Georges Simenon (1963) |
Comissário Jules Maigret ou simplesmente Comissário Maigret (Commissaire Maigret) é um personagem
de ficção de novelas policiais,
o mais popular dentre os personagens criados pelo escritor belga de lingua francesa Georges Simenon.
Georges Simenon (Liège, 13 de
fevereiro de 1903 — Lausanne, 4 de setembro de 1989) foi um romancista de
uma fecundidade extraordinária: escreveu 192 romances,
158 novelas,
alem de obras autobiográficas e numerosos artigos e reportagens sob seu nome e
mais 176 romances, dezenas de novelas, contos e artigos sob 27 pseudônimos diferentes.
As
tiragens acumuladas de seus livros atingem mais de 500 milhões de exemplares. É
o autor belga, e o quarto autor de língua francesa mais traduzido em todo o
mundo.
As cifras
superlativas construíram o estereótipo de um autor hiperprodutivo, capaz de
produzir romances em uma semana. A popularidade do comissário Maigret — seu
personagem mais famoso — e as diversas adaptações para o audiovisual
contribuíram para reforçar a imagem de um autor de livros para consumo rápido.
Nada mais equivocado. Simenon figura entre os grandes escritores do século
XX. Entre seus milhares de admiradores ilustres, André Gide, Charles Chaplin,
Henry Miller, William Faulkner e Federico Fellini eram os primeiros da fila.
Além das muitas histórias policiais, produziu 41 “romances duros”, obras em
geral maiores no tamanho e na ambição, construídas fora dos esquadros das
tramas de investigação e não raro incluídas no cânone da literatura europeia.
Simenon reinventou a literatura de mistério. Antes dele, o que definia os
romances do gênero era a busca pelo assassino. O escritor deixava uma série de
pistas ao longo do livro e cabia ao leitor, ao fim, juntar as peças para tentar
adivinhar a identidade do criminoso.
Depois de Maigret, o cenário mudou. Simenon fez da identidade do matador
uma questão menor em relação ao que realmente importava para ele: as motivações
do crime. Seus assassinos não são apenas vilões, mas personagens complexos, de
grande densidade psicológica, para quem o crime é por vezes a única saída. A
pergunta não era mais “quem matou”, mas “por quê”?
Maigret, nesse sentido, é uma mistura de policial, detetive e psicólogo,
sempre disposto a decifrar as mínimas nuances da personalidade de seus
investigados.
Simenon
nasceu na rua Leopold, em Liège, primeiro filho de Desire Simenon, empregado em
um escritório de seguros e Henriette. Em 1905 a família mudou para a rua
Pasteur, hoje chamada Rua Georges Simenon. A família é originaria do ‘’Limburgo
belga’’, uma região de terras baixas próximo a Meuse, um corredor de
passagem entre a Flandres, a Valônia e
os Países Baixos.
Georges
começou a aprendeu a ler aos três anos na escola Sainte-Julienne. A partir de
1908, começa o primário no Instituto Santo André, onde foi pelos seis anos
seguintes um dos três melhores alunos. Nesta época sua mãe começa a alugar
quartos para estudantes ou estagiários de várias origens, o que foi para o
menino uma extraordinária abertura para o mundo. A partir de 1914, vai estudar
com os jesuítas no
Colégio São Luís. No ano seguinte, com doze anos, teve sua primeira experiência
sexual, com uma menina de quinze, que seria o contraponto à castidade pregada
pelos padres, como revelou em uma autobiografia. Passa então ao colégio
Saint-Servais, onde completa o colegial e se desilude com as classes sociais
por causa do convívio com colegas mais abastados. Em 1918, a pretexto dos
problemas cardíacos do pai, decide parar com os estudos, sem fazer nem os
exames finais, arrumando pequenos empregos sem qualificação como aprendiz de
confeiteiro. Em janeiro de 1919, em conflito aberto com sua mãe, começa como
repórter no jornal "La Gazette de Liége",
período extraordinário para o jovem de dezesseis anos, que escreve mais de 150
artigos com o pseudônimo de "G. Sim.". Se interessa particularmente
pelos inquéritos policiais, e assiste conferencias sobre policia cientifica
feitos pelo criminalista francês Edmund Locard. Nesse ano
redige ainda seu primeiro romance, "Au pont dês Arches", publicado em
1921 com seu nome de jornalista. A partir de 1919, publica também o primeiro de
cerca de 800 esquetes (sketches) humorísticos, sob o nome de Monsieur Le
Coq . Nessa época aprofunda seu conhecimento do meio boêmio, das prostitutas,
dos bêbados, anarquistas, artistas e mesmo futuros assassinos. Freqüenta também
um grupo de artistas chamados "La Caque", onde encontrara uma
estudante de Belas-Artes, Regine Renchon, com quem se casa em 1923.
Com
a morte de seu pai, parte para se instalar em Paris com Regine,
descobrindo a grande capital que aprende a amar com suas desordens, seus
delírios. Parte para a descoberta de seus bistrôs (pequenos
bares e restaurantes), brasseries e restaurantes, encontrando
suas personagens na população parisiense, artesãos, serviçais, pobres das ruas.
