HMS Dreadnought. Uma corrida armamentista naval existia entre o Reino Unido e o Império Alemão. |
As potências europeias estavam a
ponto de entrar em guerra. Para despertar a preocupação da Alemanha, os gastos
britânicos com a marinha em 1914 foram os mais altos já registrados. Na
Alemanha e no Império Austro-Húngaro, as intenções russas estavam estimulando
conversas sobre guerra. Em maio, o general von Moltke, chefe do Estado-Maior
alemão, confidenciou ao secretário de Estado alemão, Gottlieb von Jagow, que em
dois ou três anos a Rússia teria acumulado seu máximo em armamentos. O general
von Moltke acreditava que a Alemanha não tinha escolha a não ser “promover uma
guerra preventiva a fim de acabar com o inimigo enquanto ainda tem alguma
chance de vencer”.
O coronel House, emissário do
presidente Wilson, escreveu ao presidente em maio: “A situação é extraordinária.
É como se fosse uma corrida enlouquecida pelo militarismo. A menos que alguém,
trabalhando para você, seja capaz de trazer algum entendimento aqui, algum dia
desses haverá um cataclismo horrível”. Ao chegar a Londres, o coronel House
contou ao secretário das Relações Exteriores britânico, Sir Edward Grey, como
em Berlim “o ar parecia carregado do choque de armas, de prontidão para o
ataque”.
O Kaiser Guilherme II.
Talvez seu militarismo fosse uma forma de compensar
o fato de que tinha um braço sem movimento, causado
por um parto com forceps
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Em 12 de junho, o kaiser foi passar
o final de semana em Konopischt, próximo a Praga, para encontrar-se com o
herdeiro do trono austro-húngaro, o arquiduque Franz Ferdinand. Durante a
reunião, Franz Ferdinand perguntou se a Alemanha ainda estaria disposta, como o
kaiser havia afirmado durante a crise na Albânia oito meses antes, a apoiar o
Império Austro-Húngaro na destruição do “ninho de vespas” sérvio, a fonte dos
sentimentos anti-Áustria na Bósnia-Herzegovina. O kaiser respondeu que a
Áustria deveria “fazer alguma coisa” antes que a situação piorasse. Ele
duvidava de que a Áustria precisasse temer uma intervenção russa em defesa da Sérvia.
Segundo ele, o exército russo ainda não estava pronto para a guerra.
Uma semana depois, como
inspetor-geral do exército de sua nação, Franz Ferdinand estava em Sarajevo,
capital da Bósnia, uma província anexada. O ministro das Relações Exteriores
sérvio tinha avisado a ele que a visita era imprudente, em razão das agitações
pró-Sérvia em Sarajevo, mas o arquiduque decidiu ir adiante e levar a esposa.
Em 28 de junho, enquanto estavam sendo transportados de carro pela cidade, um
estudante sérvio, Gravilo Princip, atirou e matou ambos. Para o chefe do
Estado-Maior do Império Austro-Húngaro, Conrad von Hötzendorf, ansioso por um
motivo para atacar a Sérvia, o assassinato de Franz Ferdinand foi “uma dádiva
ou um presente do deus da guerra, Marte”. Quando o kaiser ficou sabendo da
notícia, observou na margem de um telegrama do seu embaixador em Viena: “Os
sérvios devem ser eliminados, e isso deve ser feito logo!”. Contra o comentário
do embaixador de que “apenas uma leve punição poderia ser imposta à Sérvia”, o
kaiser respondeu: “Espero que não”.
A atitude alemã em relação à
Áustria foi crucial. Em 4 de julho, o embaixador alemão em Viena, conde
Tschirschky, contou a um alto funcionário austríaco que a Alemanha apoiaria o
Império Austro-Húngaro “em todas as adversidades”. Tschirschky aconselhou os
austríacos: “Quanto antes a Áustria atacar, melhor. Teria sido melhor atacar
ontem que hoje, e melhor atacar hoje que amanhã”. O kaiser compartilhava da
mesma opinião e disse ao embaixador austríaco na Alemanha, no dia 5 de julho,
que a Áustria se arrependeria se não “fizesse uso do momento presente” que
estava “todo a nosso favor”. E acrescentou: “Se a guerra entre o Império
Austro-Húngaro e a Rússia se tornar inevitável”, a Alemanha ficará do lado da
Áustria; a Rússia “não está, de forma alguma, preparada para a guerra”. O
kaiser então partiu no iate imperial para o seu cruzeiro anual de três semanas
durante o verão nas águas norueguesas.
O Imperador da Austria Hungria, Franz Joseph,
já era idoso quando ocorreu a crise
que resultou na Primeira Guerra Mundial
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Os líderes austro-húngaros estavam
confiantes de que poderiam punir a Sérvia sem se envolver em uma guerra com outras
potências europeias. No dia 7 de julho, o conde Berchtold, ministro das
Relações Exteriores da Áustria, propôs um ataque armado imediato à Sérvia. O
objetivo, ele e seus colegas de ministério concordaram, seria reduzir o
território da Sérvia e torná-la dependente da Áustria. Um fator determinante
nessa decisão foi a garantia oferecida pelo kaiser, dois dias antes, de que se
a guerra se tornasse inevitável entre o Império Austro-Húngaro e a Rússia, a
“Alemanha ficaria do lado da Áustria”. Essas seis palavras marcaram a morte da prudência
em Viena e, dentro de um mês, a destruição da paz na Europa.
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