E assim eles trabalharam toda a vida para um enriquecimento sem utilidade, todos trocados pelo incorruptível bordado... Dedicaram apenas uma parte do seu trabalho à utilidade prática, e todo o resto à cinzelagem, à inútil qualidade do metal, à perfeição do desenho, à suavidade da curva, que não servem para nada senão para receber a parte trocada, que dura mais do que o corpo.
Costumo à noitinha andar com passos lentos no meio do meu povo, o abraçando com o silêncio do meu amor. Preocupado com aqueles consumidos por uma luz inútil, com o poeta cheio de amor pelos poemas, mas que nunca escreveu o seu, com a mulher apaixonada pelo amor, mas incapaz de se realizar, por não saber escolher, cheios de angústia, sabendo que os irei curar dessa angústia se lhes permitir esse bem que exige sacrifício e escolha e esquecimento do universo. Porque determinada flor é antes de tudo uma renúncia a todas as outras flores. E, no entanto, só com essa condição ela é bela. É o que acontece com o objeto da troca. E o insensato que vem censurar a essa velhinha o seu bordado, sob o pretexto de que ela poderia ter tecido outra coisa, demonstra então que prefere o nada à criação. Vou andando, e ouço se erguer a prece sobre os cheiros do acampamento, onde tudo amadurece e se forma em silêncio, lentamente, sem quase ser notado. O fruto, o bordado ou a flor, antes de realizados, começam por se banhar de tempo.
Trecho de hoje do livro "Cidadela" de Antoine de Saint-Exupéry. Junte-se a 77 apoiadores que já levantaram mais de 5.000 Reais, e contribua hoje para o financiamento da edição em papel. Consulte as condições dos prêmios no site abaixo.
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