domingo, 25 de fevereiro de 2018

A VIDA DE SAINT-EXUPÉRY - 2

Antoine de Saint-Exupéry estava com 44 anos quando seu avião mergulhou no mar. Sua reputação como escritor era sólida, embora tivesse publicado apenas cinco obras breves, cujo texto total em fran­cês não superava 1.000 páginas. No entanto, sua celebridade em vida não pode ser comparada à sua imensa popularidade póstuma. Ele não ficaria sabendo que sua obra mais conhecida, O Pequeno Príncipe, editada um ano antes de sua morte, se tornaria uma das obras ou talvez a obra francesa mais traduzida, pelo menos para oitenta línguas. Essa fábula para crianças também figura, em com­panhia de outros dois livros seus, Voo Noturno e Terra dos Homens, na lista das dez obras francesas mais lidas do século. Todos os livros editados durante sua vida, entre eles Correio Sul e Piloto de Guerra, inspiraram-se em suas experiências como piloto na aviação civil ou durante a batalha da França. Quando La Plêiade publicou uma an­tologia de suas obras, a mesma ultrapassou em sucesso de vendas todas as coleções semelhantes de todos os autores franceses, clássicos ou contemporâneos.
O conjunto de sua obra revela uma surpreendente diversidade. Somente os dois primeiros livros de Saint-Exupéry, Correio Sul e Voo Noturno, são romances, enquanto os outros três não se classificam em qualquer categoria identificável. Seria demasiadamente simplista qualificar Terra dos Homens de relato de viagem, Piloto de Guerra de recordações de combate, ou transformar O Pequeno Príncipe num con­to para crianças. Todos contêm temas filosóficos e morais que o autor tinha a intenção de desenvolver em seu último livro, Cidadela, antologia inacabada de parábolas publicada, a partir de anotações, após sua morte.
A vida aventureira de Saint-Exupéry e suas observações éticas ou místicas ocupam lugar tão significativo em seus livros que uma das principais qualidades de sua obra, a limpidez da escrita, frequentemente é minimizada ou nem sequer é notada. Na verdade, ele era um escritor excepcional, fascinado, no plano profissional e estético, pelo uso e riqueza da língua escrita. A concisão dos seus livros, com exceção de Cidadela, reflete uma precisão de ourives na escolha das palavras, realçando sua beleza e a emoção produzida. O autor mais admirado por ele era Blaise Pascal. Em busca de uma perfeição comparável à do escritor-filósofo, Saint-Exupéry empreen­dia um árduo processo de revisão e reescrita, que reduzia em duas terças partes seus manuscritos originais.

Essa paciência de artesão na elaboração literária, comparável em sua opinião à extração de uma pedra preciosa da ganga, deveria colocá-lo no mesmo nível dos maiores escritores de uma das idades de ouro da literatura francesa. Até mesmo os críticos embaraçados pela insistência de Saint-Exupéry no dever e no sacrifício, em Voo Noturno ou Piloto de Guerra., ou irritados pelo suave idealismo de O Pequeno Príncipe, não puderam dissimular seu entusiasmo diante da mais evocadora das prosas jamais escrita em língua francesa.


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