quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

A VIDA DE SAINT-EXUPÉRY - 7

As verdadeiras mudanças de Saint-Maurice não são aparentes. O pequeno povoado já não vive segundo o ritmo dos castelões, e o senso de solidariedade que unia os habitantes desapareceu com o êxodo rural e a chegada de habitantes das cidades, que lá adquiriram sua segunda residência. Na época da infância de Saint-Exupéry, como os meios de transporte eram raros, a visita a Ambérieu-en- Bugey, o povoado mais próximo, transformava-se em expedição. Os aldeães viviam da mesma forma há séculos, fechados sobre si mesmos. Os castelões compartilhavam com os diaristas agrícolas recordações comuns que remontavam a gerações passadas, e cada um deles assumia o papel que lhe fora atribuído por Deus. As referências de Antoine à sua infância nos parecem ainda mais pungentes porque atualmente sabemos que essa comunidade já estava condenada a desaparecer e que os privilégios de uma aristocracia confiante em sua perenidade estavam ameaçados pela Grande Guerra.
Naquela época, sua irmã Simone mantinha um diário que posteriormente utilizaria para escrever Cinco Crianças em um Parque, uma descrição da vida em Saint-Maurice. O relato era dominado por uma das personalidades mais imponentes de sua infância, a castelã condessa de Tricaud, conhecida habitualmente pelo nome de Tante (tia). A castelã, viúva havia quinze anos, tinha 67 quando Antoine foi batizado. Sua vida conjugal fora marcada pelo falecimento da filha única, que morreu com difteria aos 3 anos, deixando-lhe a única missão de reinar sobre uma complicada rede de parentes a partir do castelo e o apartamento lionês herdados do marido, um diplomata. O pivô de sua família adotiva era a mãe de Antoine, Marie, sua sobrinha-neta, e foi Gabrielle de Tricaud quem presidiu as negociações que selaram o casamento com o pai de Antoine, em 1896.
O meio aristocrático daqueles tempos oferecia mais que uma vantagem social. Representava também uma rede benévola de beneficência baseada na lealdade e na propriedade, e toda a família Saint- Exupéry foi adotada por tia Gabrielle após a morte do pai de Antoine, em 1904. Tinham de viver principalmente da renda de sua quinta de 250 hectares, que se estendiam pelos três lados do castelo. A condessa foi aceita como a autoridade incontestável de uma família dominada pelas mulheres e familiares.
Gabrielle de Tricaud tinha a dimensão de um personagem de romance. Vestida de preto, caminhando com a ajuda de uma bengala, ela podia ser ao mesmo tempo generosa e tirânica. Nascida numa época em que as moças de boa família eram ajudadas por serviçais até mesmo para escovar os cabelos, possuía uma criada, também viúva. Em dias fixos, algumas pessoas eram convidadas para partidas de dominó ou bridge, à luz dos lampiões de querosene, ou para assistir aos saraus musicais que ela oferecia em seu apartamento de Lyon quando a família lá passava o inverno.
O sacerdote de Saint-Maurice, padre Montessuy, era considerado seu confessor pessoal. Ele não tinha outra alternativa senão a de aprovar sua maneira peremptória de rezar em latim na capela do castelo, após o jantar. Também podia ser contemplado com uma homilia sobre a forma como devia proceder com os aldeães. Ela reinava com direito divino sobre a comunidade e conhecia todos seus súditos pelo nome. Gabrielle de Tricaud adorava a irmã mais velha de Antoine, Marie-Madeleine, mas não tinha tempo a perder com os meninos mais moços nem com os animais. Antoine e Fran- çois tinham o direito de estar presentes, mas não de ser ouvidos, e os numerosos animais domésticos não eram aceitos na casa, com exceção dos pássaros aprisionados de Madeleine.
Simone refere-se com grande afeição a essa tia dominadora, ressaltando-lhe originalidade que às vezes escondia um grande coração. Também admirava sua capacidade de escolher empregados tão excêntricos quanto ela. Possuía pelo menos oito, permanentemente a seu serviço em Saint-Maurice. Tratadas freqüentemente como crianças, as criadas desempenhavam o papel de intermediárias entre os irmãos e irmãs e os adultos condescendentes. Às vezes as crianças é que tinham que consolar os empregados, particularmente quando a cozinheira recebia duras reprimendas públicas de tia Gabrielle, com o pretexto de que a refeição fora servida com alguns minutos de atraso, ou considerada indigna dos convidados, cujo fluxo era inesgotável.
De todos os personagens presentes nas sombras do castelo, o mais comovente era sem dúvida o mordomo, Cyprien, um suíço de triste figura com uniforme preto. Suas propostas de casamento tinham sido recusadas pela criada da tia (Gabrielle), Noémi, e ele buscara consolo no álcool. Era tão sensível que às vezes servia a mesa com o rosto encharcado de lágrimas produzidas por sua desgraça amorosa. No entanto, foi sobre Marguerite Chapays, mais conhecida pelo nome de Moisy, ou Mademoiselle, que Antoine e Simone mais escreveram. Ela aparece “trotando como um rato” em Terra dos Homens. “Oh Deus, que infelicidade!”, diz ela, desesperada, ao examinar as roupas gastas da família. Após alguns anos, fora promovida de criada a governanta. Os quatro armários de roupa que ela passava em revista com um olhar escrutador, arrumando a disposição dos lençóis e toalhas de mesa para assegurar sua deterioração harmoniosa, eram para ela reinos secretos, como os espaços para brincadeiras que Antoine encontrava no jardim e no sótão. O conteúdo desses quatro armários aparece diversas vezes na obra literária de Saint-Exupéry. A partir de Correio Sul surgem referências às virtudes apaziguadoras dos lençóis brancos, ou evocações metafóricas das toalhas de mesa.
Moisy era a aliada dos meninos em sua luta contra os adultos incomprensivos, tendo chegado a esconder Antoine embaixo de sua cama para evitar uma surra. Era mais babá das crianças do que governanta. À noite, Antoine introduzia-se de bom grado no seu quarto para se regalar com bocados de açúcar mergulhados em aguardente. Quando os outros perceberam, ela comprou um estoque de açúcar para agradar a todos, porém sua pequena reserva de álcool foi mais de uma vez substituída pelo vinho de missa do padre Mon- tessuy. Ela era uma eterna filha do campo, com faces vermelhas como maçãs, que buscara refúgio em Saint-Maurice por meio de um emprego de criada, após a difícil experiência de trabalhar dez horas por dia numa fiação lionesa. Enquanto as tias e os tios falavam apenas de finanças, propriedade e religião, Moisy ensinava às crianças o nome das flores do campo e as levava para colher frutas para fazer geléia.
Moisy era frágil e miúda, e em pouco tempo Antoine tornou-se mais alto que ela. Ele a levantava do chão com facilidade para convencê-la a preparar seus pratos preferidos, mimando-a e balançando-a nos seus braços. Adulto, Antoine desempenharia o papel de anjo da guarda de Moisy, permitindo-lhe realizar o sonho de sua vida, a aquisição de uma pequena casa na sua aldeia natal, Drôme. Saint- Exupéry enviava-lhe dinheiro para a manutenção da casa, visitando-a sempre que possível, até sua mobilização em 1939. Eles exploravam juntos, com uma nostalgia comum, os tesouros da caixa de fotografias de Saint-Maurice que ela guardava no quarto.


