sexta-feira, 28 de abril de 2017

VOO NOTURNO - PARTE 1

As colinas, sob o avião , já cavavam seu rastro de sombra no crepúsculo dourado. As planícies tornavam-se iluminadas, uma luminosidade permanente. Naquele país elas não paravam de produzir o ouro, da mesma forma que, no inverno, não paravam de produzir a neve.
E o piloto Fabien, que vinha do extremo Sul em direção a Buenos Aires, reconhecia a aproximação da noite, por meio dos mesmos sinais que as águas de um porto: aquela calma, as rugas leves que mal desenhavam nuvens tranquilas. Ele entrava em um imenso e bem-vindo ancoradouro.
Em meio a uma tranquilidade tão profunda, ele podia acreditar-se fazendo uma lenta caminhada, quase como um pastor. Os pastores da Patagônia vão, sem pressa, de um rebanho para outro: ele ia de povoado a povoado, era o pastor das pequenas cidades. A cada duas horas ele encontrava uma, que vinha beber nas margens dos rios ou pastar pelas planícies.

Por vezes, após centenas de quilômetros de estepes, mais desertas que o mar, ele cruzava com uma fazenda perdida que parecia trazer de volta, em uma onda de pradarias, sua carga de vida humana e, então, com as asas, ele saudava aquele navio.


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