terça-feira, 14 de março de 2017

As Origens da Primeira Guerra - Parte 2

A Europa no início da Primeira Guerra Mundial
Uma peça-chave nos eventos que se seguiram foi o embaixador alemão, conde Tschirschky. Ele pediu para ver Berchtold em 7 de julho e enfatizou o desejo alemão de que o Império Austro-Húngaro atacasse a Sérvia. Tschirschky contou a Berchtold sobre um telegrama que tinha acabado de receber de Berlim – a razão para sua visita –, no qual o kaiser o instruía a “declarar aqui, com toda a ênfase, que em Berlim uma ação contra a Sérvia era esperada, e que não seria compreendido na Alemanha se permitíssemos essa oportunidade escapar sem desferir o golpe”.
Enquanto os líderes austríacos contemplavam a ideia de uma guerra contra a Sérvia, suscetíveis que estavam pelo encorajamento alemão, um relatório de Sarajevo chegou até suas mãos, destacando que não havia evidências que implicassem o governo sérvio no assassinato do arquiduque. Em tempos mais calmos, esse relatório poderia ter feito os responsáveis políticos decidirem contra a medida punitiva, mas calma não era uma característica dominante no estado de espírito austríaco em relação à Sérvia e, em 14 de julho, um dia depois de saber que ela não era culpada, o Conselho de Ministros austríaco decidiu emitir um ultimato à Sérvia.
Em Berlim, o secretário de Estado alemão, von Jagow, assim como o kaiser, estavam convencidos de que a Rússia não interferiria na disputa entre o Império Austro-Húngaro e a Sérvia, mesmo se a Sérvia rejeitasse o ultimato, e a Áustria declarasse guerra. “Quanto mais resoluta a Áustria se mostrar”, Von Jagow informou ao embaixador alemão em Londres no dia 18 de julho, “e quanto mais energeticamente a apoiarmos, mais cedo a Rússia colocará fim ao seu alarido. Para ter certeza, vão fazer um grande tumulto em São Petersburgo, mas quando tudo tiver sido dito e feito, a Rússia ainda não estará pronta para a guerra”.
O ultimato austríaco foi entregue em Belgrado em 23 de julho. Ao relacionar o governo de Belgrado ao assassinato – algo que o relatório secreto de dez dias antes tinha especificamente negado –, insistia que o governo sérvio condenasse todo tipo de propaganda anti-Áustria e concordasse com a criação de uma comissão conjunta da Áustria e da Sérvia para investigar o assassinato de Franz Ferdinand. Deveria haver uma ordem militar da Sérvia condenando o envolvimento do exército sérvio nos assassinatos e uma promessa sérvia de não criar mais conspirações sérvias na Bósnia. A Sérvia deveria punir qualquer um que fizesse circular propaganda contra a Áustria em escolas ou em sociedades nacionalistas sérvias. Por fim, oficiais austríacos participariam no julgamento e punição daqueles envolvidos no planejamento do crime.
Se um Estado soberano seria capaz de aceitar tais exigências de outro Estado soberano, era uma situação bastante discutível. O secretário das Relações Exteriores britânico, Edward Grey, o chamou de “o mais formidável documento já enviado de um Estado a outro”. Os diplomatas britânicos duvidavam de que o Reino Unido fosse capaz de ficar fora da guerra se ela ultrapassasse as fronteiras dos Bálcãs. “Teremos sorte”, um diplomata britânico escreveu à sua mulher duas horas antes da expiração do ultimato austríaco, “se sairmos disso sem uma guerra europeia que há muito tempo tememos, um desastre geral, na verdade.”
O governo sérvio sabia que, mesmo que a Rússia entrasse na guerra contra o Império Austro-Húngaro, a habilidade da Sérvia para resistir a um ataque devastador ao longo de suas fronteiras expostas era limitada. Então, enviou uma resposta conciliatória ao ultimato austríaco, concordando com todas as exigências que ele fazia. A única restrição referia-se à exigência de que oficiais austríacos participassem no julgamento e punição dos envolvidos no assassinato. Essa exigência, responderam os sérvios, deveria ser submetida ao Tribunal Internacional de Haia. Se o tribunal aceitasse sua legitimidade, a Sérvia concordaria em atendê-la.

A Sérvia tinha, efetivamente, se rendido. No entanto, em Berlim, o governo alemão pressionou os austríacos para atacar a Sérvia antes que maiores complicações surgissem. “Fomos compelidos a agir imediatamente e encarar o mundo com um ‘fato consumado’”, informou a Viena o embaixador austríaco em Berlim por telegrama no dia 28 de julho. Quando a Áustria declarou à Alemanha que seria preciso outras duas semanas para que a mobilização austríaca estivesse completa, os alemães pressionaram para que a Áustria não esperasse tanto tempo. Os ânimos em Berlim estavam predispostos à guerra, mas não intocados pelo medo. A Áustria deveria esmagar a Sérvia antes que os russos pudessem intervir e que a Alemanha fosse arrastada para a guerra em decorrência disso, não pelos seus interesses nacionais, mas pela sua aliança com a Áustria. 

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