Antoine de Saint-Exupéry com nove anos de idade

domingo, 25 de fevereiro de 2018

A VIDA DE SAINT-EXUPÉRY - 2

Antoine de Saint-Exupéry estava com 44 anos quando seu avião mergulhou no mar. Sua reputação como escritor era sólida, embora tivesse publicado apenas cinco obras breves, cujo texto total em fran­cês não superava 1.000 páginas. No entanto, sua celebridade em vida não pode ser comparada à sua imensa popularidade póstuma. Ele não ficaria sabendo que sua obra mais conhecida, O Pequeno Príncipe, editada um ano antes de sua morte, se tornaria uma das obras ou talvez a obra francesa mais traduzida, pelo menos para oitenta línguas. Essa fábula para crianças também figura, em com­panhia de outros dois livros seus, Voo Noturno e Terra dos Homens, na lista das dez obras francesas mais lidas do século. Todos os livros editados durante sua vida, entre eles Correio Sul e Piloto de Guerra, inspiraram-se em suas experiências como piloto na aviação civil ou durante a batalha da França. Quando La Plêiade publicou uma an­tologia de suas obras, a mesma ultrapassou em sucesso de vendas todas as coleções semelhantes de todos os autores franceses, clássicos ou contemporâneos.
O conjunto de sua obra revela uma surpreendente diversidade. Somente os dois primeiros livros de Saint-Exupéry, Correio Sul e Voo Noturno, são romances, enquanto os outros três não se classificam em qualquer categoria identificável. Seria demasiadamente simplista qualificar Terra dos Homens de relato de viagem, Piloto de Guerra de recordações de combate, ou transformar O Pequeno Príncipe num con­to para crianças. Todos contêm temas filosóficos e morais que o autor tinha a intenção de desenvolver em seu último livro, Cidadela, antologia inacabada de parábolas publicada, a partir de anotações, após sua morte.
A vida aventureira de Saint-Exupéry e suas observações éticas ou místicas ocupam lugar tão significativo em seus livros que uma das principais qualidades de sua obra, a limpidez da escrita, frequentemente é minimizada ou nem sequer é notada. Na verdade, ele era um escritor excepcional, fascinado, no plano profissional e estético, pelo uso e riqueza da língua escrita. A concisão dos seus livros, com exceção de Cidadela, reflete uma precisão de ourives na escolha das palavras, realçando sua beleza e a emoção produzida. O autor mais admirado por ele era Blaise Pascal. Em busca de uma perfeição comparável à do escritor-filósofo, Saint-Exupéry empreen­dia um árduo processo de revisão e reescrita, que reduzia em duas terças partes seus manuscritos originais.

