domingo, 13 de novembro de 2016

Saint-Exupéry e o Brasil

A ligação de Saint-Exupéry com o Brasil é pouco conhecida, porém foi intensa e deixou marcas nos dois lados dessa relação.
Ele foi responsável pela rota na América do Sul da companhia Aéropostale, que transportava correio por via aérea.
Durante os dois anos em que viveu e trabalhou na América do Sul, Sain-Exupéry participou da implantação de nada mais do que onze escalas ao longo da costa, para que os aviões e os pilotos pudessem ser reabastecidos e recuperados.
A rota saía de Toulouse, para Dakar, e em seguida cruzava o Atlântico até Natal. Os pilotos se alternavam na cansativa e longa viagem, e depois de Natal desciam em Recife, Maceió, Salvador, Caravelas, Vitória, Rio de Janeiro, Santos, Florianópolis, Porto Alegre, e Pelotas no Brasil, para em seguida voar para Montevidéu, no Uruguai, e Mendoza na Argentina até o destino final de Buenos Aires.
Seu amigo Marcel Reine se encanta tanto com o Brasil, o Rio de Janeiro, que compra uma fazenda no distrito de Itaipava, no município de Petrópolis. A fazenda é batizada de “La Grande Vallée”, em uma homenagem à terra natal. É lá que Saint-Ex passa diversos dias relaxando na temperatura amena da Serra da Mantiqueira, junto com colegas e amigos. Atualmente o local é preservado e lá existem diversas placas lembrando a passagem do escritor famoso.
Mas é em Florianópolis que o destino fez acontecer uma relação mais estreita entre Saint-Ex e os brasileiros. Durante um vôo com destino a Florianópolis, o piloto Delaunay percebe que o motor está em chamas, e faz uma pouso forçado em uma praia próxima da cidade. Seus dois passageiros escapam ilesos, mas o piloto sofre sérias queimaduras com o incêndio a bordo. Imediatamente é internado em um hospital de Florianópolis, onde fica em recuperação por vários meses. É justamente durante esse período que seus colegas e amigos, entre eles Saint-Exupéry, alongam suas estadias, para visitar o amigo hospitalizado. A companhia possuia próximo da praia uma pista de pouso, e uma casa de pernoite para os pilotos, bem como um sistema de telegrafia que usava o código Morse.
Saint-Exupéry faz amizade com os pescadores que guardam os barcos nas proximidades, e que logo se encantam com a simpatia daquele grandalhào desengonçado e simpático, mas não conseguem pronunciar seu nome direito – entào em lugar de “Saint-Exupéry” o chamam de “Zéperri”. E a praia onde ocorriam esses encontros passa a se chamar de praia de Zéperri. A ilha em frente a essa praia é conhecida hoje como “Campéche”. Uma derivação brasileira do nome francês pelo qual era conhecida – “Champs de Pêche”, ou “Campo de Pesca”.
E assim por um acidente aeronáutico que poderia ter sido fatal, toda a equipe da Aeropostale ficou conhecendo melhor a capital de Santa Catarina, e lá deixando lembranças, locais batizados em francês, e histórias que são relatadas em um documentário fascinante, com direção geral de Branca Regina Rosa e roteiro de Delmar Gularte, a partir do argumento da pesquisadora Mônica Cristina Corrêa (PhD em Língua e Literatura Francesa pela USP). Vale a pena assistir para conhecer mais sobre o escritor e sua vida. A última citação do documentário, é justamente do livro póstumo do escritor – Cidadela.


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