segunda-feira, 1 de maio de 2017

O PEQUENO PRÍNCIPE - PARTE 2

Então eu vivi minha vida solitário, sem ninguém com quem pudesse realmente conversar, até que tive um acidente com meu avião no deserto do Saara, seis anos atrás. Algo estava quebrado em meu motor, e como não tinha comigo nem passageiros nem mecânicos, após o pouso forçado eu me preparei para tentar realizar sozinho o difícil conserto. Para mim, era uma questão de vida ou morte: o que eu tinha de água em meu cantil mal dava para oito dias.
Na primeira noite eu dormi em plena areia, a milhares de quilômetros de qualquer habitação humana. Eu estava mais isolado do que um náufrago boiando agarrado a uma tábua no meio do oceano. Portanto, você pode imaginar o meu espanto quando, ao nascer do sol, fui desperto por uma vozinha um tanto estranha. Ela disse:  

“Por favor, me desenhe um carneiro!”  

“O quê?!”  

“Me desenhe um carneiro!”  

Eu levantei de um pulo só, como se um raio houvesse me atingido. Esfreguei meus olhos e olhei cuidadosamente em minha volta, foi quando vi um ser pequenino e extraordinário, que estava ali me examinando com grande seriedade.
Aqui você pode ver o melhor retrato que pude fazer dele, tempos depois. Mas ao meu desenho falta certamente o encanto do modelo original.


Eu não tenho culpa se o meu desenho não é tão fiel ao original, afinal as pessoas grandes me desencorajaram a seguir minha carreira artística quando eu tinha somente seis anos de idade, e então eu nunca aprendi a desenhar nada além de jiboias abertas e jiboias fechadas.
Eu olhava para aquela aparição repentina com meus olhos quase pulando das órbitas de tanto assombro. Lembre-se, eu havia me acidentado no deserto a milhares de quilômetros de qualquer região habitada, e ainda assim aquele ser pequenino não parecia estar vagueando perdido em meio às areais, nem dava quaisquer sinais de cansaço, fome, sede ou medo.
Nada sobre ele me dava qualquer sugestão de ser uma criança perdida no deserto, a milhares de quilômetros de qualquer habitação humana. Quando finalmente consegui dizer alguma coisa, foi isto que lhe falei:  

“Mas o que diabos você está fazendo aqui?”  

E ele me respondeu um tanto vagarosamente, como se falasse de algo muito sério:  

“Por favor, me desenhe um carneiro...”

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