Um
bedel (é um bedel?) abre a porta para convocar dois camaradas. Eles largam suas
réguas, compassos e saem. Nós os seguimos com o olhar. O colégio acabou para
eles. Vão soltá-los na vida. Sua ciência será aplicada. Eles vão, como homens,
testar em seus adversários os resultados de seus cálculos. Estranho colégio, de
onde partimos um de cada vez. E sem grandes despedidas. Esses dois camaradas
nem mesmo nos olharam. Porém, os acasos da vida talvez os levem — ou não — mais
longe do que à China. Bem mais longe. Quando a vida, depois do colégio,
dispersa os homens, eles podem jurar que irão se rever?
Curvamos
a cabeça, nós que vivemos ainda na paz quente da incubadora…
—
Escuta, Dutertre, esta noite…
Mas
a mesma porta se abre de novo. E ouço, como um veredicto:
—
O capitão de Saint-Exupéry e o tenente Dutertre, na sala do comandante.
Acabou
o colégio. É a vida.
—
Você sabia que era a nossa vez?
—
Pénicot voou esta manhã.
Sem
dúvida, partiremos em missão, pois estão nos convocando. Estamos no fim de
maio, em plena retirada, em pleno desastre. Sacrificam-se tripulações como se
jogassem copos d’água no incêndio de uma floresta. Como calcular os riscos
quando tudo desmorona? Somos ainda, para toda a França, cinquenta tripulações
de Grande Reconhecimento. Cinquenta tripulações de três homens, das quais vinte
e três estão conosco, no Grupo 2/ 33. Em três semanas, perdemos dezessete
tripulações dessas vinte e três. Derretemos como cera. Disse ontem ao tenente
Gavoille:
—
A gente vai ver isso depois da guerra.
E
o tenente Gavoille me respondeu:
—
Meu caro Capitão, você também não tem a pretensão de estar vivo depois da
guerra?
Gavoille
não estava brincando. Nós bem sabemos que nada podemos fazer além de nos atirar
no braseiro, mesmo que num gesto inútil. Somos cinquenta, para toda a França.
Sobre nossos ombros deposita-se toda a estratégia do Exército francês. Há uma
imensa floresta queimando, e alguns copos d’água a sacrificar para apagá-la:
vão sacrificá-los.
Está
certo. Quem sonha em reclamar?
Por
acaso já se ouviu responder outra coisa, no nosso país, senão: “Positivo,
Comandante. Obrigado, Comandante”? Mas há uma impressão que domina todas as
outras nesse fim de guerra. É a do absurdo. Tudo rui à nossa volta. Tudo
desaba. E é tão total que a própria morte parece absurda. Falta seriedade à morte nessa bagunça…
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