SAINT-EXUPÉRY E O BRASIL
Durante os anos em que morou na América
do Sul, em Buenos Aires, Saint-Exupéry voava regularmente entre diversos pontos
do Brasil. Sua passagem ficou registrada principalmente em Florianópolis, em
Santa Catarina, e Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro.
No dia 7 de maio de 1928 o piloto
Henri Delaunay faz uma aterrissagem forçada em Florianópolis com 2 passageiros
e o avião fica em chamas. Delaunay é hospitalizado na cidade, e sua estadia
dura dez meses de internação, devido às graves queimaduras. Durante esse
período, os pilotos da Aéropostale sempre fazem uma escala em Floripa para visitar
o amigo e colega. Saint-Exupéry é um desses amigos, e pernoita na casa próximo
à praia que a empresa comprou. Como sempre afável, sai para conversar com os
pescadores, que por não conseguirem pronunciar seu nome em francês, o chamam de
“Zéperri”. Próximo dali, a ilha de Campeche deve seu nome aos franceses
pilotos, que a chamavam de “Champ-de-Péche” (Campo de Pesca).
Essa história está bem narrada no
documentário “Zéperri” que você assiste aqui. Vale a pena, pois conta muito
mais do que a passagem de Saint-Ex pelo Brasil. O episódio sobre o Brasil pode
ser visto a partir de 21 minutos do documentário, caso você queira ir direto a
ele – mas vale a pena ver tudo.
Sua passagem por Petrópolis é
narrada de forma agradável em matéria do jornal O Globo de 04/04/2014 que
reproduzimos abaixo.
PETRÓPOLIS - De repente, o francês
Antoine de Saint-Exupéry - piloto e futuro autor de “O Pequeno Príncipe” -
entra pela porta da sala, acompanhado de seu melhor amigo, Henri Guillaumet.
Marcel Reine, dono da bela casa, no número 102 da Estrada do Ribeirão Grande,
em Itaipava, recebe-os com euforia e já planeja os passeios que farão nos
próximos dias ao lado dos conterrâneos Jean Mermoz e Paul Vachet. Cenas bem
parecidas com esta devem ter ocorrido entre os anos de 1928 e 1932, período em
que os cinco pilotos da então companhia francesa de correio aéreo Aéropostale
frequentaram Petrópolis.
Eles participaram da grande
empreitada do industrial Pierre Georges Latécoère, que, ainda em 1918, decidiu
transformar os aviões utilizados na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) em
aparelhos que levariam o correio da França para a África e a América do Sul. O primeiro
voo teste para o Brasil ocorreu sete anos depois, a bordo de um Breguet, que
percorria 150 quilômetros por hora.
- A aviação comercial estava
começando aí. Os Breguets eram como calhambeques voadores! - brinca a
presidente da Associação Memória Aéropostale no Brasil (Amab), Mônica Cristina
Corrêa. - Mesmo assim, foi uma imensa revolução. Até 1920, levava dois meses
para uma carta ir de Paris a Buenos Aires. Com a Aéropostale, isso passou a
ocorrer em apenas oito dias. Era como um e-mail para a época.
Foram montadas 11 escalas no Brasil,
incluindo a do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Quando tinham algum tempo
até a viagem seguinte, os cinco pilotos subiam a Serra para fugir das altas
temperaturas cariocas. Para a casa de Reine, chegaram a levar até algumas
moças, que tinham entrada proibida nas bases aéreas.
Hoje, o imóvel pertence a José
Augusto Wanderley, que o mantém quase como um santuário de “O Pequeno
Príncipe”, com livros e objetos que fazem referência ao autor, a seus amigos e
à obra - lançada apenas em 1943, inspirada nas aventuras vividas por eles. Em 9
de maio, Wanderley espera reunir mais documentos e fotos do antigo morador da
casa, pois, nessa data, receberá uma visita de membros do Raide Latécoère 2014,
que virão ao Brasil refazendo as escalas da Aéropostale. Um dia antes, eles
passarão também pelos lugares comprovadamente visitados pelos aviadores na
cidade do Rio. O Raide, que significa uma incursão ou um voo de longo percurso,
passará também por Pelotas, no Rio Grande do Sul; por Florianópolis, em Santa
Catarina; Santos, em São Paulo; e Natal, no Rio Grande do Norte. Todos esses
lugares funcionaram, há mais de 80 anos, como postos da companhia aérea
francesa.
Até nos mais delicados detalhes,
José Augusto Wanderley cuida para que essa memória não se perca. Pelo menos,
não em Itaipava.
- Eu coloquei imagens e frases do
livro de Saint-Exupéry até nos interruptores da casa. De alguma forma, gosto de
preservar a história do lugar - diz Wanderley.
E no que depender da família de
Marcel Reine, que mora na França, a relação entre a casa brasileira e seu
antigo dono se perpetuará. O sobrinho de piloto até já fez um busto do tio para
enviar à casa de Itaipava.
O pai de Wanderley comprou o imóvel
de Reine pouco antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando a
Aéropostale já tinha se agregado a outras quatro empresas, formando a Air
France.
O objetivo da Amab, presidida por
Mônica, é, junto com o Raide, recensear os vestígios da passagem dos aviões da
Aéropostale pelo Brasil e pedir o tombamento material pela Unesco. A intenção é
colocar construções como a casa de Petrópolis na rota turística e histórica.
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