Camus foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura de 1957
"por sua importante produção literária, que, com seriedade lúcida ilumina
os problemas da consciência humana em nossos tempos".
Biografia
Albert Camus (IPA: [albɛʁ kamy]) nasceu na costa da Argélia
numa localidade chamada Mondovi (hoje denominada Dréan)
durante a ocupação francesa numa família "pied-noir". Seu
pai, Lucien Auguste Camus (1885-1914), era francês nascido
na Argélia e sua mãe, Catherine Hélène Sintès (1882-1960), também nascida na
Argélia era de origem minorquina. Camus conhece cedo o gosto amargo da morte, seu
pai morreu em 1914, na batalha do Marne durante Primeira Guerra Mundial. Sua mãe então foi
obrigada a mudar-se para Argel, para a casa de sua avó materna, no famoso bairro
operário de Belcourt onde, anos mais tarde, durante a guerra de descolonização da Argélia houve
um massacre de muçulmanos.
O período de sua infância, apesar de extremamente pobre é marcada por uma
felicidade ligada à natureza, que ele volta a narrar em O Avesso e o
Direito, mas também em toda a sua obra. Na casa, moravam além do próprio
Camus, seu irmão que era um pouco mais velho, sua mãe, sua avó e um tio um
pouco surdo, que era tanoeiro, profissão que Camus teria seguido se não fosse pelo
apoio de um professor da escola primária Louis Germain, que
viu naquele pequeno pied-noir um futuro promissor. A princípio, sua
família não via com bons olhos o fato de Albert Camus seguir para a escola
secundária, sendo pobre, e o próprio Camus diz que tomar essa decisão foi
difícil para ele, pois sabia que a família precisava da renda do seu trabalho
e, portanto, ele deveria ter uma profissão que logo trouxesse frutos - como a
profissão do seu tio. No fundo, Camus também gostava do ambiente da oficina
onde o tio trabalhava. Há um conto escrito por ele que tem como cenário a
oficina, e no qual a camaradagem entre os trabalhadores é exaltada.
Sua mãe trabalhava lavando roupa para fora, a fim de ajudar no sustento da
casa. Durante o segundo grau, ele quase abandonou os estudos devido aos
problemas financeiros da família. Foi neste ponto que um outro professor foi
fundamental para que o ganhador do prêmio Nobel de
1957 seguisse estudando e se graduasse em filosofia: Jean Grenier. Tanto
Grenier quanto o velho mestre Guerin serão lembrados, posteriormente, pelo
escritor. O Homem Revoltado (1951) é dedicado a Grenier,
e Discursos da Suécia (que inclui o discurso pronunciado por
Camus, ao receber o Nobel), a
Germain.
Sua dissertação de mestrado foi sobre neoplatonismo e
sua tese de doutoramento, assim como a de Hannah Arendt,
foi sobre Santo Agostinho.
Em 1938, Camus ajudou a fundar o jornal Alger Républicain e
durante a Segunda Guerra Mundial até 1947,
colaborava com o jornal Combat, além
de ter colaborado no jornal Paris-Soir.
Saúde
Após completar o doutoramento e estar apto a lecionar, sua saúde impediu-o
de se tornar um professor. Uma forte crise de tuberculose abateu-se sobre ele
nesta época. Camus era tuberculoso havia já algum tempo. Esta doença deu-lhe a
real dimensão da possibilidade cotidiana de morrer, o que é fundamental no
desenvolvimento de sua obra filosófica /literária. A tuberculose também o impediu
de continuar a praticar um esporte que tanto amava e ensinou-lhe tanto: Camus
era o goleiro da seleção universitária. Conta-se que era um bom goleiro. E o
seu amor para com o futebol seguiu-o durante toda a vida. E uma das coisas que
mais o impressionou quando da sua visita ao Brasil em 1949 foi o amor do
brasileiro pelo futebol. Conta-se que uma das primeiras coisas que Albert Camus
fez ao pisar no Brasil foi pedir para que o levassem para assistir a uma
partida de futebol. Um pedido bastante incomum para um palestrante.
