Porque sem mim, que teriam eles feito do montão de pedras, a levá-las da direita para a esquerda, a não ser outro montão de pedras menos bem organizado ainda? Eu governo e escolho. E sou o único a governar. E eles podem rezar no silêncio e na sombra que devem às minhas pedras. Minhas pedras ordenadas segundo a imagem de minha alma.
Eu sou o chefe. Sou o senhor. Sou o responsável. E solicito a ajuda deles. Já compreendi que chefe não é aquele que salva os outros, mas sim aquele que lhes pede que o salvem. Porque é graças a mim, à imagem que carrego, que se funde a unidade que extraí, sozinho, dos meus carneiros, das minhas cabras, das minhas moradas, das minhas montanhas, e os vejo apaixonados por elas, como por uma jovem divindade que abrisse os braços macios ao sol e que não tivessem a princípio reconhecido. Eis que amam a casa que inventei segundo o meu desejo. E, através dela, amam a mim, o arquiteto. Como quem ama uma estátua não ama a argila, nem o tijolo, nem o bronze, mas sim a ação do escultor. E vinculo às suas casas os homens do meu povo, para que cada um deles saiba reconhecer a sua. E só a reconhecerão depois de a terem alimentado com o seu sangue. E adornado com os seus sacrifícios. Ela exigirá deles até o sangue, até seu corpo, porque será seu próprio significado. E não poderão deixar de reconhecê-la, essa estrutura divina em forma de imagem. E sentirão por ela o amor. E suas noites hão de ser calorosas. E os pais, quando seus filhos abrirem os olhos e os ouvidos, irão se ocupar primeiramente de a fazer descobrir, para que ela não venha a se afogar na confusão das coisas.
E, por ter construído a minha morada bastante ampla para dar um sentido até às estrelas, se eles se aventurarem à noite no seu limiar e levantarem a cabeça, darão graças a Deus por guiar tão bem esses navios. E, se a construí bastante duradoura para conter a vida na sua duração, eles então irão de festa em festa e de vestíbulo em vestíbulo, sabendo para onde vão, e descobrindo, através da diversidade da vida, o rosto de Deus.
Cidadela! Te construí, portanto, como um navio. Eu te preguei, te aparelhei, e depois te soltei no tempo que não é mais do que um vento favorável.
Navio dos homens, sem o qual eles perderiam a eternidade.
Conheço bem, as ameaças que pesam sobre o meu navio. Sempre atormentado pelo mar escuro do exterior. E pelas outras imagens possíveis. Porque sempre é possível derrubar o templo, e levar as pedras para um outro templo. E o outro não é nem mais verdadeiro, nem mais falso, nem mais justo, nem mais injusto. E ninguém perceberá o fracasso, porque a qualidade do silêncio não está inscrita no monte de pedras.
É por isso que quero que eles escorem solidamente as vigas mestras do navio. Para os salvar de geração em geração, pois nunca conseguirei embelezar um templo se o recomeço a cada instante.
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