Essa paciência de artesão na elaboração literária, comparável em sua opinião à extração de uma pedra preciosa da ganga, deveria colocá-lo no mesmo nível dos maiores escritores de uma das idades de ouro da literatura francesa. Até mesmo os críticos embaraçados pela insistência de Saint-Exupéry no dever e no sacrifício, em Voo Noturno ou Piloto de Guerra., ou irritados pelo suave idealismo de O Pequeno Príncipe, não puderam dissimular seu entusiasmo diante da mais evocadora das prosas jamais escrita em língua francesa.


Enrico Caruso o maior cantor de todos os tempos - segundo Pavarotti

Enrico Caruso (Nápoles25 de fevereiro de 1873 — Nápoles2 de agosto de 1921) foi um tenor italiano, considerado, inclusive pelo ilustre Luciano Pavarotti, o maior intérprete da música erudita de todos os tempos. Com vasto repertório, Caruso foi o primeiro cantor clássico a atrair grandes plateias em todo o mundo e ainda hoje figura entre os maiores intérpretes clássicos da história. Sua interpretação de Vesti la giubba, da ópera Pagliacci, foi a primeira gravação na história a vender 1 milhão de cópias.
Começou a carreira em 1894, aos 21 anos de idade, na cidade natal. Recebeu as primeiras aulas de canto de Guglielmo Vergine. Atuou, entre outras óperas, na estreia de Fedora e La Fanciulla del West, do compositor italiano Giacomo Puccini. As mais famosas interpretações foram como Canio na ópera I Pagliacci, de Leoncavallo e como Radamés, em Aida, de Giuseppe Verdi. Na metade da década de 1910 já era conhecido internacionalmente. Era constantemente contratado pelo Metropolitan de Nova Iorque, relação que persistiu até 1920. Caruso foi eternizado pelo agudo mais potente já conhecido, e por muitos considerado o melhor cantor de ópera de todos os tempos.
O compositor lírico Giacomo Puccini e o compositor de canções populares Paolo Tosti foram seus amigos e compuseram obras especialmente para ele.
Caruso apostou na nova tecnologia de gravação de som em discos de cera e fez as primeiras 20 gravações em Milão, em 1895. Em 1903, foi para Nova Iorque e, no mesmo ano, deu início a gravações fonográficas pela Victor Talking Machine Company, antecessora da RCA-Victor. Caruso foi um dos primeiros cantores a gravar discos em grande escala. A indústria fonográfica e o cantor tiveram uma estreita relação, que ajudou a promover comercialmente a ambos, nas duas primeiras décadas do século XX. Suas gravações foram recuperadas e, remasterizadas, encontraram o meio moderno e duradouro de divulgação de sua arte no disco compacto, CD.
O repertório de Caruso incluía cerca de sessenta óperas, a maioria delas em italiano, embora ele tenha cantado também em francês, inglês, espanhol e latim, além do dialeto napolitano, das canções populares de sua terra natal. Cantou perto de 500 canções, que variaram das tradicionais italianas até as canções populares do momento.
Sua vida foi tema de um filme norte-americano, permeado de ficção, intitulado O Grande Caruso (The Great Caruso), de 1951, com o cantor lírico Mario Lanza interpretando Caruso. Devido ao seu conteúdo altamente ficcional, o filme foi proibido na Itália.
No filme Fitzcarraldo de Werner Herzog, com Klaus Kinski no papel de Fitzcarraldo, aparece, no início da projeção, uma entrada de Caruso na Ópera de Manaus, no Brasil, onde Caruso de fato nunca se apresentou.
Os últimos dias da sua vida são narrados de forma romantizada na canção Caruso, de Lucio Dalla (1986).

'O Sole Mio

Che bella cosa na jurnata 'e sole,
N'aria serena doppo na tempesta!
Pe' ll'aria fresca pare gia' na festa...
Che bella cosa na jurnata 'e sole.

Ma n'atu sole
Cchiu' bello, oi ne'.
'O sole mio
Sta 'nfronte a te!
'O sole, 'o sole mio
Sta 'nfronte a te!
Sta 'nfronte a te!

Quanno fa notte e 'o sole
Se ne scenne,
Me vene quase 'na malincunia;
Sotto 'a fenesta toia restarria
Quanno fa notte e 'o sole
Se ne scenne.

Ma n'atu sole
Cchiu' bello, oi ne'.
'O sole mio
Sta 'nfronte a te!
'O sole, 'o sole mio
Sta 'nfronte a te!
Sta 'nfronte a te!

Ma n'atu sole
Cchiu' bello, oi ne'.
'O sole mio
Sta 'nfronte a te!
'O sole, 'o sole mio
Sta 'nfronte a te!
Sta 'nfronte a te!

