidental e anticristão. Cinco anos
mais tarde, em seu próprio território, a nação liderou as delicadas discussões
que puseram termo à guerra entre Rússia e Japão.
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