sábado, 13 de maio de 2017

O PEQUENO PRÍNCIPE - PARTE 4

Levou um bom tempo para que eu pudesse compreender de onde ele veio. O pequeno príncipe, que me perguntou tantas coisas, nunca dava atenção às perguntas que eu fazia a ele. Foi sobretudo através de algumas de suas palavras ditas ao acaso que, pouco a pouco, o seu mistério me foi revelado.
            Por exemplo, da primeira vez em que ele viu meu avião (eu não irei desenhá-lo; isto seria muito complicado para mim), ele me perguntou:  
           
            “O que é este objeto?”  
           
            “Isto não é um objeto. Ele voa, é um avião; o meu avião.”  
           
            E fiquei orgulhoso de poder ensiná-lo que eu podia voar... Mas foi aí que ele exclamou:  
           
            “O quê?! Você caiu do alto do céu?”  
           
            “Sim” – respondi, com certa modéstia.  
           
            “Ora, isso é engraçado!”  
           
            E o pequeno príncipe descambou numa doce gargalhada, que me irritou bastante. Eu gosto que levem as minhas desgraças a sério...
            E daí ele complementou:  
           
            “Então você também veio do céu! Qual é o seu planeta natal?”  
           
            Naquele momento eu percebi um cintilar de luz no impenetrável mistério da sua presença; e eu exigi, abruptamente, uma explicação:  
           
            “Você vem de outro planeta?”  
           
            Mas ele não me respondeu, apenas balançou suavemente a cabeça, sem tirar os olhos do meu avião:  
           
            “É verdade que em cima disso você não pode ter vindo de tão longe assim...”  
           
            E então ele mergulhou num devaneio de pensamentos que durou um bom bocado. Logo após, retirou o meu carneiro do bolso e ficou contemplando o desenho, como se fosse o seu tesouro.
            Você pode imaginar como a minha curiosidade aumentou após aquela meia confissão sobre “outros planetas”. Eu procurei me dedicar, portanto, a descobrir ainda mais sobre o tema:  
           
            “Meu pequenino, de onde você veio? Onde é este ‘onde eu moro’ de que fala? Para onde exatamente deseja levar o seu carneiro?”  
           
            Após algum tempo de reflexão em silêncio, ele disse assim:  
           
            “O bom desta caixa que você me deu é que durante a noite o carneiro pode utiliza-la como a sua casa.”  
           
            “Claro. E se você for bonzinho eu ainda lhe darei uma corda e uma estaca, para que possa amarrá-lo durante o dia.”  
           
            Mas o pequeno príncipe pareceu chocado com a minha oferta:  
           
            “Amarrá-lo?! Mas que ideia estranha!”  
           
            “Mas se você não amarrá-lo, ele pode ir pastar muito distante e acabar se perdendo...”  
           
            Meu amigo deu outra doce gargalhada:  
           
            “Mas onde você pensa que ele poderia ir?”  
           
            “Para qualquer lugar, ora, bastaria seguir numa linha reta e para longe da sua casa.”  
           
            Então disse o pequeno príncipe, um tanto sério:  
           
            “Mas isto não importa. Onde eu moro, tudo é tão pequeno!”  
           
            E, talvez com um pouquinho de tristeza, complementou:  
           
            “Seguindo em linha reta, ninguém poderia ir muito longe...”
           

           


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