Assim vim a descobrir, do topo da mais
alta torre da cidadela, que nem o sofrimento, nem a morte no seio de Deus, nem
o próprio luto se devem chorar. Porque se venerarmos a memória do desaparecido,
ele se encontra mais presente e tem mais poder do que o vivo. E compreendi a
angústia dos homens e lamentei os homens.
E decidi curá-los.
Tenho
compaixão somente daquele que desperta no meio da grande noite patriarcal,
convencido de estar abrigado pelas estrelas de Deus, e de repente sente a
viagem.
Proíbo que o interroguem, porque sei muito bem que não há resposta que sacie a
sede. Aquele que interroga, o que procura primeiro é o abismo.
Condeno a inquietação que leva os ladrões ao crime, depois de ter aprendido a
interpretar seus rostos e saber que não os salvo se os libero da sua miséria.
Porque se eles julgam que cobiçam o ouro de outro, estão enganados. Mas o ouro
brilha como uma estrela. Esse amor que se ignora é dirigido a uma luz que jamais
captarão. Vão de reflexo em reflexo, roubando bens inúteis, como doido que,
para se apoderar da lua, esgotasse a água negra das fontes, onde ela se
reflete. Vão e lançam ao fogo miúdo das orgias a cinza inútil que roubaram.
Depois, voltam a empreender os seus cruzeiros noturnos, pálidos como a caminho
de um encontro, imóveis com receio de assustar, imaginando que isso talvez um
dia os venha a saciar.
Se porventura o liberto, irá continuar fiel ao seu culto e meus soldados ao
revirar o mato voltarão a surpreendê-lo amanhã nos jardins de outro, com o
coração disparado, convencido de que essa noite sua sorte mudaria.
Na verdade, os cubro primeiro com o meu amor, por perceber neles mais devoção
do que nos virtuosos em suas lojas. Mas sou um construtor de cidades. Decidi
assentar aqui os alicerces da minha cidade. Fiz parar a caravana em marcha. Que
não passava de grãos dispersos no leito do vento. O vento arrasta como um
perfume a semente do cedro. Já eu resisto ao vento e enterro a semente, e os
cedros crescem para glória de Deus.
É preciso que o amor encontre o seu objeto. Salvo apenas aquele que ama aquilo
que é e que pode ser saciado.
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