TRADUÇÃO

Oh, meu sol
Que bela coisa uma jornada de sol
Um ar sereno depois da tempestade
Pelo ar fresco parece já uma festa
Que bela coisa uma jornada de sol

Mas um outro sol
Mais belo, oh garota
O meu sol
Está na sua frente
O sol, o meu sol
Está na sua frente
Está na sua frente

Apaga-se a luz e fecha-se a sua janela
A lavadeira canta e não se vai
Somente torce, lava e canta
Apaga-se a luz e fecha-se a sua janela

Mas um outro sol
Mais belo, oh garota
O meu sol
Está na sua fronte!
O sol, o meu sol
Está na sua frente
Está na sua frente

Quando desce a noite e o sol
Se põe
Me dá quase uma melancolia
Ficaria embaixo da sua janela
Quando desce a noite e o sol
Se põe

Mas um outro sol
Mais belo, oh garota
O meu sol
Está na sua fronte!
O sol, o meu sol
Está na sua frente
Está na sua frente


O poder do Czar se enfraquece e a Rússia caminha para a Revolução

O poder do Czar se enfraquece e a Rússia caminha para a Revolução
A marcha inexorável da Rússia em direção à Revolução Comunista começou em 1904. Dois fatores contribuíram para a queda do regime do Czar: a derrota inesperada na guerra contra o Japão e as decisões políticas desastradas feitas pelo czar desde o começo do século até a vitória da Revolução em 1917.
Mapa mostra principais batalhas da Guerra Russia - Japão
A Guerra entre os Impérios do Japão e da Russia ocorreu entre 1904 e 1905  no nordeste asiático, e a derrota da Rússia permitiu que o regime político do czar Nicolau II da Rússia fosse abalado por uma série de revoltas internas (em 1905), envolvendo operários, camponeses, marinheiros (como a revolta no couraçado Potemkin) e soldados do exército. Greves e protestos contra o regime absolutista do czar explodiram em diversas regiões da Rússia. Os líderes socialistas procuraram organizar os trabalhadores, nos quais se debatiam as decisões políticas a serem tomadas.
O Japão era um país de tradições militares, apesar de enfrentar severas crises econômicas. Com navios menores, mas com grande mobilidade e poder de fogo muito superior aos pesados e antigos navios russos, a Marinha japonesa impôs uma derrota humilhante ao inimigo. Esta guerra marcou o reconhecimento do Japão como potência imperialista, pelas diversas nações da Europa, enquanto a derrota russa, por sua vez, patenteou a fraqueza do regime czarista e iniciou a sua queda, concretizada na Revolução de 1917. A guerra também foi conhecida como a "primeira maior guerra do século XX".
Após a  Restauração Meiji      o Japão iniciou um programa de desenvolvimento industrial e militar para que não caísse no Imperialismo europeu na Ásia.
Em dezembro de 1897, uma frota russa ancorou em Port Arthur e três meses depois em 1898, a China arrendou Port Arthur para os russos que precisavam de uma base naval no Extremo Oriente, pois a atual base de Vladivostok ficava paralisada de novembro a março, durante o inverno, por causa do gelo, impedindo a navegação mercante e de guerra, e Port Arthur tinha águas quentes e seu porto funcionava o ano todo,  perfeito para os russos criarem a sua base naval
Bombardeio japonês a Port Arthur
O Japão continuava insatisfeito pelo avanço russo no Extremo Oriente e decidiu que somente uma guerra poderia assegurar a Coreia e ainda conquistar Port Arthur. Em 8 de fevereiro de 1904, a Marinha Imperial Japonesa lança um ataque surpresa à frota russa ancorada em Port Arthur. Três horas depois, em São Petersburgo, o Czar Nicolau II recebe a notícia do ataque japonês - ficou atordoado, pois de acordo com os seus ministros, o Japão nunca atacaria uma potência europeia que tinha quase o dobro de soldados e a sexta marinha de guerra mais poderosa do mundo. O ataque sem declaração formal de guerra foi justificado pelos japoneses, tendo em vista que a Rússia havia invadido a Finlândia em 1809.
O Exército Japonês iniciou ofensivas na Manchúria, enquanto o Exército Imperial Russo utilizou táticas defensivas para tentar atrasar o avanço japonês enquanto os reforços russos ainda estavam sendo transportados pela ferrovia Transiberiana que ainda não havia sido terminada chegando até Irkutsk perto do Lago Baikal.
Em 1 de maio de 1904, as tropas japonesas atravessaram o rio Yalu e atacaram as posições russas. Os russos acreditavam que seria uma guerra fácil e rápida com uma grande vitória russa, mas após a Batalha do Rio Yalu os japoneses derrotam os russos que recuam para Port Arthur.
Em 10 de agosto, os russos tentam furar o bloqueio de Port Arthur e ir para Vladivostok, russos e japoneses se enfrentaram e o Almirante Togo derrota os russos.
