Eu canto porque o instante
existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
– não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
se permaneço ou me desfaço,
– não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é
tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
– mais nada.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
– mais nada.
Cecília Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964), foi uma jornalista, pintora, escritora e professora brasileira.
Cecília
Benevides de Carvalho Meireles, nasceu no dia 7 de novembro de 1901, no bairro Rio Comprido, na cidade do Rio de Janeiro, filha de Carlos
Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do
Brasil,
e de Mathilde Benevides Meireles, professora da rede pública de ensino primário
- hoje, no Brasil,
denominada ensino fundamental. Antes de Cecília nascer,
sua mãe havia perdido seus outros filhos: Carlos, Vítor, Carmem,
e Carlos - esse último morreu três meses antes do nascimento de Cecília. Aos
três anos de idade, sua mãe também morreu, e a menina se mudou para as
imediações das ruas Zamenhoff, Estrela e São Carlos, passando a morar com sua
avó materna, Jacinta Garcia Benevides, uma portuguesa nascida
na Ilha de São Miguel, Açores,
na época viúva e única sobrevivente da família.
Ela criou a menina com ajuda de Pedrina, a babá da
menina, que sempre lhe contava histórias à noite.
Cecília
cursou o Ensino Fundamental I na Escola Municipal
Estácio de Sá,
onde, ao concluir o curso em 1910, recebeu das mãos de Olavo Bilac,
inspetor da Escola, uma Medalha de Ouro Olavo Bilac, pelo esforço e excelente
desempenho "com distinção e louvor".
Nessa época, a garota já demonstrava paixão por livros,
chegando a escrever seus primeiros versos, além do interesse pela música que
a levou estudar canto, violão e violino,
no Conservatório Nacional de Música,
pois, sonhava em escrever uma ópera sobre
o Apóstolo São Paulo.
No entanto, posteriormente, acabou se dedicando à literatura,
tendo em vista que não conseguiria se dedicar com perfeição às muitas
atividades simultaneamente.
Ela
possuía olhos
azuis-esverdeados, era curiosa e sozinha,
sobretudo por que sua avó não a deixava sair de casa para brincar, mesmo quando
era chamada por outras crianças.
Durante uma entrevista, Cecília disse que "em toda a vida, nunca me
esforcei por ganhar e nem me espantei por perder". A infância solitária
rendeu à futura escritora dois pontos que, para ela, foram positivos: "a
solidão e o silêncio".
Em 1917, aos dezesseis anos
de idade, formou-se na Escola Normal
do Distrito Federal, no Rio de Janeiro,
onde teve como professores o historiador Basílio de Magalhães, a escritora
infantil Alexina Magalhães Pinto e
o poeta Osório Duque-Estrada,
sendo escolhida por consenso como oradora do
grupo que formou-se com ela.
A partir de então, passa a lecionar. Em 24 de outubro de 1922, já tendo publicado o
seu livro de estreia, casa-se com o pintor, desenhista, ilustrador e artista plásticos português Fernando Correia Dias, que havia se mudado
para o Brasil em abril de 1914, radicando-se no Rio
de Janeiro.
Ele contribuiu para o desenvolvimento das artes
gráficas no país,
e essa união gerou três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda. Além
disso, a união com Correia Dias proporcionou à escritora um contato com o em
Portugal, no início do século XX,
o qual Fernando Pessoa faz parte, e uma parceria
na ilustração de sua obra.
Porém, o casamento com o ilustrador não foi fácil. O casal passou por grandes
dificuldades financeiras, e o preconceito da época, prejudicou o artista
plástico e a professora. "Segue-se um período difícil, de perseguição mais
ou menos velada, em que durante quatro anos, por ironia e
desagravo de sua capacidade pedagógica,
Cecília Meireles mantém uma página diária sobre Educação,
no "Diário de Notícias".
Cecília
iniciou sua carreira docente em 1918, quando foi nomeada
professora adjunta do curso primário, na Escola Pública Deodoro.
Em 29 de março de 1920, o Diretor Geral de
Instrução Pública, recebe autorização do então prefeito da cidade, para formar
turma de desenho da Escola Normal do Distrito Federal, e ele escolhe Cecília, a
pedido do arquiteto e engenheiro Fernando Nereo de Sampaio,
que era responsável pela Cátedra de Desenho da Escola e fazia parte da equipe
de Anísio Teixeira na Diretoria de Instrução Pública.