Começa a escrever com diversos pseudônimos e sua criatividade lhe assegura um
rápido sucesso financeiro. Em 1928 faz uma longa viagem de barco, para suas
reportagens, descobrindo a água e a navegação, que aparecem sempre em sua obra.
Decide em 1929 fazer uma viagem pela França,
explorando os canais em um barco que mandou construir, o ‘’Ostrogoth’’, no qual
viverá ate 1931.
Em
1930, numa série de novelas escritas para ‘’Detective’’, coleção encomendada
por Joseph Kessel, aparece pela primeira vez o personagem ‘’Comissário Maigret’’. Em 1932 parte para uma
série de viagens e reportagens na África,
na Europa, Rússia e Turquia.
Depois de um longo cruzeiro pelo Mediterrâneo,
embarca para uma volta ao mundo entre 1934 e 1935. Nas suas escalas, produz
reportagens, encontra numerosos personagens e faz muitas fotos. Não se furta
também de descobrir o prazer com mulheres de todas as latitudes.
Na
obra de Simenon, trinta e quatro romances ou novelas se passam em La Rochelle,
que descobriu em 1927 passando suas férias na ilha de Aix, seguindo sua paixão
por Josephine Baker. Naquele ano descobriu também
uma paixão por navegação e por La Rochelle, onde no ‘’Café de la Paix’’, que
aparece em obras suas e se tornaria seu quartel general, pediu uma garrafa de
Champagne ao ouvir a declaração de guerra alemã em 1939; ante ao espanto dos
presentes, disse: "ao menos não será bebida pelos alemães". Passa a
morar lá, onde nasce seu filho Marc, em 1939.
Durante
toda a guerra entre 1940 a 1945, continua vivendo em sua vila de Vendée, mas
este período é mal conhecido e sujeito a múltiplas versões. Algumas pessoas
acham que durante esse período crucial em sua vida e sua obra, o escritor se
tornou um colaborador dos alemães, enquanto outros acham que foi somente
oportunista ao aceitar escrever em jornais controlados pelos invasores. Mas com
certeza Simenon nunca denunciou ninguém nem nunca se engajou. Algumas denuncias
de conterrâneos foram atribuídas ao seu estilo opulento de vida, quando as pessoas
sofriam com racionamentos e cupons de alimentação, de outro lado a Gestapo o
investigou por achar seu nome parecido com antropônimos israelitas.
Desse período com certeza sobraram seus escritos, vinte romances, onde o que se
sobressai é a região de Vendée, descrita como uma região luminosa,
impressionista, onde o mar reencontra a terra. A visão ambígua que Simenon
tinha da região e da burguesia local ofuscava seus habitantes. Agradecidos mas
relutantes, homenagearam o autor em 1989 dando seu nome ao cais da cidade.
Também trocou uma longa correspondência com André Gide nessa
época.
Em
1945, após o termino da guerra, vai viver no estado de Connecticut,
nos Estados Unidos da América, percorrendo nos
dez anos seguintes todo esse continente, para saciar sua curiosidade e seu
apetite de viver. Durante esses anos americanos, visita sempre Nova Iorque, Flórida, Arizona e
a Califórnia e toda a costa Leste, milha a milha, os
motéis, as estradas e as paisagens grandiosas. Vai descobrir ainda outra faceta
do trabalho policial e da Justiça. Vai conhecer ainda sua segunda esposa, a
canadense Denise Quimet, 17 anos mais jovem, com a qual vai viver uma paixão
intensa de sexo, ciúmes, disputas e álcool.
Em
1952 é nomeado para a academia belga. Volta definitivamente para a Europa em
1955, onde após um movimentado período na Côte d'Azur freqüentando
o ‘’jet-set’’, se instala em Epalinges, ao norte de Lausanne, Suíça,
mandando construir uma grande mansão. Em 1960 preside o festival de cinema de Cannes,
que aquele ano premiou com a palma de ouro La dolce vita de Fellini.
Em
1972 Simenon renuncia ao romance, mas não havia acabado de explorar os meandros do
homem, a começar por ele mesmo, em uma longa autobiografia com 21 volumes
ditada em um pequeno gravador.
Diferente
de muitos autores de hoje, que tentam construir uma intriga o mais complexa
possível, como um jogo de ecos, Simenon propunha uma intriga simples mas com
personagens fortes, um herói humano, obrigado a ir ao fundo de sua lógica.
A mensagem de Simenon é complexa e ambígua: nem culpados nem inocentes, mas
culpas que se engendram e se destroem em uma cadeia sem fim. Os romances
colocam o leitor em um mundo rico de formas, cores, sentimentos, sensações,
onde se entra desde a primeira frase. Seus melhores romances são baseados nas
intrigas nas pequenas vilas de província, evoluindo a sombra de personagens de
aparência respeitável mas que urdem empresas tenebrosas, numa atmosfera
própria.
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