Enquanto isso o Exército Japonês iniciou vários ataques no alto das colinas fortificadas, e depois de milhares de mortes, os japoneses conseguem conquistar as colinas e sua artilharia bombardeia os navios russos. Todos os navios da Frota do Pacífico são afundados pela primeira vez por uma artilharia terrestre.  
Após a Batalha de Liaoyang, os russos recuam para Mukden desistindo de aliviar Port Arthur. O Major General Anatoly Stessel acreditou que não teria chances sem  reforços e com os navios afundados, e se rendeu em 2 de janeiro de 1905, sem se reunir com os outros militares nem avisar ao Czar. Por isso Stessel foi julgado por uma corte marcial em 1908 e condenado à morte, mas foi perdoado pouco depois.
Após a destruição da Frota do Pacífico, os russos decidiram enviar a sua Frota do Báltico sob o comando do Almirante Zinovy Rozhestvensky para enfrentar os japoneses, dentre os navios da Frota, havia os da Classe Borodino,  seus navios mais modernos, adquiridos há pouco tempo.
Ilustração da batalha de Mukden
Em 20 de fevereiro de 1905, iniciou-se a Batalha de Mukden, quando  os japoneses atacaram o flanco direito russo na cidade chinesa de Mukden.
Com uma força de quase meio milhão de soldados e ambos os lados bem entrincheirados apoiados por centenas de peças de artilharia. Após alguns dias, os japoneses pressionam os flancos, quando os russos perceberam que estavam sendo cercados decidem se retirarar.
Cerca de 90.000 russos foram perdidos em Mukden, apesar dessa grande derrota russa, a vitória japonesa só viria no final de maio de 1905, graças à marinha.
A Frota Russa do Báltico, após navegar 33 mil quilômetros, chegou ao Extremo Oriente. O Almirante Rozhestvensky decidiu passar pelo estreito de Tsushima por ser o local mais perto de Vladivostok, mas também o mais perigoso.
O Almirante Togo já sabia do percurso russo após receber mensagens de um navio mercante japonês que avistou as luzes dos dois navios-hospitais russos à noite, pois os russos preferiam seguir as regras da guerra que proibia desligar as luzes de navios-hospitais para a segurança dos navios.
Togo posicionou seus navios no estreito de Tsushima, após reparar alguns danificados, inclusive o seu navio, o Mikasa. Durante a travessia do estreito, os russos foram surpreendidos pela frota japonesa, que atacou os russos em 27 de maio. Isso a despeito de que navios russos eram maiores.
Mesmo com poder de fogo maior, possuindo canhões de diversos calibres, a frota russa estava em péssimo estado de conservação, depois de navegar milhares de quilômetros. Além disso, seus marinheiros estavam exaustos com a longa viagem até o Extremo Oriente.
Na batalha, os japoneses afundam importantes navios, como o Encouraçado Borodino que, ao ser atingido em uma de suas baterias, iniciou uma série de explosões internas, que abriram um buraco em seu casco, resultando no seu naufrágio; apenas um marinheiro sobreviveu.
Almirante Togo a bordo de seu navio capitânea, o Mikasa
O encouraçado Imperador Alexandre III também foi bombardeado, causando grave incêndio e inundações que o fizeram virar, matando todos os marinheiros. O Knyaz Suvorov foi atingido e Rozhestvensky ficou gravemente ferido.
À noite, o contra-almirante Nikolai Nebogatov assumiu o comando da frota. Os japoneses lançaram torpedos contra os russos que se dispersavam. No dia seguinte, os seis navios restantes renderam-se, sob as ordens de Nebogatov.
Com a destruição das Frotas do Pacífico e do Báltico e com o Exército Imperial Russo em retirada na Manchúria, o governo encontrou dificuldades para enviar reforços. Enquanto a economia estava arruinada, a guerra havia se tornado impopular.
Então o Czar aceitou a rendição pelo Tratado de Portsmouth. Em 5 de setembro de 1905, russos e japoneses assinaram os termos de paz. A Rússia reconheceu a soberania japonesa sobre a Coreia, teve que abandonar a Manchúria, ceder Port Arthur, a península de Liaodong e metade da ilha Sacalina para o Japão.
Consequências
O Império Russo ficou desprestigiado com a derrota e o Japão foi reconhecido como uma nova super-potência. A Rússia teve que se rearmar, gastando grande parte de seu dinheiro.
Teve que pedir dois empréstimos franceses: o primeiro, de 800 milhões de francos e o segundo, de 600 milhões de francos. Além disso, o Czar solicitou um empréstimo alemão de 500 milhões de marcos após a destruição das duas frotas, restando apenas a Frota do Mar Negro.
Os marinheiros do encouraçado Potemkin se revoltaram enquanto ocorria a Revolução Russa de 1905.
A Rússia Czarista entrou em decadência: o povo perdeu a confiança no Imperador enquanto o regime entrou em colapso completamente durante a Primeira Guerra Mundial.