Entre os dias 5 e 7 de agosto de 1949, em visita ao Brasil, Camus foi
até Iguape conhecer
a festa em louvor ao Senhor Bom Jesus de Iguape, acompanhado
de Oswald de Andrade, Paul Silvestre, um adido
cultural francês, e Rudá de Andrade, filho de Oswald, além do
motorista. O grupo ficou hospedado em um quarto do hospital "Feliz
Lembrança", haja vista, todos os hotéis estarem lotados. Dessa visita
surgiu o conto -um
tanto irônico- intitulado "La Pierre qui pousse" (A
Pedra que brota), em seu livro "O Exílio e o Reino",
sobre um engenheiro francês d'Arrast em passagem por Iguape. A santa imagem,
após ser encontrada na praia do Una, na Jureia, em 1647, foi
levada à principal fonte do município, onde deveria ser lavada para remoção da
areia e do sal. No local onde está a pedra que cresce foi construída uma
pequena capela abobadada,
popularmente chamada de Gruta do Senhor. Os romeiros,
acreditando nos poderes milagrosos da pedra sobre a qual havia sido colocada a
imagem para ser lavada, começaram a retirar-lhe lascas. Após séculos tendo
lascas removidas, porém, a pedra continuava com o mesmo tamanho, dando origem à
lenda da pedra que cresce.
Teatro
para os trabalhadores
Sob estas diretrizes, não é sem sentido que a sua obra (filosófica e
literária) tenha o absurdo como estandarte. Grosso modo, seus livros
testemunham as angústias de seu tempo e os dilemas e conflitos já observados
por escritores que o precederam, tal como Franz Kafka, Dostoiévski.
Esta proximidade entre Camus e estes dois autores evidencia uma cadeia que se
estende até os dias atuais, indica a fonte de um movimento heterogêneo -
abrange arte, teatro, literatura, filosofia -, que por conveniência poderemos
identificar como a estética do absurdo. Alguns ilustres filiados a
este movimento cujo foco é o absurdo são eles: Samuel
Beckett e Eugène
Ionesco.
Madame Francine Camus, sua esposa. |
Mudou-se para a França em 1939, pouco antes da invasão alemã. Mudou-se
principalmente devido às polêmicas com as autoridades francesas na Argélia. O
autor havia publicado uma série de ensaios sobre o tratamento que os árabes
recebiam por parte dos franceses na Argélia, pois os árabes não eram
considerados cidadãos franceses e portanto eram subjugados por um governo no
qual nem ao menos podiam votar. Crianças árabes morriam de fome, não tinham
atendimento médico. Camus nessa época também fazia parte do Partido Comunista,
do qual se desvinculou pouco tempo depois. Sua esposa e filhos permaneceram na
Argélia e devido à guerra nem Camus pôde voltar à Argélia, nem sua esposa e
filhos puderam vir para a França. Ele ficou em Paris durante o começo da
ocupação nazista, trabalhando em um jornal. Devido à censura e à vigilância
constante dos nazistas, a maior parte dos jornalistas franceses muda-se para a
região da França de Vichy. Começa a participar do Núcleo de Resistência à
ocupação chamada Combat, tornando-se um dos editores do jornal de mesmo nome.
Seu primeiro livro "O Avesso e o Direito" assim como "Bodas
em Tipasa" foram publicados quando ele ainda residia na Argélia. Mas
durante o tempo da ocupação além de trabalhar em jornais e editar o jornal
clandestino, Camus dedicou-se a outra de suas paixões: o Teatro. Ele já havia
participado de um grupo de teatro ligado ao partido comunista quando ainda
morava na Argélia, e ao sair do partido comunista montado um outro grupo que
apresentava peças clássicas de teatro aos trabalhadores.
Sartre
Conheceu Jean-Paul Sartre em 1942 e tornaram-se
bons amigos no tempo de pós-guerra. Conheceram-se devido ao livro "O
Estrangeiro" sobre o qual Sartre escreveu
elogiosamente, dizendo que o autor seria uma pessoa que ele gostaria de
conhecer. Um dia numa festa em que os dois estavam, Camus apresentou-se a
Sartre, dizendo-se o autor do livro. A amizade durou até 1952, quando a
publicação de "O Homem Revoltado" provocou um desentendimento público
entre os dois filósofos devido aos comentários que Camus fazia em relação ao
comunismo soviético, do qual Sartre era partidário.
Camus morreu em janeiro de 1960, vítima de um acidente de automóvel. Na sua
maleta estava contido o manuscrito de O Primeiro Homem, um romance
autobiográfico. Por uma ironia do destino, nas notas ao texto, ele escreve que
aquele romance deveria ficar inacabado.
Sua mãe, Catherine Sintès, morre em setembro do mesmo ano.
Camus não pretendia ter feito a viagem a Paris de carro, com seu editor
Michel Gallimard, a mulher deste, Janine, e a filha deles, Anne. Pretendia ir
de trem, com o poeta René Char. Já haviam até comprado as passagens.
