A Europa no início da Primeira Guerra Mundial |
Uma peça-chave nos
eventos que se seguiram foi o embaixador alemão, conde Tschirschky. Ele pediu
para ver Berchtold em 7 de julho e enfatizou o desejo alemão de que o Império
Austro-Húngaro atacasse a Sérvia. Tschirschky contou a Berchtold sobre um
telegrama que tinha acabado de receber de Berlim – a razão para sua visita –,
no qual o kaiser o instruía a “declarar aqui, com toda a ênfase, que em Berlim
uma ação contra a Sérvia era esperada, e que não seria compreendido na Alemanha
se permitíssemos essa oportunidade escapar sem desferir o golpe”.
Enquanto os
líderes austríacos contemplavam a ideia de uma guerra contra a Sérvia,
suscetíveis que estavam pelo encorajamento alemão, um relatório de Sarajevo
chegou até suas mãos, destacando que não havia evidências que implicassem o
governo sérvio no assassinato do arquiduque. Em tempos mais calmos, esse
relatório poderia ter feito os responsáveis políticos decidirem contra a medida
punitiva, mas calma não era uma característica dominante no estado de espírito
austríaco em relação à Sérvia e, em 14 de julho, um dia depois de saber que ela
não era culpada, o Conselho de Ministros austríaco decidiu emitir um ultimato à
Sérvia.
Em Berlim, o
secretário de Estado alemão, von Jagow, assim como o kaiser, estavam
convencidos de que a Rússia não interferiria na disputa entre o Império
Austro-Húngaro e a Sérvia, mesmo se a Sérvia rejeitasse o ultimato, e a Áustria
declarasse guerra. “Quanto mais resoluta a Áustria se mostrar”, Von Jagow
informou ao embaixador alemão em Londres no dia 18 de julho, “e quanto mais
energeticamente a apoiarmos, mais cedo a Rússia colocará fim ao seu alarido.
Para ter certeza, vão fazer um grande tumulto em São Petersburgo, mas quando
tudo tiver sido dito e feito, a Rússia ainda não estará pronta para a guerra”.
O ultimato
austríaco foi entregue em Belgrado em 23 de julho. Ao relacionar o governo de
Belgrado ao assassinato – algo que o relatório secreto de dez dias antes tinha
especificamente negado –, insistia que o governo sérvio condenasse todo tipo de
propaganda anti-Áustria e concordasse com a criação de uma comissão conjunta da
Áustria e da Sérvia para investigar o assassinato de Franz Ferdinand. Deveria
haver uma ordem militar da Sérvia condenando o envolvimento do exército sérvio
nos assassinatos e uma promessa sérvia de não criar mais conspirações sérvias
na Bósnia. A Sérvia deveria punir qualquer um que fizesse circular propaganda
contra a Áustria em escolas ou em sociedades nacionalistas sérvias. Por fim,
oficiais austríacos participariam no julgamento e punição daqueles envolvidos
no planejamento do crime.
Se um Estado
soberano seria capaz de aceitar tais exigências de outro Estado soberano, era
uma situação bastante discutível. O secretário das Relações Exteriores
britânico, Edward Grey, o chamou de “o mais formidável documento já enviado de
um Estado a outro”. Os diplomatas britânicos duvidavam de que o Reino Unido
fosse capaz de ficar fora da guerra se ela ultrapassasse as fronteiras dos
Bálcãs. “Teremos sorte”, um diplomata britânico escreveu à sua mulher duas
horas antes da expiração do ultimato austríaco, “se sairmos disso sem uma
guerra europeia que há muito tempo tememos, um desastre geral, na verdade.”
O governo sérvio
sabia que, mesmo que a Rússia entrasse na guerra contra o Império Austro-Húngaro,
a habilidade da Sérvia para resistir a um ataque devastador ao longo de suas
fronteiras expostas era limitada. Então, enviou uma resposta conciliatória ao
ultimato austríaco, concordando com todas as exigências que ele fazia. A única
restrição referia-se à exigência de que oficiais austríacos participassem no
julgamento e punição dos envolvidos no assassinato. Essa exigência, responderam
os sérvios, deveria ser submetida ao Tribunal Internacional de Haia. Se o
tribunal aceitasse sua legitimidade, a Sérvia concordaria em atendê-la.
A Sérvia tinha,
efetivamente, se rendido. No entanto, em Berlim, o governo alemão pressionou os
austríacos para atacar a Sérvia antes que maiores complicações surgissem.
“Fomos compelidos a agir imediatamente e encarar o mundo com um ‘fato
consumado’”, informou a Viena o embaixador austríaco em Berlim por telegrama no
dia 28 de julho. Quando a Áustria declarou à Alemanha que seria preciso outras
duas semanas para que a mobilização austríaca estivesse completa, os alemães
pressionaram para que a Áustria não esperasse tanto tempo. Os ânimos em Berlim
estavam predispostos à guerra, mas não intocados pelo medo. A Áustria deveria
esmagar a Sérvia antes que os russos pudessem intervir e que a Alemanha fosse
arrastada para a guerra em decorrência disso, não pelos seus interesses
nacionais, mas pela sua aliança com a Áustria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário