Camille Claudel, nome artístico de Camille Athanaïse Cécile Cerveaux Prosper (Fère-en-Tardenois, 8 de dezembro de 1864 — Montdevergues, 19 de outubro de 1943) foi uma escultora e artista gráfica francesa. Faleceu na obscuridade, mas sua obra ganhou reconhecimento por sua originalidade décadas após sua morte.. Era irmã mais velha do poeta e diplomata Paul Claudel.
Camille Claudel nasceu no norte da França, em Fère-en-Tardenois, filha de uma família de
fazendeiros.
Seu pai, Louis Prosper, trabalhava com transações bancárias e hipotecas,
enquanto sua mãe, Louise Athanaïse Cécile Cerveaux, vinda da província de Champagne, descendia de uma família de
fazendeiros e padres católicos. A família se mudou para a região de Villeneuve-sur-Fère quando Camille era
ainda um bebê. Seu irmão mais novo, Paul Claudel, nasceu em 1868. Mudaram-se novamente
nos anos seguintes:Bar-le-Duc (1870), Nogent-sur-Seine (1876)
e Wassy-sur-Blaise (1879),
porém ainda passando os verões na residência de Villeneuve-sur-Fère,
cuja paisagem marcou profundamente as crianças. A família se mudaria mais uma
vez, em 1881, para Montparnasse, com seu pai ficando para trás
para ganhar o sustento dos filhos.
Fascinada por pedra e terra quando criança, já moça Camille estudou na Académie Colarossi, um dos poucos lugares abertos a estudantes mulheres com o escultor Alfred Boucher. Na época, a famosa École des Beaux-Arts barrava a matrícula de mulheres. Em 1882, Camille alugou um estúdio com outras mulheres, a maioria inglesa, incluindo Jessie Lipscomb. Alfred Boucher tornou-se seu mentor e lhe concedeu a inspiração e encorajamento que recaiu sobre toda uma geração de novos escultores. Camille esculpiria um busto de seu mentor em gratidão. Antes de mudar-se para Florença, depois de ter lecionado para Camille e as colegas por mais de três anos, Alfred perguntou a Auguste Rodin se ele não gostaria de assumir a instrução de suas alunas. Foi assim que o tumultuado e controverso relacionamento de Rodin com Camille começou, ela então com 19 anos.
Envolvimento com Rodin
Por volta de 1884, Camille começa seus estudos na oficina
de Rodin. Ela se torna sua inspiração, sua modelo, confidente e amante. Camille
nunca morou junto de Rodin que relutava em terminar seu relacionamento
com Rose Beuret. O conhecimento
de seu caso com o escultor desagradou a família, em especial sua mãe, que a
rejeitava por não ter nascido menino (e tendo nascido após a morte de primeiro
bebê) e nunca concordou com seu envolvimento com as artes.
Como resultado, Camille deixou a residência da família e após sofrer um aborto
em 1892, terminou o relacionamento íntimo que tinha com Rodin, apesar de
continuar a vê-lo com frequência até 1898.
De 1903 em diante, Camille começa a exibir seus trabalhos
no Salão de Paris, ou no Salon
d'Automne. É muito comum que as pessoas associem a reputação de
Camille devido à sua associação com Rodin. Camille é considerada pelos críticos
de arte e escritores como um gênio da escultura, uma revolta contra os padrões
estabelecidos para as mulheres. Seus trabalhos iniciais podem demonstrar
influência de Rodin, mas mostram seu conhecido lirismo e farta imaginação, em
especial na famosa Bronze Waltz (1893).
Influências
Auguste Rodin, Retrato de Camille Claudel com um boné, 1886 |
Shakuntala é
descrita como a expressão do desejo de Camille de alcançar o sagrado, fruto de
sua longa busca pela identidade artística, livre dos mandos de Rodin. Camille
teria percebido após algum tempo de envolvimento com o escultor que ele a
explorava e que ela nunca seria obediente como Rodin queria, reconhecendo em
seguida como a sociedade explorava as mulheres. A escultura Shakuntala seria
uma expressão de sua solitária existência, de uma busca pessoal.
Devido ao machismo e preconceito pelo fato de ser mulher,
Camille não conseguia financiar muitas de suas ideias e por vezes dependeu de
Rodin para realizar algumas delas em colaboração ou deixando-o levar o crédito
pela obra.
Ela também era dependente financeiramente da família e depois da morte de seu
amado pai, que tanto a auxiliou, sua mãe e seu irmão tomaram o controle das
finanças, deixando-a na miséria, usando roupas esfarrapadas e vivendo de
favores.
Camille Claudel em sua oficina (anterior a 1930) |
Quando Rodin viu a escultura The Age of Maturity pela
primeira vez em 1899, sua reação foi de choque e fúria. Imediatamente ele
cessou seu suporte a Camille e pressionou o ministro de belas artes que
cancelasse pagamentos para obras em bronze. Muitos criticaram a postura de
Rodin de não dar a Camille o respeito o reconhecimento que ela merecia.
Alguns historiadores argumentam que Rodin teria tentado ajudar Camille do jeito
que pode após a separação, mas que o mundo da arte negligenciava o talento nato
de Camille, o que a levou ao esgotamento e à destruição de seu ateliê. Esculpir
era uma arte cara e Camille recebia poucas encomendas devido ao seu estilo
pouco comum para o gosto da época, o que a endividou.
Camille era odiada pela família. Seu irmão e sua mãe
conspiraram para mantê-la sem dinheiro e depois para mantê-la no hospital
psiquiátrico, onde viveu por 30 anos até sua morte. Teorias sugerem que seu
irmão invejava o sucesso e o talento da irmã, tendo afirmado que ele era o
único gênio da família.
Sua irmã mais nova, Louise, desejava o acervo da irmã e comemorou o declínio de
Camille.
É de concordância entre os críticos de arte que Camille era um gênio
incompreendido, com uma arte suprema e infinitamente bela, forte e brilhante,
que porém nunca recebeu o devido reconhecimento em vida .
Camille Claudel, Sakountala, escultura em mármore, 1905, Museu Rodin, Paris. |
Menos conhecido do que seu tumultuado relacionamento com
Rodin, Camille teria se envolvido com Claude
Debussy, que teria procurado Camille, mas permanece incerto se eles
se tornaram amantes.
Ambos admiravam Degas e Hokusai,
como também temas relativos à morte e à infância.
Debussy a admirava e a considerava uma grande artista, tendo mantido uma cópia
da escultura The Waltz em seu estúdio até sua morte. Por volta dos 30 anos,
Camille deixou de se envolver romântica e sexualmente.
Doença
Após 1905, Camille pareceu desenvolver algum transtorno
mental. Ela destruiu muitas de suas estátuas, desaparecia por longos
períodos de tempo e exibia sinais de paranoia,
tendo sido diagnosticada com esquizofrenia.
Ela acusava Rodin de roubar suas ideias e de armas um complô para assassiná-la.
Após o casamento de seu irmão em 1906 e seu retorno para a China, Camille viveu
reclusa dentro de seu estúdio.
Confinamento
Seu pai aprovava seu estilo de vida e sua escolha
profissional e a manteve financeiramente até sua morte em 2 de março de 1913,
fato que não foi informado a Camille. Dias depois, em 10 de março, seu irmão a
internou em um hospital psiquiátrico de Ville-Évrard, em Neuilly-sur-Marne.
No formulário diz que a internação foi "voluntária", mas ele foi
assinado apenas pelo irmão de Camille e pelo médico responsável.
Há registros que mostram que, embora ela tenha tido surtos, ela estava bem
lúcida enquanto trabalhava em sua arte. Os médicos tentaram convencer a família
que ela não precisava estar em um hospital psiquiátrico, mas ainda assim eles a
mantiveram lá.
The Age of Maturity (entre 1898 e 1913) |
Em 1914, os pacientes foram transferidos para Enghien,
para se protegerem do avanço de tropas alemãs. Em 7 de setembro de 1914,
Camille foi transferida, junto de várias mulheres, para o Asilo de
Montdevergues, em Montfavet, seis quilômetros de Avignon.
O certificado de admissão foi assinado em 22 de setembro de 1914, reportando
que ela sofria de "delírios sistemáticos e persistentes de perseguição
baseado em falsas interpretações e imaginação".
A mídia, por um tempo, acusou a família de encarcerar um gênio da escultura.
Sua mãe proibiu Camille de receber cartas de qualquer pessoa, a não ser seu
irmão. O hospital propôs novamente que Camille não tinha porque ser mantida
encarcerada, mas a família se recusava a lhe dar a dispensa.
Em 1º de junho de 1920, o médico Dr. Brunet mandou uma carta à mãe de Camille
para que tentasse reintegrar a filha ao convívio familiar, mas nunca recebeu
resposta.
Seu irmão Paul Claudel a visitou apenas setes vezes em 30
anos: 1913, 1920, 1925, 1927, 1933, 1936, 1943. Sempre se referia às visitas
como tensas. Sua irmã Louise a visitou apenas uma vez, em 1929. Sua mãe, porém,
nunca a visitou.
Em 1929, sua amiga Jessie Lipscomb a
visitou e insistiu que Camille não era insana, nem louca, nem precisava de
internação. O amigo de Rodin, Mathias Morhardt, insistia em dizer que Paul
queria calar o talento da irmã.
Ele declarou:
“
|
Paul Claudel é um simplório. Quando alguém tem uma irmã que é um
gênio, você não a abandona. Mas ele sempre pensou que era ele o gênio da
família.
|
”
|
Camille Claudel faleceu em 19 de outubro de 1943, após viver 30 anos
no hospício de Montfavet (hoje conhecido como Asilo de Montdevergues, um
moderno centro hospitalar e psiquiátrico). Em setembro de 1943, Paul foi
informado sobre a doença terminal de sua irmã, tendo dificuldades de atravessar
a França ocupada,
durante a Segunda Guerra Mundial, mas não estava
presente nem na sua morte nem em seu funeral.
Sua mãe faleceu em 20 de junho de 1929 e sua irmã também não foi a Montfavet. O
corpo de Camille foi enterrado no cemitério da instituição em uma vala comum.
Segundo o livro Camille Claudel, A Life:
“
|
Dez anos após sua morte, os ossos de Camille foram transferidos para
uma vala comum, onde foi misturado com os ossos de pessoas mais pobres. Presa
ao solo de onde ela tentou fugir por tanto tempo, Camille nunca mais retornou
à sua amada Villeneuve. A negligência de Paul com o túmulo de sua irmã é
imperdoável... Enquanto Paul decidiu não se sobrecarregar com os preparativos
para o túmulo da irmã, ele fez grandes planos para seu local final de
descanso, dando um local exato - em Brangues, sob uma árvore, ao lado de seu
neto, e citando cada palavra que estaria na lápide. Hoje, seus fãs prestam
homenagens à sua memória em seu túmulo nobre; mas de Camille não há traço
sequer. Em Villeneuve, uma placa simples lembra aos visitantes curiosos que
Camille Claudel ali viveu, mas seus restos ainda estão no exílio, em algum
lugar, alguns passos de distância do lugar que a sequestrou trinta anos antes.
|
”
|
Apesar de ter destruído parte de seu acervo, cerca de 90
estátuas de Camille sobreviveram.
A força e a grandiosidade de seu talento estavam na
verdade em um lugar muito incômodo: entre a figura legendária de Rodin e a de
seu irmão que se tornou um dos maiores expoentes da literatura de sua geração.
E não é difícil ler que as questões de gênero permeiam esse lugar menor
dedicado a Camille.
Seu gênio sufocado por dois gigantes, sua vida sufocada
por um abandono, suas forças e sua lucidez esgotadas por uma relação umbilical
com seu mestre e amante.
Uma relação da qual não conseguiu desvencilhar-se, consumindo sua vitalidade na
vã tentativa de desembaraçar-se desse destino perverso. Camille Claudel, sua
forte personalidade, sua intransigência, seu gênio criativo que ultrapassou a
compreensão de sua época, como afirma o personagem de Eugène Blot no filme,
permanecerá ainda e sempre um Sumo Mistério. Ela tinha uma inteligência e um
talento fora do comum e poucas pessoas da época entendiam seu grande dom para
ser uma verdadeira artista.
Cultura Popular
Paul Claudel em 1927 |
Filmes
O filme Camille Claudel (França, 1988 -
California Filmes) relata a vida da escultora. Conta com a direção de Bruno
Nuytten e a participação de Isabelle
Adjani como Camille e Gérard Depardieu como Rodin.
Em Camille
Claudel, 1915 (2013), dirigido por Bruno Dumont, Juliette
Binoche interpreta Camille em 1915, já internada.
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