domingo, 18 de junho de 2017

O PEQUENO PRÍNCIPE - 10

  IX

            Eu acredito que em sua fuga ele se aproveitou de uma revoada migratória de pássaros selvagens...



             Na manhã da sua partida ele deixou o seu planetinha em perfeita ordem. Limpou cuidadosamente os vulcões ativos - ele tinha dois deles, que eram uma mão na roda para aquecer o seu café da manhã.

            Ele também tinha um vulcão inativo há tempos. Porém, como ele mesmo disse, “Nós nunca sabemos!"; e assim ele limpou também o seu vulcão inativo.

            Se os vulcões são bem limpos, eles queimam lentamente e se tomam bem regulares, sem erupções pelo caminho. As erupções vulcânicas são como fagulhas numa longa chaminé. Na Terra nós somos obviamente um tanto pequenos para conseguirmos limpar nossos vulcões enormes, e é por isso que eles nunca deixam de nos causar tanto transtorno.

            O pequeno príncipe também arrancou, com certo ar de abatimento, os últimos brotinhos de baobás. Ele acreditava que nunca sentiria o desejo de retomar ao seu planeta, mas naquela manhã derradeira todas essas tarefas rotineiras lhe pareceram muito preciosas. E quando ele regou a flor pela última vez, e a preparou para ser colocada sob a redoma de vidro, subitamente percebeu que estava muito perto de derramar algumas lágrimas.


             "Adeus", ele disse para a flor.

            Mas ela não respondeu.

            "Adeus", ele repetiu.

            A flor tossiu, mas não foi porque estava resfriada.

            "Eu tenho sido uma idiota", ela lhe disse, finalmente. "Eu peço que me perdoe. Tente ser feliz..."

            Ele se surpreendeu com esta ausência de censuras. Ficou ali, de pé, desnorteado, com a redoma a tira colo. Ele não compreendeu aquela doçura silenciosa.

            “É claro que eu lhe amo", disse-lhe a flor. “Foi por minha culpa que você nunca soube o quanto, mas agora isso não tem importância. Pois que você, ora, você foi tão tolo quanto eu. Tente ser feliz... Mas pode largar de lado esta redoma, eu não a quero mais."

            "Mas as correntes de ar...”

            “Não estou assim tão resfriada... A brisa fria da noitinha me fará bem. Eu sou uma flor.”

            "Mas os bichos..."

            “Bem, eu preciso suportar a presença de duas ou três larvas se

             quero me familiarizar com as borboletas. Parece que elas são muito belas. Além do mais, se não forem as borboletas, ou as larvas, quem poderia vir me visitar? Você estará longe...

            E quanto aos tigres e outros animais maiores, eu não tenho um pingo de medo deles - eu também possuo as minhas garras!"

            E, ingenuamente, ela mostrou os seus quatro espinhos. Depois, ainda acrescentou:

            “Não fique assim hesitante. Você decidiu partir, então parta!"

            Pois ela não queria que ele a visse choramingando. Era uma flor realmente orgulhosa...

           

            



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