sábado, 3 de junho de 2017

A VIDA DE SAINT-EXUPÉRY - 69

A última carta

            Na manhã do dia 31 de julho de 1944 Saint-Exupéry  decolou às 8:25 da manhã do aeroporto de Poretta, na Córsega, para uma missão de reconhecimento sobre a França. Dessa missão ele não mais retornou.

            Ao longo do dia, seus colegas e amigos encontram em seu quarto duas cartas. Uma dirigida a Pierre Dalloz, arquiteto de quem era amigo desde 1939, e a outra dirigida a Hélène (Nelly) de Vogüé. Nesta carta ele mais uma vez declara seu amor por ela, sua saudade, suas tristezas com a guerra. Por determinação dele, Nelly é a guardiã de suas obras póstumas, principalmente o manuscrito de 900 páginas de “Citadelle”.

            Após sua morte, ela é a primeira pessoa a escrever uma biografia dele, com o pseudônimo de Pierre Chevrier. Mas ela manteve até o fim de sua vida uma obsessão pelo anonimato, inclusive ameaçando Curtis Cate, um de seus outros biógrafos, de processá-lo caso falasse dela no livro. Stacy Schiff, outra biografa dele, menciona Nelly, mas sempre com o pseudonimo de “Madame B.”.

           
A obsessão de Nelly pelo anonimato era tão grande 
que essa é a única foto conhecida dela com Saint-Exupéry, 
É a da esquerda, no meio está Yvonne de Lestrange
A relação entre os dois começara em 1929 quando se conheceram na casa de Louise de Vilmorin, noiva de Saint-Ex na época, de quem  ela é uma amiga. Ele mostra a Nelly as provas de seu livro Correio Sul, pedindo suas observações. Ela se sente extremamente  lisonjeada e impressionada com a atenção que lhe é dedicada pelo escritor.  

            De  origem prussiana por parte de mãe, Hélène Jaunez é filha de um industrial que tem no leste da França importantes fábricas de cerâmica que ela irá mais tarde administrar, tornando-se uma das primeiras mulheres empresárias na França. Em 1927,  se casa com Jean de Vogüé, importante nome da aristocracia francesa.

            A relação entre Nelly e Antoine se torna cada vez mais forte e intensa. Ela oferece estabilidade a Antoine, que leva uma vida aventureira e cheia de altos e baixos. Se Antoine se sente protetor em relação a Consuelo, a mãe reconfortante é Nelly. Ela usa suas relações no mundo da mídia e da política para ajudá-lo. Várias vezes chegou a cobrir suas dívidas e em uma ocasião comprou para ele um avião Simoun. As ligações dela nos altos  escalões de executivos industriais ajudam-no a sair de situações complicadas.

            Ela o encontra em Nova York em 1938, onde ele está se recuperando após o acidente na Guatemala e o leva todos os dias a um médico  osteopata.  Celebram juntos a Legião de Honra e o aniversário de trinta e sete anos de Guillaumet em 1939. Vai visitá-lo várias vezes na base aérea de Orconte onde o grupo 2/33 onde ele serve na Força Aérea está localizado.

            O irmão de Nelly tenta convencer Saint-Exupéry a se juntar ao General de Gaulle em Londres, o que ele recusa, irritado com os ataques contra o Marechal  Petain.  

            Nelly de Vogue e Antoine de Saint-Exupéry passam vários dias juntos em  Argel em 1943. Ela chegara de Gibraltar em um avião americano, espionada pelos serviços de inteligência aliados que suspeitam de sua liberdade de movimento na França ocupada. Depois, ele enviou-lhe várias cartas dizendo que lamentava suas disputas, que precisa dela e que ele a ama.  


             Ela depositou grande quantidade de documentos e cartas na  Biblioteca Nacional da França,  que estarão disponíveis apenas 50 anos após sua morte em 2003.

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