quarta-feira, 31 de maio de 2017

A VIDA DE SAINT-EXUPÉRY – 36



SAINT-EXUPÉRY E O BRASIL

            Durante os anos em que morou na América do Sul, em Buenos Aires, Saint-Exupéry voava regularmente entre diversos pontos do Brasil. Sua passagem ficou registrada principalmente em Florianópolis, em Santa Catarina, e Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro.

            No dia 7 de maio de 1928 o piloto Henri Delaunay faz uma aterrissagem forçada em Florianópolis com 2 passageiros e o avião fica em chamas. Delaunay é hospitalizado na cidade, e sua estadia dura dez meses de internação, devido às graves queimaduras. Durante esse período, os pilotos da Aéropostale sempre fazem uma escala em Floripa para visitar o amigo e colega. Saint-Exupéry é um desses amigos, e pernoita na casa próximo à praia que a empresa comprou. Como sempre afável, sai para conversar com os pescadores, que por não conseguirem pronunciar seu nome em francês, o chamam de “Zéperri”. Próximo dali, a ilha de Campeche deve seu nome aos franceses pilotos, que a chamavam de “Champ-de-Péche” (Campo de Pesca).

            Essa história está bem narrada no documentário “Zéperri” que você assiste aqui. Vale a pena, pois conta muito mais do que a passagem de Saint-Ex pelo Brasil. O episódio sobre o Brasil pode ser visto a partir de 21 minutos do documentário, caso você queira ir direto a ele – mas vale a pena ver tudo.

            Sua passagem por Petrópolis é narrada de forma agradável em matéria do jornal O Globo de 04/04/2014 que reproduzimos abaixo.

            PETRÓPOLIS - De repente, o francês Antoine de Saint-Exupéry - piloto e futuro autor de “O Pequeno Príncipe” - entra pela porta da sala, acompanhado de seu melhor amigo, Henri Guillaumet. Marcel Reine, dono da bela casa, no número 102 da Estrada do Ribeirão Grande, em Itaipava, recebe-os com euforia e já planeja os passeios que farão nos próximos dias ao lado dos conterrâneos Jean Mermoz e Paul Vachet. Cenas bem parecidas com esta devem ter ocorrido entre os anos de 1928 e 1932, período em que os cinco pilotos da então companhia francesa de correio aéreo Aéropostale frequentaram Petrópolis.

            Eles participaram da grande empreitada do industrial Pierre Georges Latécoère, que, ainda em 1918, decidiu transformar os aviões utilizados na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) em aparelhos que levariam o correio da França para a África e a América do Sul. O primeiro voo teste para o Brasil ocorreu sete anos depois, a bordo de um Breguet, que percorria 150 quilômetros por hora.

A imagem é de uma aterrissagem de um dos aviões da Aéropostale na Praia Grande, em Santos. 

            - A aviação comercial estava começando aí. Os Breguets eram como calhambeques voadores! - brinca a presidente da Associação Memória Aéropostale no Brasil (Amab), Mônica Cristina Corrêa. - Mesmo assim, foi uma imensa revolução. Até 1920, levava dois meses para uma carta ir de Paris a Buenos Aires. Com a Aéropostale, isso passou a ocorrer em apenas oito dias. Era como um e-mail para a época.

            Foram montadas 11 escalas no Brasil, incluindo a do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Quando tinham algum tempo até a viagem seguinte, os cinco pilotos subiam a Serra para fugir das altas temperaturas cariocas. Para a casa de Reine, chegaram a levar até algumas moças, que tinham entrada proibida nas bases aéreas.

            Hoje, o imóvel pertence a José Augusto Wanderley, que o mantém quase como um santuário de “O Pequeno Príncipe”, com livros e objetos que fazem referência ao autor, a seus amigos e à obra - lançada apenas em 1943, inspirada nas aventuras vividas por eles. Em 9 de maio, Wanderley espera reunir mais documentos e fotos do antigo morador da casa, pois, nessa data, receberá uma visita de membros do Raide Latécoère 2014, que virão ao Brasil refazendo as escalas da Aéropostale. Um dia antes, eles passarão também pelos lugares comprovadamente visitados pelos aviadores na cidade do Rio. O Raide, que significa uma incursão ou um voo de longo percurso, passará também por Pelotas, no Rio Grande do Sul; por Florianópolis, em Santa Catarina; Santos, em São Paulo; e Natal, no Rio Grande do Norte. Todos esses lugares funcionaram, há mais de 80 anos, como postos da companhia aérea francesa.

            Até nos mais delicados detalhes, José Augusto Wanderley cuida para que essa memória não se perca. Pelo menos, não em Itaipava.

            - Eu coloquei imagens e frases do livro de Saint-Exupéry até nos interruptores da casa. De alguma forma, gosto de preservar a história do lugar - diz Wanderley.

            E no que depender da família de Marcel Reine, que mora na França, a relação entre a casa brasileira e seu antigo dono se perpetuará. O sobrinho de piloto até já fez um busto do tio para enviar à casa de Itaipava.

            O pai de Wanderley comprou o imóvel de Reine pouco antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando a Aéropostale já tinha se agregado a outras quatro empresas, formando a Air France.


            O objetivo da Amab, presidida por Mônica, é, junto com o Raide, recensear os vestígios da passagem dos aviões da Aéropostale pelo Brasil e pedir o tombamento material pela Unesco. A intenção é colocar construções como a casa de Petrópolis na rota turística e histórica.

Em Itaipava, um dos hobbys dos amigos pilotos e seus convidados era fazer longas cavalgadas pela grande 
propriedade de Marcel Reine. 
E, como a cidade ainda era pouco povoada no final da década de 1920, 
eles podiam andar pelos morros sem preocupação. 

No imóvel de Itaipava, comprado pelo piloto Marcel Reine, os amigos se reuniam para descansar quando 
passavam pela escala do Rio.
Na foto, o sedutor Jean Mermoz está de pé, com cigarro na boca e camisa listrada.
Ele é até hoje considerado o maior aviador que já passou pela companhia francesa Aéropostale, empresa 
que inaugurou o correio aéreo; e um dos mais competentes do mundo.
Foi o primeiro a atravessar o Atlântico e o primeiro a fazer voos noturnos. 
Na imagem, também pode-se ver algumas moças.
Eles as levavam para Itaipava porque elas não podiam entrar nas bases




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