Preocupada com a qualidade do ensino e a escassez de livros didáticos, Cecília
escreve livros para escolas primárias, e publica em 1924 o livro
infantil Criança, Meu Amor,
com prosas para
o ensino fundamental.
Ele é adotado pela Diretoria Geral da Instrução Pública do Distrito Federal e
aprovado pelo Conselho Superior de Ensino do Estado de Minas Gerais e
Pernambuco, e entrou na lista de leitura de livros paradidáticos. Entre os
temas do livro, estão retratos, momento do dia, animais de estimação, tarefas,
sentimentos e brincadeiras.
Cecília
passa a se dedicar para um concurso promovido pela Escola Normal para preencher
o cargo de professor catedrático. Em correspondências para o marido, Cecília
confidenciou sua intenção de participar. Então, em 1930, realiza a primeira
etapa do concurso, defendo a tese "O Espírito Vitorioso", onde
defendia "a escola moderna" e destaca os princípios de liberdade, de
inteligência, de estímulo à observação e à experimentação. Nessa fase, dos
oitos candidatos, três foram reprovados, e dois desistiram em função das notas
obtidas. Somente dois continuaram disputando: Cecília Meireles e Clóvis do Rego Monteiro, tendo esse nota
superior a de Cecília. A última fase, realizada em 26 de agosto do
mesmo ano, era uma prova prática. E Cecília foi derrotada.
Carreira literária
Com dezoito anos de
idade, em 1919,
Cecília lança seu primeiro livro de poemas, Espectros,
lançado pela Editora Leite Ribeiro (hoje Freitas
Bastos),
com dezessete sonetos,
escritos do tempo em que cursava a Escola Normal, e com prefácio assinado
por Alfredo Gomes, que tinha sido seu professor de Língua portuguesa e, à época,
prestigioso gramático, que saldava "o coração já superiormente
formado, a inteligência clara e lúcida, a intuição notável com que sabia expor
pensamentos próprios e singulares até em assuntos pedagógicos" de sua
aluna.
O
livro continha poemas sobre temas históricos, lendários, mitológicos e religiosos,
tendo personagens como Cleópatra, Maria
Antonieta, Judite, Sansão e Dalila,
retratados em sonetos,
sob influência simbologista, na musicalidade e melancolia,
indo na contramão do que estava sendo publicado na época.
Com diminuta tiragem, acredita-se que o livro tenha sido lançado às custas da
autora.
O livro ganhou uma crítica positiva de João Ribeiro, publicado
no jornal O Imparcial, em que ele prevê um belo
futuro para Cecília.
Para Darcy Damasceno, crítico
do Jornal do Comércio, o livro impedia a real face
criativa e espiritual de Meireles devido ao rigor das métricas e acentuação,
em textos parnasianos.
Durante tempos, o livro tinha sido desaparecidos, e chegaram a achar que ele,
de fato, nunca tivesse existido. Nem mesmo a família da autora não tinha
notícias ou qualquer exemplar da obra.
Dele, o que conhecia era apenas fragmentos.
Porém, em 2001, o livro foi reeditado e incorporado à Poesia Completa, coletânea lançada
pela Nova Fronteira.
A
partir daí, Cecília começa a se aproximar de escritores como Tasso da
Silveira, Andrade Muricy e, entre fevereiro e março de 1922, escreve novos poemas
para compor um novo livro.
Nessa época, acontece a Semana de Arte Moderna, em São Paulo,
liderado por Oswald de Andrade, com a qual Cecília tem pouco
contato. No ano seguinte, publica Nunca Mais...
E Poema dos Poemas, pela editora Leite Ribeiro, contendo
vinte e um poemas e
seis sonetos de
caráter simbolista e com ilustrações de seu marido, Correia Dias.
Posteriormente, Cecília pediu que esse livro fosse removido de sua bibliografia.
Publica em 1924 Criança, Meu Amor,
seu primeiro livro infantil, com crônicas em prosa poética para
o ensino fundamental,
onde a escritora traz realidades que as crianças gostam, como "o
imaginário, o bom conselho, o humor e a fantasia".
Os poemas escritos entre fevereiro e março de 1922, foram publicados em Baladas para El-Rei lançado
em 1925,
pela Editora Brasileira Lux e também com ilustrações de Correia Dias,
seguindo a mesma linha dos últimos dois álbuns já publicados, o que acaba
fazendo com que estudioso caracterizem essa parte da vida de Cecília como um
"simbolismo-tardio", encabeçado por Tasso da Silveira.
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