domingo, 7 de maio de 2017

O PEQUENO PRÍNCIPE - PARTE 3

Quando um mistério é tão avassalador, a gente não ousa desobedecer. Por mais absurdo que possa parecer, mesmo estando a milhares de quilômetros de qualquer habitação humana e com minha própria vida em risco, eu retirei do meu bolso uma folha de papel e a minha caneta-tinteiro. Porém, antes de desenhar, me lembrei de como os meus estudos haviam se concentrado em geografia, história, aritmética e gramática, e disse ao pequenino (um pouco mau humorado, aliás) que eu não sabia desenhar. Mas ele me respondeu:   “Isso não importa. Me desenhe um carneiro...”   Mas eu nunca havia desenhado um carneiro, então desenhei para ele um dos dois únicos desenhos que eu sabia fazer, o da jiboia aberta, e fiquei muito surpreso com o que o pequenino me disse ao vê-lo:   “Não, não, não! Eu não quero um elefante dentro de uma jiboia. Uma jiboia é uma criatura muito perigosa, e um elefante é muito pesado e espaçoso... Onde eu moro, tudo é muito pequeno. O que preciso é de um carneiro, me desenhe um carneiro.”   Então eu fiz este desenho.


Ele o observou cuidadosamente, e daí me respondeu:   “Não, este carneiro já está muito doente, me faça outro.”   Então eu fiz outro desenho.



Meu amigo sorriu gentilmente e me disse:   “Você não vê que isto não é um carneiro? Isto é um bode, ele tem chifres!”   Então tive de refazer meu desenho novamente...



Mas ele foi rejeitado como os demais:   “Este é muito velho. Eu quero um carneiro que ainda terá uma longa vida pela frente.”   Nessa hora a minha paciência já estava exaurida, porque eu precisava iniciar o conserto do motor o quanto antes. Então eu rabisquei com pressa este outro desenho, e arrisquei uma explicação para ele:   “Esta é somente a caixa, o carneiro que você me pediu está dentro dela.”


Eu fiquei um tanto surpreso em ver a face do meu pequenino crítico de arte se iluminar:   “Era exatamente isso que eu queria! Você acha que será preciso muito capim para alimentar este carneiro?”   “Por quê?”   “Porque onde eu moro tudo é muito pequeno...”   “Ora, certamente haverá capim o suficiente para ele, este carneiro que lhe dei também é muito pequeno.”   Ele inclinou os olhos sobre o desenho e disse:   “Não é tão pequeno assim... Olha! Ele dormiu...”   E foi assim que eu conheci o pequeno príncipe.

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