É também por isso que
encerro a mulher no casamento e mando lapidar a esposa adúltera. E na verdade
compreendo muito bem a sua sede e a importância da presença que reivindica.
Consigo entender, ela apoiada no parapeito do terraço, quando a noite permite
milagres, cercada por todos os lados pelo mar alto do horizonte, e entregue,
como a um carrasco solitário, ao suplício de ser terna.
Eu a sinto
toda palpitante, lançada ali como uma truta sobre a areia, e que espera, como a
plenitude da vaga marinha, o manto azul do cavaleiro. Todo o seu apelo o deixa
cair na noite. Há de surgir alguém disposto a satisfazê-la. Mas em vão ela
passará de manto em manto, porque não existe homem que a satisfaça. A praia,
para se refrescar, chama pelas vagas do mar e as vagas se sucedem eternamente.
Gastam-se umas atrás das outras. Não adianta ratificar a mudança de esposos:
Quem ama acima de tudo a proximidade do amor, jamais conhecerá o encontro...
Só estou
disposto a salvar aquela que aceita se arrumar em volta do pátio interior, tal
como o cedro se edifica em volta de sua semente, e encontra em seus próprios
limites seu desenvolvimento. Estou disposto a salvar aquela que, em vez de amar
a primavera, ama a ordem desta ou daquela flor em que a primavera se encerrou.
Que não ama o amor, mas sim este ou aquele rosto particular que contraiu o
amor.
É por isso
que essa esposa dispersa na tarde a expurgo ou a congrego. Disponho à sua
volta, como outras tantas fronteiras, o fogareiro, a cafeteira e a bandeja de
cobre, para que pouco a pouco, através deste conjunto, ela venha a descobrir um
rosto conhecido, familiar, um sorriso que só pode ser daqui. E isto significará
para ela a aparição lenta de Deus. A criança então gritará para mamar, a lã a
tecer constituirá uma tentação para os dedos, e a brasa exigirá a sua parte de
sopro. Então ela será capturada e pronta para servir. Porque sou aquele que
constrói a urna em volta do perfume, para que ele permaneça. Sou o tempo que
amadurece o fruto. Sou aquele que constrange a mulher a assumir feições e a
existir, para que mais tarde eu possa remeter em seu nome a Deus, não este leve
suspiro disperso no vento, mas uma certa devoção, determinada ternura, tal
sofrimento particular...
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