sábado, 6 de maio de 2017

PILOTO DE GUERRA - PARTE 2

Um bedel (é um bedel?) abre a porta para convocar dois camaradas. Eles largam suas réguas, compassos e saem. Nós os seguimos com o olhar. O colégio acabou para eles. Vão soltá-los na vida. Sua ciência será aplicada. Eles vão, como homens, testar em seus adversários os resultados de seus cálculos. Estranho colégio, de onde partimos um de cada vez. E sem grandes despedidas. Esses dois camaradas nem mesmo nos olharam. Porém, os acasos da vida talvez os levem — ou não — mais longe do que à China. Bem mais longe. Quando a vida, depois do colégio, dispersa os homens, eles podem jurar que irão se rever?
Curvamos a cabeça, nós que vivemos ainda na paz quente da incubadora…
— Escuta, Dutertre, esta noite…
Mas a mesma porta se abre de novo. E ouço, como um veredicto:
— O capitão de Saint-Exupéry e o tenente Dutertre, na sala do comandante.
Acabou o colégio. É a vida.
— Você sabia que era a nossa vez?
— Pénicot voou esta manhã.
Sem dúvida, partiremos em missão, pois estão nos convocando. Estamos no fim de maio, em plena retirada, em pleno desastre. Sacrificam-se tripulações como se jogassem copos d’água no incêndio de uma floresta. Como calcular os riscos quando tudo desmorona? Somos ainda, para toda a França, cinquenta tripulações de Grande Reconhecimento. Cinquenta tripulações de três homens, das quais vinte e três estão conosco, no Grupo 2/ 33. Em três semanas, perdemos dezessete tripulações dessas vinte e três. Derretemos como cera. Disse ontem ao tenente Gavoille:
— A gente vai ver isso depois da guerra.
E o tenente Gavoille me respondeu:
— Meu caro Capitão, você também não tem a pretensão de estar vivo depois da guerra?
Gavoille não estava brincando. Nós bem sabemos que nada podemos fazer além de nos atirar no braseiro, mesmo que num gesto inútil. Somos cinquenta, para toda a França. Sobre nossos ombros deposita-se toda a estratégia do Exército francês. Há uma imensa floresta queimando, e alguns copos d’água a sacrificar para apagá-la: vão sacrificá-los.
Está certo. Quem sonha em reclamar?
Por acaso já se ouviu responder outra coisa, no nosso país, senão: “Positivo, Comandante. Obrigado, Comandante”? Mas há uma impressão que domina todas as outras nesse fim de guerra. É a do absurdo. Tudo rui à nossa volta. Tudo desaba. E é tão total que a própria morte parece absurda. Falta seriedade à morte nessa bagunça…


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