No
fundo, o Estado-Maior parece um jogador de bridge a quem perguntaríamos, no
cômodo ao lado:
—
O que devo fazer com a minha dama de espadas?
O
isolado daria de ombros. Nada tendo visto do jogo, o que responderia?
Mas
um Estado-Maior não tem o direito de dar de ombros. Se ele ainda controla
alguns elementos, deve fazê-los agir para mantê-los sob controle e para tentar
todas as chances enquanto a guerra durar. Mesmo às cegas, ele deve agir e
mandar agir.
Mas
é difícil atribuir uma função, ao acaso, a uma dama de espadas. Nós já
constatamos, primeiro com surpresa, depois como uma evidência que poderíamos
ter previsto: quando começa o desabamento, falta trabalho. Consideramos o
vencido submerso numa torrente de problemas, desgastando-se inteiramente para
resolvê-los, sua infantaria, artilharia, seus tanques, aviões… Mas a derrota
primeiro escamoteia os problemas. Nada mais se sabe do jogo. Não se sabe em que
empregar os aviões, os tanques, a dama de espadas…
Nós
descartamos casualmente a dama de espadas na mesa, depois de quebrar a cabeça
para lhe atribuir um papel eficaz. Reina o mal-estar e não a febre. Somente a
vitória se envolve na depois de quebrar a cabeça para lhe atribuir um papel
eficaz. Reina o mal-estar e não a febre. Somente a vitória se envolve na febre.
A vitória organiza, a vitória constrói. E cada um se esfalfa para carregar suas
pedras.
Mas
a derrota mergulha os homens numa atmosfera de incoerência, de tédio e, acima
de tudo, de futilidade.
Pois,
primeiramente, essas missões exigidas de nós são fúteis… Cada dia mais fúteis.
Mais sangrentas e mais fúteis. Os que dão ordens não têm outros recursos para
resistir a um deslizamento de montanha, só lhes resta jogar seus últimos
trunfos na mesa.
Dutertre
e eu somos trunfos e escutamos o comandante. Ele nos expõe o programa da tarde.
Manda-nos sobrevoar, a setecentos metros de altitude, os tanques estacionados
na região de Arras, na volta de um longo percurso a dez mil metros, com a mesma
voz com que nos diria:
—
Sigam então pela segunda rua à direita, até a esquina da primeira praça; tem lá
uma tabacaria; comprem-me fósforos…
—
Positivo, meu Comandante.
Nem
mais nem menos útil, a missão. Nem mais nem menos lírica, a linguagem que a
significa.
E
digo: “Missão sacrificada”. Eu penso… Eu penso muitas coisas. Esperarei a
noite, se estiver vivo, para refletir. Vivo… Quando uma missão está fácil,
retorna uma a cada três. Quando é um pouco “chata”, fica mais difícil,
evidentemente, voltar. E aqui, no gabinete do comandante, a morte não me parece
nem augusta nem majestosa, nem heroica nem dilacerante. Ela é apenas um sinal
de desordem. Um efeito da desordem. O Grupo vai nos perder, como se perdem
bagagens numa confusão de conexões de estradas de ferro.
E
não é que não pense sobre a guerra, sobre a morte, sobre o sacrifício, sobre a
França, qualquer outra coisa, mas me falta um conceito diretor, uma linguagem
clara. Penso por contradições. Minha verdade está em pedaços e só posso
considerá-los um após o outro. Se estiver vivo, esperarei a noite para
refletir. A noite bem-amada. À noite, a razão dorme, e simplesmente as coisas
são. As que importam verdadeiramente retomam sua forma, sobrevivem às
destruições das análises do dia. O homem reata seus pedaços e se torna árvore
calma.
O
dia é das cenas de briga, mas à noite, aquele que brigou reencontra o Amor.
Pois o amor é maior do que o sopro das palavras. E o homem se debruça em sua
janela, sob as estrelas, de novo responsável pelos filhos que dormem, pelo pão
vindouro, pelo sono da esposa que repousa ali, tão frágil, delicada e
passageira. O amor não se discute. Ele é. Que venha a noite e se mostre a mim
alguma evidência que mereça o amor. Para que eu pense a civilização, o destino
do homem, o gosto da amizade no meu país. Para que eu deseje servir a alguma
verdade imperiosa, mesmo que, talvez, ainda inexprimível…
Por
enquanto, pareço-me inteiramente com o cristão abandonado pela graça. Eu farei
meu papel, com Dutertre, honestamente, isso é certo, mas como se salvam ritos
que já não têm mais conteúdo, quando o deus se retirou deles. Esperarei a
noite, se puder ainda viver, para andar um pouco a pé na grande estrada que
atravessa nossa vila, envolvido em minha solidão bem-amada, a fim de nela
reconhecer por que eu devo morrer.
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