Mas, por insistência de Michel, ele aceitou a carona. Char também foi
convidado, mas não quis lotar o carro. No acidente, o Facel Vega de Michel se espatifou
contra uma árvore. Apenas Camus morreu na hora. Michel morreu no hospital,
cinco dias depois. O relógio do painel do carro parou no instante do acidente:
13h 55min.
Albert Camus encontra-se sepultado no cemitério de Lourmarin, Provença-Alpes-Costa Azul, na França.
Acidente
ou assassinato
Cinquenta anos depois, revelações do escritor e tradutor checo Jan Zabrana,
contidas em seu diário publicado postumamente, sugerem a possibilidade de que
Camus tenha sido, de fato, assassinado, por ordem do Ministro das Relações
Exteriores da URSS, Dmitri Shepilov, em
retaliação à oposição aberta que o escritor vinha fazendo a Moscou - particularmente
no artigo publicado na revista Franc-Tireur de março de 1957,
em que atacava pessoalmente o ministro, responsabilizando-o pelo que chamou de
"massacre", durante a repressão soviética à Revolução Húngara de 1956.
Camus, em sua crítica, citara o poeta americano Walt Whitman.
Afirmara "sem liberdade, nada pode existir". Ganhou assim, a
inimizade de stalinistas e de simpatizantes dos comunistas. Olivier Todd, no
livro “Albert Camus — Uma Vida” (Record, 877 páginas, tradução de Monica
Stahel), relata o acidente: “A vinte e quatro quilômetros de Sens, na Rodovia
5, entre Champigny-sur-Yonne e Villeneuve-la-Guyard, o Facel-Véga, depois de
uma guinada, sai da estrada em linha reta, se arrebenta contra um plátano,
ricocheteia para cima de uma outra árvore, se desmantela. Michel [Gallimard]
sai gravemente ferido [morreu cinco dias depois], Janine ilesa, Anne também. O
cachorro desaparece, Albert Camus morreu na hora. O relógio do painel é
encontrado bloqueado às 13h55. A seus amigos, Camus dizia com frequência que
nada era mais escandaloso do que a morte de uma criança e nada mais absurdo do
que morrer num acidente de automóvel”.
Obras
·
Révolte
dans les Asturies (Revolta
nas Astúrias), 1936, Ensaio de criação coletiva
·
L'Envers
et l'Endroit (O Avesso e o Direito),
1937, Ensaio
·
Noces (Núpcias), 1939 antologia de ensaios e impressões
·
Réflexions sur la Guillotine (Reflexões
sobre a Guilhotina), 1947
·
L'Étranger (O estrangeiro), 1942, romance
·
Le
Mythe de Sisyphe (O mito de Sísifo), 1942, ensaio sobre o
absurdo
·
Les
justes (Os justos), Peça em 5
atos, Editor Gallimard, Folio teatro, 2008, ISBN
2-07-033731-6
·
Le
Malentendu (O malentendido), 1944,
Peça em três atos.
·
Lettres
à un ami allemand (Cartas
a um amigo alemão), publicadas com o pseudônimo de Louis Neuville, Editor
Gallimard, collection folio ISBN
2-07-038326-1
·
Caligula (Calígula)
(primeira versão em 1941), Peça em 4 atos.
·
La
peste (A peste),
Editor Gallimard, Coleção Folio, 1972, ISBN 2-07-036042-3
·
L'État
de siège (Estado de sítio), (1948),
Espetáculo em três partes.
·
L'Artiste
en prison (O Artista na prisão), 1952
prefácio sobre Oscar Wilde.
·
"Actuelles
(Atuais) I, Crônicas, 1944-1948", 1950
·
"Actuelles
(Atuais) II, Crônicas, 1948-1953
·
L’homme
révolté (O homem
revoltado)
·
L'Été (O Verão), 1954, Ensaio.
·
Requiem
pour une nonne (Réquiem
para uma freira)
·
La
chute (A queda), Editor
Gallimard, Coleção Folio, 1972, ISBN
2-07-036010-5
·
L'Exil
et le Royaume (O exílio e o reino),
Gallimard, 1957 contos (La Femme adultère (A mulher adúltera), Le
Renégat (O Renegado), Les Muets (Os Mudos), L'Hôte (O
Hóspede), Jonas.
·
La Pierre qui pousse (A
Pedra que brota).
·
Os
discursos da Suécia (publicado
juntamente com O avesso e o direito)
·
Carnets
I (Cadernetas I), maio 1935-fevereiro
1942, 1962
·
Carnets
II (Cadernetas II), janeiro
1942-março 1951, 1964
·
Carnets
III (Cadernetas III), março
1951-dezembro 1959
·
La Postérité du soleil,
photographies de Henriette Grindat. Itinéraire
par René Char (A posteridade do Sol,
fotografias de Henriette Grindat. Itinerário por René Char, edições E.
