Antoni Placid Gaudí i Cornet, em foto de 15 de março de 1878, Barcelona, Espanha, por Pau Audouard. |
Grande parte da obra de Gaudi é marcada pelas suas
grandes paixões: arquitetura, natureza e religião. Gaudi
dedicava atenção aos mais ínfimos detalhes de cada uma das suas obras,
incorporando nelas uma série de ofícios que dominava: cerâmica, vitral, ferro forjado e marcenaria.
Introduziu novas técnicas no tratamento de materiais, como o trencadís,
realizado com base em fragmentos cerâmicos.
Depois de vários anos sob influência do neogótico e
de técnicas orientais, Gaudi tornou-se parte do movimento modernista catalão,
que atingiu o seu apogeu durante o final do século XIX e início do século XX. O
conjunto da sua obra transcende o próprio movimento, culminando num estilo
orgânico único inspirado na natureza. Gaudi raramente desenhava projetos
detalhados, preferindo a criação de maquetes e
modelava os detalhes à medida que os concebia.
A obra de Gaudi é amplamente reconhecida
internacionalmente e objeto de inúmeros estudos, sendo apreciada não só por
arquitetos como pelo público em geral. A sua obra-prima, a inacabada Sagrada Família, é um dos
monumentos mais visitados de Espanha. Entre
1984 e 2005, sete das suas obras foram classificadas como Património Mundial pela UNESCO.
A devoção católica de Gaudi intensificou-se ao longo da sua vida e a sua obra é
rica no imaginário religioso, o que levou que fosse proposta a sua beatificação.
Vida e obra
Os seus primeiros trabalhos possuem claras influências
da arquitetura gótica (refletindo o revivalismo do século XIX)
e da arquitetura catalã tradicional. Nos primeiros anos de sua carreira, Gaudí
foi fortemente influenciado pelo arquiteto francês Eugene Viollet-le-Duc, responsável em seu
país por promover o retorno às formas góticas da arquitetura.
Com o tempo, entretanto, passou a adotar uma linguagem
escultórica bastante pessoal, projetando edifícios com formas fantásticas e
estruturas complexas. Algumas de suas obras-primas, mais notavelmente o Templo Expiatório da Sagrada Família possuem
um poder quase alucinatório.
Gaudí é conhecido por fazer extenso uso do arco parabólico catenário,
uma das formas mais comuns na natureza. Para tanto, possuía um método de
trabalho incomum para a época, utilizando-se de modelos tridimensionais em
escala moldados pela gravidade (Gaudí usava correntes metálicas presas pelas
extremidades: quando elas ficavam estáveis, ele copiava a forma e reproduzia-as
ao contrário, formando suas conhecidas cúpulas catenárias). Também se utilizou
da técnica catalã tradicional do trencadis, que consiste de usar
peças cerâmicas quebradas para compor superfícies.
O templo da Sagrada Família, considerada a obra-prima de Gaudí. |
Politicamente, Gaudí foi um fervoroso nacionalista
catalão (ele foi certa vez preso durante uma noite por falar em catalão numa
situação considerada ilegal pelas autoridades). Nos seus últimos anos,
devotou-se exclusivamente à religião católica e à construção da
Sagrada Família (obra nunca concluída).
Antoni Gaudí trabalhou essencialmente em Barcelona, onde
tinha estudado arquitetura. Originário de uma família não muito abastada, Gaudí
tendeu para a procura do luxo durante a juventude; no entanto na idade adulta e
no final de sua vida essa tendência desapareceu por completo. Quando jovem
aderiu ao Movimento Nacionalista da Catalunha e assumiu algumas posições
críticas à Igreja Católica, no final da sua vida essa faceta desapareceu. Gaudí
nunca se casou.
Em Barcelona a sua arquitetura assume foros de exceção,
num ambiente essencialmente funcionalista de uma cidade de desenvolvimento
industrial. Gaudí deixou-se influenciar por inúmeras tendências, não tendo
nunca dedicado a sua arquitetura a cópia de um estilo determinado. Uma das mais
fortes influências que recebeu foi a de Viollet-le-Duc através
de quem conheceu parte do seu estilo gótico inspirador. Morreu aos 73 anos,
vítima de atropelamento. Encontra-se sepultado no Templo Expiatório da Sagrada Família, Barcelona,
na Espanha.
