domingo, 12 de março de 2017

As Origens da Primeira Guerra - Parte 1

HMS Dreadnought. Uma corrida armamentista
naval existia entre o 
Reino Unido e o Império Alemão
.
As potências europeias estavam a ponto de entrar em guerra. Para despertar a preocupação da Alemanha, os gastos britânicos com a marinha em 1914 foram os mais altos já registrados. Na Alemanha e no Império Austro-Húngaro, as intenções russas estavam estimulando conversas sobre guerra. Em maio, o general von Moltke, chefe do Estado-Maior alemão, confidenciou ao secretário de Estado alemão, Gottlieb von Jagow, que em dois ou três anos a Rússia teria acumulado seu máximo em armamentos. O general von Moltke acreditava que a Alemanha não tinha escolha a não ser “promover uma guerra preventiva a fim de acabar com o inimigo enquanto ainda tem alguma chance de vencer”.
O coronel House, emissário do presidente Wilson, escreveu ao presidente em maio: “A situação é extraordinária. É como se fosse uma corrida enlouquecida pelo militarismo. A menos que alguém, trabalhando para você, seja capaz de trazer algum entendimento aqui, algum dia desses haverá um cataclismo horrível”. Ao chegar a Londres, o coronel House contou ao secretário das Relações Exteriores britânico, Sir Edward Grey, como em Berlim “o ar parecia carregado do choque de armas, de prontidão para o ataque”.
O Kaiser Guilherme II.
Talvez seu militarismo fosse uma forma de compensar 
o fato de que tinha um braço sem movimento, causado 
por um parto com forceps
Em 12 de junho, o kaiser foi passar o final de semana em Konopischt, próximo a Praga, para encontrar-se com o herdeiro do trono austro-húngaro, o arquiduque Franz Ferdinand. Durante a reunião, Franz Ferdinand perguntou se a Alemanha ainda estaria disposta, como o kaiser havia afirmado durante a crise na Albânia oito meses antes, a apoiar o Império Austro-Húngaro na destruição do “ninho de vespas” sérvio, a fonte dos sentimentos anti-Áustria na Bósnia-Herzegovina. O kaiser respondeu que a Áustria deveria “fazer alguma coisa” antes que a situação piorasse. Ele duvidava de que a Áustria precisasse temer uma intervenção russa em defesa da Sérvia. Segundo ele, o exército russo ainda não estava pronto para a guerra.
Uma semana depois, como inspetor-geral do exército de sua nação, Franz Ferdinand estava em Sarajevo, capital da Bósnia, uma província anexada. O ministro das Relações Exteriores sérvio tinha avisado a ele que a visita era imprudente, em razão das agitações pró-Sérvia em Sarajevo, mas o arquiduque decidiu ir adiante e levar a esposa. Em 28 de junho, enquanto estavam sendo transportados de carro pela cidade, um estudante sérvio, Gravilo Princip, atirou e matou ambos. Para o chefe do Estado-Maior do Império Austro-Húngaro, Conrad von Hötzendorf, ansioso por um motivo para atacar a Sérvia, o assassinato de Franz Ferdinand foi “uma dádiva ou um presente do deus da guerra, Marte”. Quando o kaiser ficou sabendo da notícia, observou na margem de um telegrama do seu embaixador em Viena: “Os sérvios devem ser eliminados, e isso deve ser feito logo!”. Contra o comentário do embaixador de que “apenas uma leve punição poderia ser imposta à Sérvia”, o kaiser respondeu: “Espero que não”.
A atitude alemã em relação à Áustria foi crucial. Em 4 de julho, o embaixador alemão em Viena, conde Tschirschky, contou a um alto funcionário austríaco que a Alemanha apoiaria o Império Austro-Húngaro “em todas as adversidades”. Tschirschky aconselhou os austríacos: “Quanto antes a Áustria atacar, melhor. Teria sido melhor atacar ontem que hoje, e melhor atacar hoje que amanhã”. O kaiser compartilhava da mesma opinião e disse ao embaixador austríaco na Alemanha, no dia 5 de julho, que a Áustria se arrependeria se não “fizesse uso do momento presente” que estava “todo a nosso favor”. E acrescentou: “Se a guerra entre o Império Austro-Húngaro e a Rússia se tornar inevitável”, a Alemanha ficará do lado da Áustria; a Rússia “não está, de forma alguma, preparada para a guerra”. O kaiser então partiu no iate imperial para o seu cruzeiro anual de três semanas durante o verão nas águas norueguesas.  
O Imperador da Austria Hungria, Franz Joseph,
 já era idoso quando ocorreu a crise 
que resultou na Primeira Guerra Mundial

Os líderes austro-húngaros estavam confiantes de que poderiam punir a Sérvia sem se envolver em uma guerra com outras potências europeias. No dia 7 de julho, o conde Berchtold, ministro das Relações Exteriores da Áustria, propôs um ataque armado imediato à Sérvia. O objetivo, ele e seus colegas de ministério concordaram, seria reduzir o território da Sérvia e torná-la dependente da Áustria. Um fator determinante nessa decisão foi a garantia oferecida pelo kaiser, dois dias antes, de que se a guerra se tornasse inevitável entre o Império Austro-Húngaro e a Rússia, a “Alemanha ficaria do lado da Áustria”. Essas seis palavras marcaram a morte da prudência em Viena e, dentro de um mês, a destruição da paz na Europa. 

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