Engelberts, 1965, ASIN B0014Y17RG - nova edição Gallimard, 2009
·
Les
possédés (Os possessos), 1959,
adaptação ao teatro do romance de Fiódor Dostoiévski
·
Résistance,
Rebellion, and Death (Resistência,
Rebelião e Morte)
·
Le Premier
Homme (O primeiro homem),
Gallimard, 1994, publicado por sua filha, romance inacabado
·
La mort heureuse (A
morte feliz)
Estudos
sobre o autor
·
A
Metáfora do Sol (1989, 5ª
ed. 2014), por Dimas Macedo (ISBN
857563020-2)
·
Albert
Camus - A Libertinagem do Sol (2002),
por Horacio González (ISBN 85-11-03007-7)
·
Albert
Camus - Um Elogio do Ensaio (1998),
por Manuel da Costa Pinto (ISBN
85-85851-70-8)
·
Camus (1959), por Germaine Brée (ISBN
1-122-01570-4)
·
Camus (1966), por Adele King (ISBN
0-05-001423-4)
·
Camus's
"L'Étranger": Fifty Years On (1992), por Adele King (ISBN 978-0-333-53294-2)
·
Camus:
Vida e Obra (1970), por Vicente de Paulo
Barretto
·
Albert
Camus: A Biography (1997),
por Herbert R. Lottman (ISBN 3-927258-06-7)
·
Albert
Camus and the Minister (2000),
por Howard E. Mumma (ISBN 1-55725-246-7)
·
Albert
Camus, The Artist in the Arena (1965), por Emmett Parker OCLC 342770* Albert Camus, A Study of His Work (1957),
por Philip Malcolm Waller Thody OCLC 342101* Albert Camus: A Life (2000), por
Olivier Todd (ISBN 0-7867-0739-9)
·
Albert
Camus: Kunst und Moral,
por Heiner Wittmann (ISBN 3-631-39525-6)
·
Camus
e Sartre: O fim de uma amizade no pós-guerra.(2007), por Ronald Aronson, Ed. Record (ISBN
852092035-7)
·
Sartre
and Camus in Aesthetics. The Challenge of Freedom.(2009), por Heiner Wittmann, ed. por Dirk Hoeges. Dialoghi/Dialogues.
Literatur und Kultur Italiens und Frankreichs, vol. 13, Frankfurt/M. (ISBN 978-3-631-58693-8)
·
Ethics
and Creativity in the Political thought of Simone Weil and Albert Camus 2004, por Dr. John Randolph
LeBlanc (ISBN 978-0-7734-6567-1)
·
Os Mandarins por Simone de Beauvoir (1954), vencedor
do Prêmio Goncourt em 1954; O próprio Camus
declara que ele é "o herói" do livro em seu Notebooks 1951-1959.
·
Camus:
A Romance (2009), por Elizabeth Hawes (ISBN
9780802118899)
·
Camus. L'homme révolté (2006),
por Pierre-Louis Rey (ISBN 9782070318285)
·
Albert
Camus (2003), por Neil Helms e Harold
Bloom (ISBN
9780791073810)
·
Camus:
Portrait of a Moralist (1999),
por Stephen Eric Bronner (ISBN 9780816632848)
·
Albert
Camus: Elements of a Life (2010),
por Robert Zaretsky (ISBN 9780801479076)
·
A
Life Worth Living: Albert Camus and the Quest for Meaning (2013), por Robert Zaretsky (ISBN 9780674724761)
·
Albert Camus, vérité et légendes (1998),
por Alain Vircondelet (ISBN 9782842771089)
·
Albert Camus : solitaire et
solidaire (2009), por Catherine Camus (ISBN 9782749910871)
·
Le monde en partage. Itinéraires
d'Albert Camus (2013), por Catherine Camus (ISBN 9782070140947)
·
Album Camus : iconographie
choisie et commentée (1982), por Roger Grenier (ISBN 2070110451)
·
Camus:
A Critical Study of His Life and Work (1982), por Patrick McCarthy (ISBN 978-0241106037)
·
Camus, frère de soleil (1995),
por Emmanuel Roblès (ISBN 9782020251747)
·
Camus (1959),
por Jean-Claude Brisville (ISBN 9782070210367)
·
Camus (2010), por Virgil Tănase (ISBN
2070344320)
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