Claude-Achille Debussy (Saint-Germain-en-Laye, 22 de Agosto de 1862 — Paris, 25 de Março de 1918) foi um músico e compositor francês.
A música inovadora de Debussy agiu como um fenômeno
catalisador de diversos movimentos musicais em outros países. Na França, só se
aponta Ravel como
influenciado, mas só na juventude, não sendo propriamente discípulo. Influenciados
foram também Béla Bartók, Luís de Freitas Branco, Heitor Villa-Lobos e outros. Do Prélude à l'après-midi d'un Faune ("Prelúdio
ao entardecer de um Fauno"), com que, para Pierre Boulez,
começou a Música moderna, até Jeux ("Jogos"),
toda a arte de Debussy foi uma lição de inconformismo.
Debussy, no verão de 1893, na casa de seu amigo Ernest Chausson. |
Em 1884 recebe o Grande Prêmio de Roma de
composição. Viaja para Moscou, com Mme von Meck, protetora
de Tchaikovsky, interessando-se pela obra do
então desconhecido Mussorgsky,
que o influenciará.
Após uma estada na villa Médici, em Roma, retorna a Paris, em 1887, entrando em contato
com a vanguarda artística e literária. Frequenta
os mardis de Mallarmé (reuniões semanais realizadas às
terças-feiras, na casa do poeta simbolista Stéphane Mallarmé). No mesmo ano conhece Brahms,
em Viena. Em 1888 ouve,
em Bayreuth, Tristão e Isolda, de Wagner,
que lhe causa profunda impressão. Em Paris, na exposição de 1889, ouve música do
Oriente.
Por volta de 1887, inicia uma relação com Gabrielle
Dupont. Os dois viverão juntos durante quase dez anos - Debussy levando
uma vida boêmia.
A casa de Bichain, onde Claude Debussy passou os verões de 1902 a 1904. |
Quatro anos mais tarde, ele encontra Emma Bardac, esposa
de um banqueiro e ex-amante de Gabriel Fauré,
iniciando com ela uma nova relação sentimental. Deixa, então, Lilly, que,
abalada pela separação, tenta se matar com um tiro no peito mas sobrevive. O
caso provoca um escândalo, e Debussy é duramente criticado por sua atitude,
mesmo pelos amigos mais próximos. De todo modo, ele consegue o divórcio e
se casa com Emma em 1908. O casal terá uma filha, Claude-Emma Debussy, apelidada
de Chouchou, nascida em 30 de outubro de 1905, a quem ele dedica sua suíte para
piano Children's Corner, composta entre 1906 e 1908.
Emma Bardac, por Léon Bonnat (1903). |
A maior parte de sua obra tardia constitui-se de música de câmara, incluindo três sonatas para
violoncelo, para violino e para flauta, viola e harpa. Com o organismo solapado
pelo câncer, Debussy continuou trabalhando. A eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, roubou-lhe todo o
interesse pela música. Após um ano de silêncio, ele percebeu que tinha de
contribuir para a luta da única maneira que podia, "criando com o melhor
de minha capacidade um pouco daquela beleza que o inimigo está atacando com
tanta fúria." Uma de suas últimas cartas fala de sua "vida de espera
- a minha existência sala de espera, eu poderia chamá-la - porque sou um pobre
viajante esperando por um trem que não virá." Seu último trabalho, a
Sonata para Violino e Piano L 140, foi executado em maio de 1917, com ele ao piano.
Ele tocou essa mesma peça em setembro, em Saint-Jean-de-Luz.
Foi a última vez que tocou em público.
Debussy morreu em 25 de março de 1918, durante o
bombardeio de Paris, durante
a última ofensiva alemã da Primeira Guerra Mundial. Encontra-se sepultado
no Cemitério de Passy, em Paris. Pouco
tempo depois, em 14 de julho de 1919, também morreria sua
filha, Chouchou, de difteria. Ela foi sepultada no túmulo de seu pai, em Passy.
Obra
À exceção de algumas peças mais conhecidas, Debussy
deixou obra pouco acessível, pelo caráter inovador. Para o grande público seu
nome está ligado aos sketches sinfônicos de La mer (1905),
ao terceiro movimento da Suite
bergamasque (1809-1905), Clair de Lune, aos noturnos para
orquestra e algumas peças dos Prelúdios para piano. É o Debussy impressionista,
autor de uma música vaga 'que se ouve com a cabeça reclinada nas mãos',
segundo Cocteau.
Características de sua composição
Tais conceitos foram, depois, reformulados. Mas, por
algum tempo, Debussy foi vítima do equívoco de ser considerado autor de uma
música 'literária' e 'pictórica', por causa de suas ligações com a poesia
simbolista e com o Impressionismo nas artes plásticas. Sua inovação foi,
entretanto, de ordem musical, e é em termos musicais que a sua obra passou
depois a ser compreendida.
Impressionismo
O impressionismo de Debussy residiria
no caráter fluido e vago, de seus sutis joguinhos harmônicos, em que a melodia
parecia dissolver-se. Mas essa fluidez era a aparência, como depois se viu. A
melodia não se dissolveu propriamente, mas libertou-se dos cânones
tradicionais, das repetições e das cadências rítmicas. Debussy não seguiu
também as regras da harmonia clássica: deu uma importância excepcional aos acordes
isolados, aos timbres, às pausas, ao contraste entre os registros. Trouxe uma
nova concepção de construção musical, que se acentuou na sua última fase. Por
isso foi incompreendido. O que não lhe desagradaria, pois ele mesmo propôs,
certa vez, a criação de uma 'sociedade de esoterismo musical'.
