O poder do Czar se enfraquece e a Rússia caminha
para a Revolução
A marcha inexorável da Rússia em direção à Revolução
Comunista começou em 1904. Dois fatores contribuíram para a queda do regime do
Czar: a derrota inesperada na guerra contra o Japão e as decisões políticas
desastradas feitas pelo czar desde o começo do século até a vitória da
Revolução em 1917.
Mapa mostra principais batalhas da Guerra Russia - Japão |
A Guerra entre os Impérios do
Japão e da Russia ocorreu entre 1904 e 1905 no nordeste
asiático, e a derrota da Rússia permitiu que o regime político do czar Nicolau II da Rússia fosse abalado
por uma série de revoltas internas (em 1905), envolvendo
operários, camponeses, marinheiros (como a revolta no couraçado Potemkin) e soldados do exército.
Greves e protestos contra o regime absolutista do czar explodiram em diversas
regiões da Rússia. Os líderes socialistas procuraram
organizar os trabalhadores, nos quais se debatiam as decisões políticas a serem
tomadas.
O
Japão era um país de tradições militares, apesar de enfrentar severas crises
econômicas. Com navios menores, mas com grande mobilidade e poder de fogo muito
superior aos pesados e antigos navios russos, a Marinha japonesa impôs uma
derrota humilhante ao inimigo. Esta guerra marcou o reconhecimento do Japão
como potência imperialista, pelas diversas nações da Europa, enquanto a derrota
russa, por sua vez, patenteou a fraqueza do regime czarista e iniciou a sua
queda, concretizada na Revolução de 1917. A guerra também foi
conhecida como a "primeira maior guerra do século XX".
Após
a Restauração Meiji o Japão iniciou um programa de desenvolvimento industrial e
militar para que não caísse no Imperialismo europeu
na Ásia.
Em
dezembro de 1897, uma frota russa ancorou em Port Arthur e
três meses depois em 1898, a China arrendou Port Arthur para os russos que
precisavam de uma base naval no Extremo Oriente, pois a atual base de Vladivostok ficava
paralisada de novembro a março, durante o inverno, por causa do gelo, impedindo
a navegação mercante e de guerra, e Port Arthur tinha águas quentes e seu porto
funcionava o ano todo, perfeito para os
russos criarem a sua base naval
Bombardeio japonês a Port Arthur |
O
Japão continuava insatisfeito pelo avanço russo no Extremo Oriente e decidiu
que somente uma guerra poderia assegurar a Coreia e ainda conquistar Port
Arthur. Em 8 de fevereiro de 1904, a Marinha Imperial Japonesa lança um
ataque surpresa à frota russa ancorada em Port Arthur. Três horas depois,
em São Petersburgo, o Czar Nicolau II recebe a notícia do ataque
japonês - ficou atordoado, pois de acordo com os seus ministros, o Japão nunca
atacaria uma potência europeia que tinha quase o dobro de soldados e a sexta
marinha de guerra mais poderosa do mundo. O ataque sem declaração formal de
guerra foi justificado pelos japoneses, tendo em vista que a Rússia havia
invadido a Finlândia em 1809.
O
Exército Japonês iniciou ofensivas na Manchúria, enquanto o Exército Imperial Russo utilizou
táticas defensivas para tentar atrasar o avanço japonês enquanto os reforços
russos ainda estavam sendo transportados pela ferrovia Transiberiana que
ainda não havia sido terminada chegando até Irkutsk perto
do Lago Baikal.
Em
1 de maio de 1904, as tropas japonesas atravessaram o rio Yalu e
atacaram as posições russas. Os russos acreditavam que seria uma guerra fácil e
rápida com uma grande vitória russa, mas após a Batalha do Rio Yalu os japoneses derrotam
os russos que recuam para Port Arthur.
Em
10 de agosto, os russos tentam furar o bloqueio de Port Arthur e ir para Vladivostok,
russos e japoneses se enfrentaram e o Almirante Togo derrota os russos.
Enquanto
isso o Exército Japonês iniciou vários ataques no alto das colinas
fortificadas, e depois de milhares de mortes, os japoneses
conseguem conquistar as colinas e sua artilharia bombardeia os navios russos.
Todos os navios da Frota do Pacífico são afundados pela primeira vez por uma
artilharia terrestre.
Após
a Batalha de Liaoyang, os russos recuam
para Mukden desistindo
de aliviar Port Arthur. O Major General Anatoly
Stessel acreditou que não teria chances sem reforços e com os navios afundados, e se
rendeu em 2 de janeiro de 1905, sem se reunir com os outros militares nem
avisar ao Czar. Por isso Stessel foi julgado por uma corte marcial em 1908 e
condenado à morte, mas foi perdoado pouco depois.
