quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

E meu pai enviou um cantor a essa humanidade apodrecida

https://www.catarse.me/cidadela

E meu pai enviou um cantor a essa humanidade apodrecida. O cantor sentou-se de tardinha no meio da praça e começou a cantar. Cantou as coisas que ressoam umas sobre as outras. Cantou a princesa encantada que só é possível alcançar depois de duzentos dias de marcha na areia sem poços sob o sol. E a ausência de poços se torna sacrifício e embriaguez de amor. E a água dos odres se torna oração, porque leva à bem-amada. Dizia ele: “Eu desejava o palmeiral e a chuva fininha... mas desejava acima de tudo aquela que eu esperava me receber no seu sorriso... e não conseguia mais distinguir minha febre do meu amor...”
E eles tiveram sede da sede, e levantaram os punhos em direção de meu pai: “Desgraçado, nos privaste da sede que é embriaguez do sacrifício por amor! ”
Ele cantou esse temor que reina quando a guerra é declarada e transforma a areia em ninho de víboras. Cada duna assume um poder de vida e morte. E tiveram sede do risco da morte que anima a areia. Ele cantou o prestígio do inimigo, quando se espera de todo lado e se desloca de um extremo ao outro no horizonte, como se fosse um sol que a gente não soubesse de onde vai surgir! E tiveram sede de um inimigo que os houvesse rodeado com sua grandiosidade, como o mar.
E quando sentiram sede do amor percebido como um rosto, os punhais saltaram das bainhas. E choravam de alegria acariciando os sabres! Suas armas esquecidas, enferrujadas, desprezadas, mas que descobriram como uma virilidade perdida, porque só elas permitem ao homem criar o mundo. E foi esse o sinal da rebelião, que veio a ser bela como um incêndio!
E todos eles morreram como homens!

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