Vicentina de Paula Oliveira, conhecida como Dalva de Oliveira, (Rio Claro SP, 5 de maio de 1917 — Rio de Janeiro, 30 de agosto de 1972) foi uma cantora brasileira.
Segundo
a revista Rolling Stone, Dalva de Oliveira foi considerada uma das maiores
vozes da música brasileira de todos os tempos.
Nascida
em uma família humilde na cidade de Rio Claro, Interior do Estado de São Paulo,
era filha de um carpinteiro mulato,
chamado Mário de Paula Oliveira, conhecido como Mário Carioca, e da portuguesa Alice
do Espírito Santo Oliveira. Vicentina de Paula Oliveira nasceu em 5 de maio de 1917 na cidade de Rio Claro, São Paulo. Em 1935, já morando na Cidade do Rio de Janeiro com a
família, para onde se mudaram em busca de uma vida melhor, frequentava o Cine
Pátria, onde conheceu seu primeiro namorado, Herivelto
Martins, que formava ao lado de Francisco Sena o dueto Preto e
Branco; foi terminado o dueto e nascia o Trio de Ouro.
Iniciaram
um namoro e, em 1936,
com um ano de nsmoro, Dalva protagonizou um escândalo familiar, pois saiu de
casa solteira, para viver com o namorado, ainda oficialmente casado: Os dois
alugaram uma casa e iniciaram uma convivência conjugal. Herivelto ainda estava
casado no civil com sua ex-esposa, e a união deles só pôde ser oficializada
em 1937,
quando saiu o divórcio dele. O matrimônio foi assinado em cartório e celebrado
na igreja católica, também comemorada em um ritual de umbanda,
na praia,
já que esta era a religião de Herivelto, embora Dalva fosse católica.
A união
gerou dois filhos: Os cantores Peri Oliveira Martins, o Pery Ribeiro,
e Ubiratan Oliveira Martins. A União durou até 1947, quando as constantes
brigas, traições, crises violentas de ciúmes e humilhações por parte de
Herivelto deram fim ao casamento. Matérias mentirosas que difamavam a moral de
Dalva, alegando que ela traía o marido e participava de festas imorais, foram
publicadas por Herivelto, com a ajuda do jornalista David Nasser no
"Diário da Noite".
Por ser
cantora, sempre era apontada como detentora de moral duvidosa, e sua profissão
pediu nas acusações mentirosas. Estes escândalos forjados fizeram com que o
conselho tutelar mandasse Peri e Ubiratan para um internato, alegando que a mãe
não possuía uma boa conduta moral para criar os filhos, o que a fez entrar em
desespero e depressão, aumentando as brigas entre o
ex-casal. Os meninos só podiam visitar os pais em datas festivas e fins de
semana, e só poderiam sair de lá definitivamente com dezoito anos. Dalva lutou
muito pela guarda dos filhos e sofreu bastante por isso. Em 1949 Dalva e
Herivelto oficializaram a separação, se divorciando.
Em 1952, depois de se
consagrar mais uma vez na música mundial e ganhar o título de Rainha do Rádio,
Dalva de Oliveira resolve excursionar pela Argentina,
para conhecer o país e cantar em Buenos Aires.
Nessa ocasião conhece Tito Climent, que se torna primeiro seu amigo, depois seu
empresário e mais tarde, seu segundo marido, quando Dalva se muda para Buenos
Aires, indo morar na casa de Tito, antes da união oficial.
Dalva
não queria mais ter filhos por conta de sua carreira, que tomava muito seu
tempo, mas sempre quis ter uma menina. Por isto, adotou uma criança em um
orfanato de Buenos Aires, a quem batizou de Dalva Lúcia Oliveira Climent. Dalva
e Tito, após dois anos morando juntos, casaram-se oficialmente em um cartório
na Argentina, e viveram juntos por alguns anos. No começo, a união era feliz e
estável, e criavam a filha com muito amor e dedicação.
Após
mais de quatro anos de casamento, o casal passou a viver brigando, também por
conta da carreira de Dalva, que vivia viajando, e de seus filhos, a quem
constantemente visitava no Brasil, o que desagradava o marido, que queria que ela
deixasse para trás sua carreira e seu passado no Brasil, para viver
exclusivamente para ele e para a criação da filha, mas Dalva jamais aceitou
esta imposição. Dalva também era uma mulher simples e querida por todos,
fazendo amizade com facilidade, mas Tito queria uma mulher fina e cheia de
requintes, sempre pronta para atender a todos em cima do salto. Essa grande
diferença de temperamentos, que culminou em muitas brigas e humilhações, pôs
fim à união do casal no início dos anos 60.