Década de 20 - O Charleston


O Charleston é uma dança surgida na década de 1920 pouco depois da Primeira guerra mundial, sendo um divertimento dos cabarés, onde as mulheres dançavam e mostravam mais as pernas porque as saias eram mais curtas e tinham o cabelo à garçonne. O nome se origina da cidade de Charleston, na Carolina do Sul.
Dança vigorosa popular, caracterizada por movimentos dos braços e projeções laterais rápidas dos pés. Originalmente era dançada pelos negros do sul dos Estados Unidos e recebeu o nome da cidade de Charleston, na Carolina do Sul.
Dançavam em pistas de clubes, como o Cotton Club, ao som de uma orquestra formada exclusivamente por negros e freqüentada por uma elite branca. As mulheres agitam os vestidos curtos, de cintura baixa e muitas franjas e, ao som do charleston, balançando os longos colares de cristal ou ondulando as plumas e os leques. As mãos cruzavam e descruzavam sobre os joelhos, levemente curvados cobertos por meias de seda em tons de bege, sugerindo pernas nuas, que se encostam e se afastam, seguindo o ritmo frenético. Num outro passo, levantavam as pernas e finalizavam com os agitos das mãos no ar imitando pandeiros.
O chapéu, até então acessório obrigatório, ficou restrito ao uso diurno. O modelo mais popular era o "cloche", enterrado até os olhos, que só podia ser usado com os cabelos curtíssimos, a "la garçonne", como era chamado. A mulher sensual era aquela sem curvas, seios e quadris pequenos, que soubesse se agitar na hora da dança e executar passos mais audaciosos com seus parceiros.


"La mer" de Charles Trenet - 1943

Outro grande artista contemporâneo de Saint-Exupéry foi Charles Trenet (Narbona18 de Maio de 1913 – Créteil19 de Fevereiro de 2001)
"Quem veio ao meu show está dispensado de ir a meu enterro", disse Charles Trenet, pouco antes de morrer em sua última apresentação na sala Pleyel (Paris, abril de 2000).

Vítima de preconceito por assumir abertamente a sua homossexualidade e obrigado a provar que não era judeu na França ocupada pelos alemães, Trenet produziu uma série de hits.
Um deles - Douce France - virou hino da Resistência, durante a ocupação nazista.

Cantor, compositor, letrista de cerca de mil canções, artista plástico, poeta e escritor, revolucionou a música francesa nos anos 40 com versos inspirados e estética semelhante aos poemas de Paul Éluard e Jacques Prévert. Por sua vez, influenciou compositores e intérpretes que lhe sucederam, como Charles AznavourJacques Brel e Georges Brassens.

La Mer (O Mar, em português) é uma canção célebre composta e interpretada originalmente pelo cantor e compositor .

Trenet escreveu a letra dessa canção em um trem em 1943 enquanto viajava pela costa mediterrânea francesa voltando de Paris para Narbona. Supostamente a composicão demorou 10 minutos para ser finalizada, em papel higiênico fornecido pela SNCF (Rede Ferroviária Francesa). Leo Chauliac ajudou na composição da melodia. E foi originalmente publicado por Raoul Breton. Apenas em 1946 que Charles Trenet gravou a música. (tradução livre do verbete "La Mer (song)" da Wikipedia em inglês)

A canção possui mais de 400 versões nas mais diversas línguas. Uma das principais adaptações é a de Jack Lawrence, intitulada, na língua inglesa, de Beyond the Sea, interpretada notadamente por Bobby Darin em 1960.

La Mer já foi utilizada como trilha sonora de diversos filmes e já foi citada (e interpretada) no seriado Lost, no 12º episódio da primeira temporada, intitulado Whatever the Case May Be.

Em 2007, o filme As Férias de Mr. Bean, protagonizado por Rowan Atkinson como Mr. Bean, destaca a música em seu encerramento. Também em 2007 é utilizada na banda sonora do filme Le Scaphandre et le Papillon. No final do filme O Espião que sabia demais é executada a versão de Julio Iglesias.

Você ouve no vídeo o próprio Trenet interpretando a canção, com a tradução em português na tela.

Leia abaixo a letra em francês para acompanhar

La mer
Qu'on voit danser le long des golfes clairs
A des reflets d'argent
La mer
Des reflets changeants
Sous la pluie


La mer
Au ciel d'été confond
Ses blancs moutons
Avec les anges si purs
La mer bergère d'azur
Infinie


Voyez
Près des étangs
Ces grands roseaux mouillés
Voyez
Ces oiseaux blancs
Et ces maisons rouillées


La mer
Les a bercés
Le long des golfes clairs
Et d'une chanson d'amour
La mer
A bercé mon coeur pour la vie