Após
a destruição da Frota do Pacífico, os russos decidiram enviar a sua Frota do Báltico sob o comando do
Almirante Zinovy Rozhestvensky para enfrentar
os japoneses, dentre os navios da Frota, havia os da Classe Borodino, seus navios mais modernos, adquiridos há pouco
tempo.
Ilustração da batalha de Mukden |
Em
20 de fevereiro de 1905, iniciou-se a Batalha de
Mukden, quando os japoneses
atacaram o flanco direito russo na cidade chinesa de Mukden.
Com
uma força de quase meio milhão de soldados e ambos os lados bem entrincheirados
apoiados por centenas de peças de artilharia. Após alguns dias, os japoneses
pressionam os flancos, quando os russos perceberam que estavam sendo cercados
decidem se retirarar.
Cerca
de 90.000 russos foram perdidos em Mukden, apesar dessa grande derrota russa, a
vitória japonesa só viria no final de maio de 1905, graças à marinha.
A
Frota Russa do Báltico, após navegar 33 mil quilômetros, chegou ao Extremo
Oriente. O Almirante Rozhestvensky decidiu passar pelo estreito de Tsushima por ser o local
mais perto de Vladivostok, mas também o mais perigoso.
O
Almirante Togo já sabia do percurso russo após receber mensagens de um navio
mercante japonês que avistou as luzes dos dois navios-hospitais russos à noite,
pois os russos preferiam seguir as regras da guerra que proibia desligar as
luzes de navios-hospitais para a segurança dos navios.
Togo
posicionou seus navios no estreito de Tsushima, após reparar alguns
danificados, inclusive o seu navio, o Mikasa.
Durante a travessia do estreito, os russos foram surpreendidos pela frota
japonesa, que atacou os russos em 27 de maio. Isso a despeito de que navios
russos eram maiores.
Mesmo
com poder de fogo maior, possuindo canhões de diversos calibres, a frota russa
estava em péssimo estado de conservação, depois de navegar milhares de quilômetros.
Além disso, seus marinheiros estavam exaustos com a longa viagem até o Extremo
Oriente.
Na
batalha, os japoneses afundam importantes navios, como o Encouraçado Borodino que, ao ser
atingido em uma de suas baterias, iniciou uma série de explosões internas, que
abriram um buraco em seu casco, resultando no seu naufrágio; apenas um
marinheiro sobreviveu.
Almirante Togo a bordo de seu navio capitânea, o Mikasa |
O
encouraçado Imperador Alexandre III também foi
bombardeado, causando grave incêndio e inundações que o fizeram virar, matando
todos os marinheiros. O Knyaz Suvorov foi
atingido e Rozhestvensky ficou gravemente ferido.
À
noite, o contra-almirante Nikolai
Nebogatov assumiu o comando da frota. Os japoneses lançaram
torpedos contra os russos que se dispersavam. No dia seguinte, os seis navios
restantes renderam-se, sob as ordens de Nebogatov.
Com
a destruição das Frotas do Pacífico e do Báltico e com o Exército Imperial
Russo em retirada na Manchúria, o governo encontrou dificuldades para enviar
reforços. Enquanto a economia estava arruinada, a guerra havia se tornado
impopular.
Então
o Czar aceitou a rendição pelo Tratado de Portsmouth. Em 5 de setembro de
1905, russos e japoneses assinaram os termos de paz. A Rússia reconheceu a
soberania japonesa sobre a Coreia, teve que abandonar a Manchúria,
ceder Port Arthur, a península de Liaodong e metade
da ilha Sacalina para o Japão.
Consequências
O
Império Russo ficou desprestigiado com a derrota e o Japão foi reconhecido como
uma nova super-potência. A Rússia teve que se rearmar, gastando grande parte de
seu dinheiro.
Teve
que pedir dois empréstimos franceses: o primeiro, de 800 milhões de francos e o
segundo, de 600 milhões de francos. Além disso, o Czar solicitou um empréstimo
alemão de 500 milhões de marcos após a destruição das duas frotas, restando
apenas a Frota do Mar Negro.
Os
marinheiros do encouraçado Potemkin se revoltaram
enquanto ocorria a Revolução Russa de 1905.
A
Rússia Czarista entrou em decadência: o povo perdeu a confiança no Imperador
enquanto o regime entrou em colapso completamente durante a Primeira Guerra Mundial.
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