Dalva se
mudou para o Brasil, mais especificamente para o Rio, com a filha, de volta
para sua casa, mas no mesmo ano, Tito entrou na justiça pedindo a guarda da
menina, e Dalva volta para Buenos Aires, onde entrou em processo contra o
marido. Para manter o processo até o fim, Dalva deixa sua carreira no Brasil e
passa a morar com a filha em Buenos Aires até a decretação da sentença do juiz.
Dalva e Tito passam a brigar muito pela guarda da criança, com brigas verbais e
mútuas acusações, mas Tito acabou usando as mesmas provas que Herivelto
utilizou: As notícias mentirosas em jornais a respeito da moral duvidosa da
cantora. Muito triste e infeliz, perdeu a guarda de sua menina e voltou sozinha
para o Brasil, dando entrada no pedido de divórcio.
Ela
retomou sua carreira, fazendo mais sucesso que nunca. Em 1963, já há alguns anos
separados, a separação oficial finalmente é concedida pelo juiz, já que
casamento entre estrangeiros, na época, havia demora para protocolar o
divórcio. Dalva de Oliveira volta a Buenos Aires para assinar os papéis e se
divorcia de Tito, voltando logo em seguida para o Brasil. Seus pequenos
momentos de felicidade ocorriam quando seus três filhos a visitavam nas férias
escolares de Janeiro. Iam visitar a mãe no Rio de Janeiro, e passavam um mês
com Dalva, em sua mansão. A cantora cancelava todos os shows do mês para ficar
com os filhos. Seu desejo era poder viver com os três, sempre juntos, um sonho
que não pôde realizar.
Os anos
se passaram. Dalva vivia sozinha em sua mansão, e já havia se acostumado com a
solidão. Para compensar a tristeza, passou a beber e fumar compulsivamente.
Neste período, teve alguns namorados, como cantores e atores, mas eram
relacionamentos sem compromisso, que duravam geralmente uma noite ou poucos
meses, pois não queria se apegar a ninguém, pois não pretendia casar-se
novamente, apenas viver a vida com homens que a atraíssem, e nenhum deles havia
despertado algo além de paixão momentânea. Também não tinha tempo de dedicar-se
a um relacionamento pois viajava o mundo em turnês musicais.
Estava
concentrada em sua carreira e fazendo mais sucesso ainda, quando, sem estar a
procura, ela conhece Manuel Nuno Carpinteiro, um homem vinte anos mais jovem,
por quem se apaixonou perdidamente, e com quem redescobriu o amor: Com poucos
meses de namoro, ele foi morar na sua casa. Com alguns anos juntos, se casaram
oficialmente, e este fora seu último marido. Ao assumir o namoro, foi alvo de
muitos preconceitos, pela grande diferença de idade, mas Dalva não ouviu os
outros, e escutou a voz de seu coração, seguindo os passos da felicidade. Com
ele, Dalva reencontrou a alegria de viver.
Em 18 de agosto de 1965 Dalva e Manuel,
que na época ainda era seu namorado, sofreram um grave acidente: Ele dirigia o
veículo, quando saíam de mais um show da cantora, onde haviam bebido muito,
quando Manuel perdeu o controle, sofrendo um acidente automobilístico na cidade
do Rio de Janeiro, que não causou ferimentos
ao casal, mas resultou na morte por atropelamento de quatro pessoas. Manuel foi
preso, e assumiu que estava realmente dirigindo o carro.
Dalva se
desesperou com a situação do amado, e toda a imprensa noticiou o fato, o que
acabou prejudicando sua carreira. Não se importando com críticas, Dalva o
visitava na prisão, o que foi um escândalo na sociedade, pois na época, uma
mulher que ia em presídios era considerada prostituta. Dalva arrumou um
advogado para ele, e após meses, ele foi absolvido da acusação, tendo que
reverter a condenação em prestação de serviços a comunidades carentes. No fim
dos anos 60,
após todos estes processos terminarem, Dalva e Manuel casam-se oficialmente em
um cartório, com uma grande festa na mansão de Dalva.
Carreira
De voz
afinada, e bela, considerada a Rainha da Voz ou o rouxinol brasileiro, sua
extensão vocal ia do Contralto ao Soprano.
Em 1937
gravou, junto com a Dupla Preto e Branco, o batuque Itaquari e a marcha Ceci e Peri, ambas do Príncipe
Pretinho. O disco foi um sucesso, rendendo várias apresentações nas Rádios.
Foi César Ladeira, em seu programa na Rádio Mayrink Veiga, que pela primeira vez
anunciou o Trio de Ouro. Em 1949 deixou o trio, quando
excursionavam pela Venezuela com a Companhia de Dercy Gonçalves.
