Mas como só há raciocínios do tijolo, da pedra e da telha, e não da alma e do coração que os dominam e os transformam através do seu poder em silêncio, como a alma e a coração fogem às regras da lógica e às leis dos números, já que é assim, então apareço com meu arbítrio. Eu, o arquiteto. Eu, que possuo uma alma e um coração. Eu, o único que tenho o poder de mudar a pedra em silêncio. Venho e petrifico essa massa que não passa de matéria, segundo a imagem criadora que me vem só de Deus e desconhece os caminhos da lógica. Construo a minha civilização, arrebatado só pelo gosto que ela me dará, como outros constroem os seus poemas e alteram a frase e transfiguram a palavra, sem serem obrigados a justificar nem a frase nem a mudança, arrebatados só pelo gosto que terão, e que conhecem com a alma.
Porque sou o chefe. E escrevo as leis e estabeleço as festas e ordeno os sacrifícios e, dos seus carneiros, suas cabras, suas moradas, suas montanhas, extraio essa civilização semelhante ao palácio de meu pai, onde todos os passos têm um sentido.
Porque sem mim, que teriam eles feito do montão de pedras, a levá-las da direita para a esquerda, a não ser outro montão de pedras menos bem organizado ainda? Eu governo e escolho. E sou o único a governar. E eles podem rezar no silêncio e na sombra que devem às minhas pedras. Minhas pedras ordenadas segundo a imagem de minha alma.
Trecho de hoje do livro "Cidadela" de Antoine de
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