Gêneros
A obra de Debussy é bastante diversificada, do ponto de
vista dos gêneros e das formas que utilizou. Não se pode dizer que tenha sido
compositor essencialmente vocal ou instrumental, sinfônico ou de câmara, pois
todas as suas obras, em que pese a diversidade de meios que utilizou, parecem
transmitir a mesma mensagem. A abertura de um universo sonoro inteiramente
novo, em que a sugestão ocupou o lugar da construção temática e definida. De
modo geral, sua obra pode ser dividida em música para orquestra, música de
câmara e para instrumentos solo, música para piano, canções e música coral,
obras cênicas e música incidental.
Música orquestral
A música orquestral de Debussy é a que corresponde melhor
à sua imagem de impressionista. Em 1894, o "Prelúdio à tarde de um
fauno", baseado no poema de Mallarmé, causou estranheza pela 'ausência de
melodia': Debussy lançou na verdade, a sugestão de um tema melódico, sem
desenvolvimento. Os Noturnos (1893-1899), O mar e Imagens para orquestra (1909)
pareciam confirmar a imagem do músico vago, cujas melodias não tinham contornos
definidos e cuja construção harmônica parecia desarticulada: o tom poético dos
títulos confirmaria a imagem de uma música 'literária'. Mas a poesia estava na
música, na liberdade melódica, na pesquisa dos timbres, numa nova construção
harmônica. O efeito disso era uma nova e estranha sonoridade.
Música de câmara
A música de câmara e para instrumentos solistas é uma
seção reduzida na obra de Debussy. Em 1893 compõe o Quarteto para cordas em sol
menor, obra singular cuja construção difere essencialmente do quarteto clássico
beethoveniano. Também as três sonatas do seu período final foram construídas
segundo princípios inteiramente diversos da sonata clássica vienense, mas por
outros motivos. Foram compostas no período da guerra, e Debussy, nacionalista
intransigente, rejeitou os princípios da sonata clássica vienense para
recuperar a forma cíclica da sonata francesa. As três sonatas (1915-1917),
parte de um ciclo que ficou incompleto, para instrumentos diversos, das quais a
mais importante é a Sonata para Piano e violino, são obras avançadas, com
asperezas inéditas em sua música anterior. Entre as composições para
instrumento solo destaca-se, em estilo semelhante, Syrinx, para
flauta desacompanhada.
Música para piano
A música pianística é uma seção importante na obra de
Debussy. São conhecidas sobretudo as coleções [[Suite Bergamasque](1890)],
Estampas (1903), Imagens (1905-1907), Canto das crianças (1906-1908), 24
Préludes I e II (1910) e os Estudos (12) I e II (1915). Da Suite Bergamasque
aos Estudos a evolução é marcante: os títulos poéticos desaparecem. Os títulos
técnicos dos estudos (notas repetidas, sonoridades opostas, escalas cromáticas,
etc.) apenas revelam a consciência técnica inovadora que se ocultava atrás de
títulos poéticos como Jardins sob a chuva, Sinos por entre as folhagens, A
catedral submersa, YA., em outros conjuntos (Estampas, Imagens, Préludes,
etc.).
No último período, não só a música pianística se torna
mais abstrata como também mais áspera na pesquisa de novos timbres. Finalmente,
em Seis Epígrafes Antigas e Em Branco e Negro,
ambos de 1915, Debussy retorna às fontes clássicas francesas, Couperin e
Rameau.
Música vocal
Debussy começou a sua carreira compondo música vocal,
persistindo no gênero até os últimos anos de criatividade. O acervo é grande,
incluindo a musicalização de muitos poetas. Entre as coleções mais célebres
estão os Cinco poemas de Baudelaire (1887-1889), Arietas esquecidas (1888), de
Verlaine, as Canções de Bilitis (1897), de Pierre Louys, e as Três baladas de
François Villon (1913). A técnica melódica de Debussy fundamenta-se na melodia
dos próprios versos, mas, nas baladas de Villon, nota-se a evolução para um
severo despojamento.
Ópera e balé
Em 1902, a estréia da ópera Pelléas et Mélisande, sobre texto
de Maeterlinck,
causou estranheza: era quase uma antiópera, que se pretendia anti-wagneriana na
sua extrema contenção de texto declamado. Nela Debussy voltou-se contra toda a
tradição dramática, de Berlioz a
Wagner. Anos depois, em 1911, O martírio de São Sebastião é uma obra
cênica ainda mais insólita. Da mesma época é a música para balé Jeux (1912),
obra de surpreendentes inovações e de grande complexidade harmônica.
Na astronomia
O asteroide 4492 recebeu
o nome de Debussy, em homenagem ao compositor. O nome de Debussy também foi
dado a uma cratera do planeta Mercúrio, com mais de 80 km de diâmetro. A
cratera foi formada possivelmente pela colisão de um meteoro e é caracterizada
por sulcos que, a partir dela, se estendem por vários quilômetros, o que seria
uma metáfora da influência do músico.
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