Estilo
Uma primeira fase que se pode identificar na arquitetura
de Gaudí poderá ser chamada de “mourisca” uma vez que o arquitecto buscou
inspiração naquele tipo de construções: as formas, as cores, os materiais, tudo
aponta na mesma direção.
Outra fase importante da obra de Gaudí foi aquela que
decorreu sob o mecenato de Güell. Este rico habitante de Barcelona era o
retrato do industrial bem sucedido. A sua casa estava aberta aos artistas e
Gaudí foi também acolhido e aí contactou com a chamada “Arte Nova”, que viria a
usar mais tarde. As encomendas de Güell a Gaudí montam a cinco obras de
arquitectura.
Uma outra fase identificável na obra de Gaudí é o que se
pode classificar de período “gótico”. Gaudí utilizará os princípios deste
estilo, bem como algumas das suas formas mais típicas; no entanto o gótico em
Gaudí manifestar-se-á também em inovações ousadas, como são, por exemplo, os
seus arcos parabólicos.
Já arquitecto de créditos firmados, Gaudí buscou um
estilo próprio e se quisermos citar exemplos desse estilo a Casa Batlló e
a Casa Milá serão
certamente as que nos acudirão ao espírito. De tal forma ousadas eram essas
construções que o público de Barcelona, apesar da estima e do prestígio de
Gaudí, não deixou de as alcunhar e de as considerar quase aberrantes. A obra de
Gaudí por excelência foi, no entanto, o templo expiatório da Sagrada Família,
obra a que dedicou uma parte importante da sua vida e em que trabalhou
aturadamente nos seus últimos 12 anos de existência. Está em curso um movimento
em prol da beatificação de Gaudí pela Igreja Católica, promovido desde 1992 por uma
associação secular.
Obra
A obra de Gaudi é geralmente classificada como fazendo
parte do Modernismo catalão devido à sua vontade de
renovar sem romper com a tradição, da sua procura pela modernidade, do papel do
ornamento e do seu processo de trabalho multidisciplinar, no qual a produção
artesanal desempenha um papel fundamental. A isto, Gaudí acrescenta um gosto
pelo barroco e faz uso de inovações técnicas ao mesmo tempo que continua a
utilizar linguagem arquitetónica tradicional. Em conjunto com a inspiração na natureza,
estas características dão às suas obras um cunho pessoal e único na história da
arquitetura.
É difícil definir de forma precisa linhas de orientação
que representem fielmente a evolução do seu estilo. Embora Gaudí tenha partido
de uma perspetiva historicista para se envolver por completo
no movimento modernista que marcou a transição do século XIX para o XX na
Catalunha antes de desenvolver o seu estilo orgânico próprio, este processo não
se deu ao longo de fases bem definidas ou com limites facilmente perceptíveis.
Pelo contrário, em cada fase há uma reflexão sobre todas as fases anteriores, à
medida que gradualmente as assimila e as supera. Uma das melhores descrições da
obra de Gaudi foi feita pelo seu discípulo e biógrafo Joan Bergós que, de
acordo com critérios plásticos e estruturais, define cinco períodos:
preliminar, mudéjar-mourisco, gótico simulado, naturalista e expressionista, e
síntese orgânica.
Principais trabalhos
Cooperativa Obrera Mataronense1878-1882 Mataró |
El Capricho
1883-1885 Comillas
|
Casa Vicens 1883-1888 Barcelona |
Templo Expiatório da Sagrada Familia 1883 - 1926 Barcelona |
Pavilhões Guell 1884 - 1887 Barcelona |
Palácio Guell 1886 - 1890 Barcelona |
Colegio de las Teresianas 1888 - 1889 Barcelona |
Palacio Episcopal de Astorga 1889 - 1915 Astorga |
Casa Botines 1891 - 1894 Léon |
Bodegas Gruel 1895 - 1897 Sitges |
Casa Calvet 1898 - 1900 Barcelona |
Torre Bellesguard 1900 - 1909 Barcelona |
Parque Guell 1900 - 1914 Barcelona |
Portal Mirales 1901 Barcelona |
Casa Batló 1904 -1906 Barcelona |
Jardins Artigoas 1905 -1906 La Pobla de Lillet |
Casa Millá 1906 - 1910 Barcelona |
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