MONARCAS E ANARQUISTAS
A monarquia, abandonada havia muito
nos Estados Unidos, estava presente em aproximadamente todos os lugares, com
exceção das Américas. O czar da Rússia detinha quase todo o poder, enquanto na Alemanha
e no Império Austro-Húngaro os imperadores geralmente eram mais poderosos do
que os parlamentos em questões de política externa. O rei da Itália respeitava
o parlamento, mas acreditava dispor do direito de passar por cima dele algumas
vezes. A rainha da Inglaterra, que governava mais de um quarto dos povos do
mundo, era praticamente a monarca menos poderosa da Europa. Ela aconselhava,
mas raramente decidia.
Um sinal marcante do prestígio da
monarquia foi o funeral dessa rainha. Ela morreu na Ilha de Wight, em um de
seus palácios, à tarde, na terça-feira de 22 de janeiro de 1901. Seu desejo era
ter um funeral militar, uma vez que era a chefe das forças armadas e da marinha
do Império Britânico. Seu caixão, coberto com cetim branco, foi transportado no
iate real até a base naval de Portsmouth, atravessando todo o trecho de quase
15 quilômetros em um corredor formado por embarcações - os couraçados e
cruzadores britânicos ancorados de um lado; as canhoneiras, os transatlânticos
e os navios de nações estrangeiras amigas de outro. Oito destróieres, pintados
de preto para a ocasião, acompanharam o iate real, e as pessoas a bordo
ouviram, ressoando sobre o mar, a Marcha Fúnebre de Chopin, tocada por bandas
nas embarcações.
No dia seguinte, o caixão real,
transportado até Londres pelo trem funerário, passou por estações apinhadas de
pessoas em luto, enquanto nos campos os trabalhadores rurais podiam ser vistos
sob a chuva forte, sem chapéu, em sinal de respeito. Praticamente todos os que
assistiam ao cortejo haviam passado a vida inteira sob o reinado daquela
monarca. Na cidade de Londres, a procissão fúnebre avançou lentamente em
direção à estação de Paddington, observada em silêncio por uma imensa multidão.
Destacavam-se no cortejo fúnebre, todos montados
em cavalos, o rei de Portugal, que logo seria destronado, o arquiduque Franz
Ferdinand, que seria assassinado às vésperas da Primeira Guerra Mundial, e o
imperador alemão, que perderia o trono ao fim dessa guerra.
Na Europa, as monarquias viviam o
apogeu, mas na África eram cada vez mais escassas. A família real de Madagáscar
havia sido enviada ao exílio pelos franceses em 1897, e o sultão de Zanzibar submetera-se
à autoridade real britânica. As poucas regiões independentes que restavam na
Ásia tinham seus monarcas. China, Japão, Coreia e Tailândia eram monarquias e
até a Índia possuía um monarca, embora ausente, uma vez que a rainha da
Inglaterra carregava o título de imperatriz da Índia; príncipes, nizans,
rajás e outros potentados reais permaneciam com as asas cortadas. Nas ilhas do Pacífico,
também havia monarquias, mas Tonga é a única que mantém até hoje esse sistema
de governo.
Assassinato do Presidente da França,
Marie François Sadi Carnot
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Presentes na Itália, na França e na Espanha
e outrora aliados dos socialistas, consideravam os soberanos poderosos um problema,
não uma solução. A maioria dos anarquistas não acreditava em parlamentos, desprezava
a propriedade privada e guardava rancor dos líderes nacionais. De acordo com
seu ponto de vista, todos tinham o direito de compartilhar o poder e a riqueza.
Sua primeira arma era, literalmente, a anarquia.
Greves gerais, extremamente
perturbadoras, eram uma das armas dos anarquistas; o assassinato de líderes
nacionais era outra. Seus membros mais radicais - então já chamados de
terroristas - se dispunham a morrer pela causa, da mesma maneira que os
terroristas islâmicos fariam um século mais tarde. Em 1894, o presidente
frances Carnot viajava de carruagem em Lyon quando um conhecido anarquista italiano lançou-se sobre
ele e o apunhalou. Em 1897, o premier espanhol Canovas dei Castillo passava um
feriado no balneário de Santa Aguada quando foi morto a tiros por um anarquista
italiano, em pleno dia. Em 1898, a imperatriz da Áustria passeava incógnita pelas
ruas de Genebra - um ato inacreditável para a monarca de uma das cinco grandes
potências do mundo - quando foi morta a punhaladas por um anarquista também
italiano.
Assassinato do Premier Espanhol |
O terrorismo é uma velha atividade
que aparece, desaparece e reaparece. Quando uma nova onda de terrorismo atingiu
a Europa e o Oriente Médio durante a segunda metade do século 20, os anarquistas,
com suas pistolas e facas, já haviam desaparecido da memória das pessoas.
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