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“Eis aí, dizia meu
pai, um grande mistério do homem. Eles perdem o essencial e não percebem que o
perderam. Como também não percebem os sedentários dos oásis, sentados em cima
das provisões. Na verdade, o que eles perderam não se vê nos bens materiais que
não mudam. E os homens contemplam sempre o mesmo conjunto de carneiros, de cabras,
de moradas e de montanhas, mas que deixaram de constituir uma propriedade...
“Se eles perdem o sentido do
império, não percebem que se endureceram e perderam sua substância e deixaram
de dar valor às coisas. As coisas conservam a sua aparência, mas de que vale um
diamante ou uma pérola, se ninguém os quer: são apenas vidro polido. E a
criança que embalas perdeu alguma coisa de si quando deixa de ser oferenda para
o império. Mas nem percebes isso, porque o sorriso é o mesmo.
“Não notam seu empobrecimento
porque os objetos continuam a ter o mesmo uso. Mas qual é o uso de um diamante?
E de que vale um enfeite, se não há uma festa? E de que vale a criança se não é
do império, se não sonhas em fazer dela um conquistador, um senhor ou um
arquiteto? Se a reduziste a um simples corpo material? ”
“Desconhecem o seio invisível
que os amamentava noite e dia, porque o império te alimenta a alma como tua
amada te alimenta de amor e transforma em ti o sentido das coisas, embora
esteja distante, repousando, ausente como se estivesse morta. Ao longe sabes
que existe uma frágil respiração que nem podes sequer perceber e o mundo para
ti é verdadeiro milagre. Assim o senhor da propriedade, no orvalho da manhã, leva
na alma, ao passear, até o sono dos empregados.
“O que é estranho é o homem
ficar desesperado quando a amada o deixa, mas se ele próprio deixa de amar ou de
venerar o império, nem sequer suspeita de seu empobrecimento. Simplesmente diz:
“Não era tão bonita como eu julgava, nem tão simpática...” e lá se vai
satisfeito, ao sabor do vento. Mas o mundo já não é um milagre para ele. E a
madrugada já não é a madrugada do regresso ou a madrugada do despertar nos
braços dela. A noite já não é o grande santuário para o amor. Ela deixou de ser,
graças àquela que ressona mansamente, esse grande manto de pastor. Tudo
desbotou. Tudo se endureceu. E o homem que ignora o desastre não chora a sua
plenitude acabada. Fica satisfeito com sua liberdade, que é a liberdade de não
existir.
“O mesmo ocorre com aquele no
qual o império morreu: A minha devoção, acha ele, era cegamente estúpida”. É
verdade, ele tem razão. Só existe em sua volta um aglomerado desordenado de
cabras, de carneiros, de casas e montanhas. O império era uma criação do seu coração.
“Mas a beleza de uma mulher, onde
é que a hospedas se não há homem que se possa emocionar com ela? E o valor do
diamante, se ninguém o deseja possuir? E o império, se já não há servidores do
império?
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