Em 1950
retomou a carreira solo, lançando os sambas Tudo acabado (J. Piedade e Osvaldo
Martins) e Olhos verdes (Vicente Paiva) e o samba-canção Ave Maria (Vicente
Paiva e Jaime Redondo), sendo os dois últimos, grandes sucessos da cantora. No
ano seguinte foi eleita Rainha do Rádio, e excursionou pela Argentina,
apresentando-se na Rádio El Mundo, de Buenos Aires,
na qual conheceu Tito Climent, que se tornou seu empresário e depois marido,
pai de sua filha, como mencionado anteriormente. Ainda em 1951, filmou Maria da
praia, dirigido por Paulo Wanderley, e Milagre de amor, dirigido por Moacir
Fenelon.
Morte
Três
dias antes de morrer, Dalva pressentiu o fim e, pela primeira vez, em sua longa
agonia de quase três meses, lutando pela vida, falou da morte. Ela tinha um
recado para sua melhor amiga, Dora Lopes, que a acompanhou ao hospital: "Quero ser vestida e maquiada, como o
povo se acostumou a me ver. Todos vão parar para me ver passando!".
Morreu em 31 de agosto de 1972, vítima de uma hemorragia
interna causada por um câncer esofágico. A cantora teve seu apogeu
artístico nos anos 30, 40 e 50. Seu corpo está enterrado no Cemitério Jardim da
Saudade na Cidade do Rio de Janeiro.
Mais
informações
Dalva realizou mais de 400 gravações e sua voz está em
vários coros de discos de Carmen Miranda, Orlando Silva, Francisco Alves, Mário
Reis entre outros.
Na
primeira versão do filme Branca de Neve e os Sete Anões produzida
pelos estúdios Disney, em 1938, Dalva de Oliveira dublou os diálogos da
personagem Branca de Neve. As
canções foram interpretadas pela dubladora Maria Clara Tati Jacome.
Em 1974 foi
homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz, com o
enredo O Rouxinol da Canção
Brasileira. Em
1976 a Escola de Samba Turunas do Riachuelo (4º escola de samba do Brasil -
Juiz de Fora - Minas Gerais) foi tricampeã do carnaval da cidade com o enredo
"Estrela Dalva", que foi homenageada de forma não biográfica, sendo o
samba antológico na cidade.
Em 1987
a Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense levou para a Sapucaí o enredo
"Estrela Dalva", sendo último trabalho do carnavalesco Arlindo
Rodrigues.
Marília
Pêra interpretou a cantora no musical "A ESTRELA DALVA" em 1987 no
Teatro João Caetano.
Em 2002
o teatrólogo mineiro Pedro Paulo Cava produziu e dirigiu o o espetáculo teatral
"Estrela Dalva", cujo sucesso rendeu ao elenco de 16 atores viagens
por diversas capitais brasileiras e cidades do interior de Minas Gerais após
quase dois anos em cartaz na capital mineira. Dalva foi interpretada por Rose
Brant; Herivelto Martins por Léo Mendonza e Nilo Chagas por Diógenes Carvalho.
O
espetáculo foi baseado no livro de Renato Borghi e João Elísio Fonseca que foi
adaptado por Pedro Paulo Cava. O elenco tinha ainda Diorcélio Antônio, Freddy
Mozart, Rui Magalhães, Márcia Moreira, Leonardo Scarpelli, Felipe Vasconcelos,
Libéria Neves, Jai Baptista, Ivana Fernandes, Patrícia Rodrigues, Meibe
Rodrigues, Fabrizio Teixeira e Bianca Xavier. A produção executiva foi de
Cássia Cyrino e Luciana Tognolli. Todo o elenco passou por meses de preparação
vocal e corporal dando vida e emoção sempre aplaudidos de pé pelo público que
lotava as sessões.
A vida
de Dalva de Oliveira foi retratada em janeiro de 2010 com a minissérie Dalva e Herivelto: uma Canção de Amor,
produzida pela Rede Globo. A atriz Adriana
Esteves interpretou Dalva, enquanto o ator Fábio Assunção interpretou Herivelto
Martins. Sua vida foi em vários detalhes ficcionalizada além de ser
omitida a existência de sua filha Dalva Lúcia, que estava presente no hospital
quando a mãe entrou em coma, além da outra irmã, Margarida. Tito Climenti, seu
segundo marido também foi o omitido e no lugar deste, foi criado o personagem
Rick Valdez, assim como Nuno, seu último marido, aparece com o nome de Dorival.
Em sua
cidade natal, Rio Claro-SP, existe uma praça em sua
homenagem com nome de Dalva de Oliveira, inaugurada em 15 de julho de 2000. No
local existe um busto em bronze da cantora. A praça fica localizada na avenida
Tancredo Neves com a rua 14, bairro Jardim Claret.
Cantoras do Rádio, documentário de 2009
dirigido por Gil Baroni retrata a
"Era de Ouro" do rádio brasileiro.
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