CIDADELA - PARTE 1

          Amigo é aquele que não julga. Eu já te disse. É aquele que abre a porta ao mendigo, à sua muleta, à sua bengala encostada num canto e não lhe peças que dance para julgar sua dança. E se o mendigo narra a primavera sobre a estrada lá fora, o amigo é aquele que recebe nele a primavera. E, se descreve o horror da fome na aldeia donde vem, sofre com ele a fome. Pois já te disse, o amigo no homem é a parte dedicada a ti e que te abre uma porta que não abre nunca a outro. E teu amigo é confiável e tudo que ele diz é verdadeiro, e ele te ama mesmo que te odeie em uma outra casa. E o amigo no templo, aquele que, graças a Deus, eu acotovelo e encontro, é aquele que volta para mim a mesma face que a minha, iluminada pelo mesmo Deus, pois então a unidade é feita, mesmo que lá fora ele seja comerciante e eu seja comandante, ou seja jardineiro e eu seja marinheiro ao mar. Acima de nossas divisões eu o encontrei e sou seu amigo. E posso me calar ao seu lado, ou seja, não temer pelos meus jardins interiores e minhas montanhas e minhas ravinas e meus desertos, porque ele não passeará por lá suas botas. Você, meu amigo, o que recebe de mim com amor é como se fosse o embaixador de meu império interior. E o tratas bem e o faz sentar e o escutas. E estamos felizes. Alguma vez, ao receber embaixadores, acaso me viste mantê-los à distância ou despedi-los, porque lá no fundo do império deles, a mil dias de marcha do meu, as pessoas se alimentam de iguarias que não me agradam ou porque os costumes deles não são os meus? A amizade é antes de tudo a trégua e a grande circulação do espírito acima dos pormenores vulgares. E eu não censuro nada àquele que se senta na cabeceira da minha mesa.
                Pois saiba que a hospitalidade e a cortesia e a amizade são encontros do homem dentro do homem. Que iria eu fazer no templo de um deus que discutisse a altura ou a apresentação dos seus fiéis, ou na casa de um amigo que não aceitasse minhas muletas e quisesse me fazer dançar para me julgar.

                Hás de encontrar muitos juízes por esse mundo afora. Quando se trata de te moldar e te endurecer, deixa essa tarefa para teus inimigos. Eles a desempenharão bem, como a tempestade que esculpe o cedro. Teu amigo é feito para te acolher. Saiba que Deus, quando vais ao templo, ele não te julga, te recebe.


sábado, 24 de fevereiro de 2018

Jean Gabin e Saint-Exupéry



Contemporâneo de Saint-Exupéry, Jean Gabin foi um ator de teatro e cinema, às vezes também cantor. Dono de uma voz forte de barítono, transmitia um timbre de masculinidade sensível e humana.
Nasceu apenas 4 anos depois de Saint-Ex, em Paris, no dia 17 de maio de 1904. Entre 1931 e o final de sua carreira, em 1976, participou de 65 filmes como ator até sua morte por leucemia em 15 de novembro de 1976.

Gravou uma canção em 1936 “Quand on se promène au bord de l'eau” (Passeando à beira do lago) e apenas 38 anos depois, em 1974, veio a gravar de novo, um poema em forma de canção, mais declamado do que cantado, e que teve grande sucesso.
A canção “Maintenant Je Sais” (Agora eu sei) fala de um homem no outono da vida, refletindo sobre tudo que aprendeu ao longo dos anos.
Uma curiosidade sobre a gravação é que foi a segunda mais vendida no ano de 1974 no “hit-parade” da província de Quebec, Canada, cuja língua oficial é o francês.

Por serem contemporâneos, Gabin e Saint-Exupéry tinham uma admiração mútua muito sincera, e várias noites varavam a madrugada nos bairros boêmios de Paris, falando da vida, do amor, literatura, aviação, cinema.
A letra da canção você vê em francês no próprio vídeo. A tradução está logo abaixo.

Quando eu era criança, ainda pequeno,
Falava alto tentando ser homem
Eu dizia, EU SEI, EU SEI, EU SEI, EU SEI

Era começo, era primavera
Mas quando cheguei aos 18 anos
Dizia, EU SEI, não há dúvida, dessa vez EU SEI

E hoje em dia, olhando para trás
Observo esse mundo por onde tanto andei
E até agora não sei o que o faz girar !

E então aos 25 anos, eu sabia tudo: o amor, as rosas, a vida, o dinheiro
Sim, certamente o amor ! Eu havia passado por tudo!

E felizmente, como os amigos, havia consumido toda minha ração:
Na metade da vida, ainda pude aprender
E o que aprendi, cabe em três, quatro palavras:

“No dia que alguém te ama, tudo é lindo,
Não consigo dizer melhor, tudo é realmente lindo!

E ainda assim não consigo entender,
Agora que estou já no outono da vida
Por que esquecemos tantas noites de tristeza
Mas jamais uma manhã de ternura!

Toda minha juventude, quis dizer EU SEI
E no entanto quanto mais buscava menos sabia

E agora que o relógio já tocou 60 vezes
Me debruço à janela, observo e me digo baixinho

Desta vez EU SEI, EU SEI QUE NÃO SE SABE JAMAIS!

A vida, o amor, o dinheiro, os amigos e as rosas
Não se sabe jamais o ruído nem a cor dessas  coisas

É só isso que eu sei ! Mas isso, realmente EU SEI!

A VIDA DE SAINT-EXUPÉRY - 1

O ÚLTIMO VOO

Por volta do meio-dia daquele último dia de julho de 1944, a Riviera, em pleno verão, desfrutava de um céu sem nuvens que se estendia sobre um mar azul até as margens da Córsega. O sul da França aguardava o fim de uma paz enganadora; as tropas aliadas estavam prestes a atravessar o Mediterrâneo para libertar a Provença da ocupação alemã. Aquele tempo magnífico era uma espécie de bênção antes do início da batalha, um último presente para todos, exceto para um aviador solitário que regressava à Córsega após uma missão de reconhecimento ao longo do vale do Ródano. Os boletins meteorológicos afirmavam que, ao chegar à costa, o piloto podia contar com uma cobertura de nuvens capaz de evitar sua localização pelos pilotos de caça alemães. Mas, ao contrário do que tinha sido anunciado pelas previsões, o céu prestava-se perfeitamente bem para uma emboscada aérea.
           
            O aviador solitário era Antoine de Saint-Exupéry. Em mais de vinte anos de voo, sofrera diversos acidentes cujas consequências poderiam dar inesperada vantagem a algum eventual atacante. A sua corpulência, apertada por uma roupa volumosa, fazia-o sentir-se in­cômodo no espaço exíguo de uma cabine de pilotagem. Não con­seguia se virar para vigiar o aparecimento do inimigo sem que este movimento não lhe provocasse dores nos antigos ferimentos. Pela mesma razão, não lhe era possível utilizar para-quedas. O avião não dispunha de nenhuma arma e, em caso de perigo, a única opção de Saint-Exupéry seria aproveitar ao máximo as capacidades excep­cionais de velocidade e altitude de seu Lightning P-38 ou soçobrar com ele.

            Alguns minutos após o meio-dia, a silhueta característica do Lightning, com seus duplos estabilizadores, surgiu a oeste de Nice. O aparelho estava voando muito baixo, depois virou em direção ao mar e desapareceu na baía dos Anjos, entre Nice e Mônaco. Atrás dele, um caça alemão subiu após uma descida em picada e regressou à base.

            Os últimos momentos de Saint-Exupéry foram reconstituídos através de testemunhos visuais que sugerem que ele se desviou um pouco da rota de seu plano de voo e se encontrava abaixo da alti­tude segura de 6.000 metros, antes de seu avião submergir-se no mar. Esses detalhes permitem supor que ele teria podido escapar do ataque se não tivesse cedido, como se imagina, à irresistível nostal­gia, tema dos seus principais livros.

            Sua missão de reconhecimento fotográfico do vale do Ródano começara em Bastia, no norte da Córsega, às 8h45 daquela segunda- -feira 31 de julho. Ela o conduzira ao leste de Lyon, a apenas 60 quilômetros do castelo da família, em Saint-Maurice-de-Rémens, onde vivera o período mais feliz de sua juventude. Tantas vezes percorrera essa região antes da guerra, de carro, trem ou avião, que cada palmo do terreno até a costa mediterrânea lhe era familiar. Após um voo de observação semelhante, efetuado em 29 de junho, chamaram a atenção de Saint-Exupéry ter se desviado da rota depois de sobrevoar o lago de Annecy, uma região que lhe recordava a infância.

            Um pouco antes de sua queda no mar, três dos seus locais pre­diletos podem tê-lo levado a afastar-se um ou dois minutos de seu itinerário de regresso em direção a oeste, quando ele atingiu a Pro- vença, sua região preferida. Sua mãe morava em Cabris, no interior de Grasse. Ele a visitara pela última vez em dezembro de 1940, antes de um exílio nos Estados Unidos que duraria dois anos. Mais para oeste, encontrava-se o castelo de La Môle, perto de Saint-Tropez, ao qual seu pai fora transportado na tarde de sua morte, quando Antoine tinha 3 anos de idade. Entre esses dois locais situava-se a igreja de Agay, na qual se casara em 1931 com uma sul-americana, Consuelo Suncin.

            Com relação à duração do voo, o desvio não era significativo. Além do mais, graças a uma pequena mudança de direção para leste, Saint-Exupéry também poderia ver a vila na qual passara alguns dos momentos mais idílicos de sua vida com Consuelo. Isso tinha acontecido na época em que escrevera Voo Noturno, seu relato dos tempos heroicos da aviação pioneira na Argentina. Em 31 de julho de 1944, o terraço da vila, recoberto por uma parreira, teria sido o melhor local de observação dos últimos momentos da vida de Saint-Exupéry.