quinta-feira, 25 de maio de 2017

O PEQUENO PRÍNCIPE - 6

Conforme se passavam os dias eu ia aprendendo, em nossas conversas, algo a mais sobre o seu planeta natal, a sua partida e a sua jornada sideral. A informação vinha aos poucos, como algo que escapava ao acaso dos pensamentos do pequeno príncipe. Foi desta forma que eu acabei sabendo, no terceiro dia, sobre a catástrofe dos baobás.
        Foi mais uma vez através do carneiro que eu acabei descobrindo tudo, quando o pequeno príncipe me perguntou, abruptamente, como que tomado por uma grande angústia:   “

É verdade que os carneiros comem só grama e arbustos, não é mesmo?”  

“Sim, é verdade.”  

“Ah! Que beleza!”

Eu não havia compreendido porque era tão importante saber que carneiros comiam só grama e arbustos, mas ele acrescentou:  

“Então eles também devem se alimentar de baobás, certo?”  

Eu expliquei ao pequeno príncipe que os baobás eram árvores muito, muito maiores do que pequenos arbustos ou tufos de grama. Pelo contrário, mais se pareciam com castelos; e mesmo que toda uma manada de elefantes viesse se alimentar, não conseguiriam dar conta de esgotar as folhas de um único baobá.
A ideia de uma manada de elefantes fez o pequeno príncipe dar mais risadas...  

“Nós teríamos de amontoar uns por cima dos outros para que coubessem em meu planeta.”




Mas em seguida fez um comentário pertinente:  

“Antes de crescerem tanto, os baobás devem ter nascido da terra como árvores pequeninas.”  

“Está muito correto. Mas por que você deseja que os carneiros comam os baobás pequeninos?”  

“Ora, vamos lá, não é evidente?”  

E daí ele ficou em silêncio. Eu tive de me esforçar um bocado para resolver tal enigma, sem a ajuda de ninguém...
De fato, conforme acabei aprendendo, havia no planeta natal do pequeno príncipe – assim como em todos os demais planetas – plantas boas e plantas más. Da mesma forma, havia boas sementes vindas das boas plantas, e sementes más vindas das plantas más.
Mas sementes são invisíveis. Elas dormem nas profundidades escuras do coração da terra, até que uma delas seja acometida por um desejo de despertar. Então esta pequena semente vai se espreguiçar e começar a lançar um ramo na direção do sol, a princípio de forma tímida. Se for um ramo de uma roseira ou de rabanete, podemos deixar que ele cresça à vontade. Mas se for uma erva daninha, devemos arrancá-la assim que a avistamos, para que não prejudique as demais plantas.


Ora, havia sementes terríveis no planeta que fora a casa do pequeno príncipe; e estas eram as sementes dos baobás. O solo do planeta estava infestado delas.
Um baobá é uma planta da qual nunca nos livramos se é descoberto tarde demais. Ele logo se espalha pelo planeta inteirinho, atravessando o chão com suas raízes imensas. E se um planeta for muito pequeno, e os baobás muito numerosos, é capaz deles o racharem todo...  

“É uma questão de disciplina”, me disse o pequeno príncipe. “Quando terminamos de ir ao banheiro pela manhã, é hora de cuidar das necessidades de nosso próprio planeta, e com o mesmo cuidado. É preciso verificar se estamos arrancando regularmente todos os baobás tão logo consigamos distingui-los das roseiras, pois em sua infância ambos são muito parecidos. É um trabalho um tanto entediante, mas acaba que se torna fácil quando nos acostumamos a ele.”  

E ainda, noutro dia, foi isto que ele me disse:  

“Você deve fazer um desenho bem bonito, assim as crianças do lugar onde vive poderão ver exatamente como tudo isso funciona. Isto seria muito útil para elas caso precisem viajar algum dia.
Às vezes, não há mal algum em deixar um pouco de trabalho para outro dia, mas no caso dos baobás isso sempre significa uma catástrofe. Um dia eu conheci um planeta habitado por um sujeito bem preguiçoso, e ele havia deixado escapar três pequenos baobás que já vinham crescendo...”

Então, seguindo as descrições do pequeno príncipe, eu fiz um desenho do tal planeta.



Não me sinto à vontade em assumir um tom moralista, mas o perigo dos baobás é tão pouco compreendido, e são tão grandes os riscos para qualquer um que acabe perdido num asteroide, que desta vez eu abri uma exceção. E assim, aqui vai o meu conselho:  

“Crianças, tomem cuidado com os baobás!”  

Meus amigos, assim como eu, viviam ignorando este perigo por um longo tempo, sem nunca haver sequer ouvido falar dele; e foi sobretudo para alertá-los que tanto me dediquei a este desenho. A lição que eu passo adiante, no entanto, valeu todo o esforço da minha arte.
Você poderá me perguntar, quem sabe, “Por que não há nenhum outro desenho nesse livro tão magnífico e grandioso quanto o desenho dos baobás?”. E a resposta é muito simples: eu tentei, mas com os demais não obtive o mesmo sucesso.

Quando eu desenhei estes baobás eu fui tomado por uma inspiração e um sentido de urgência que iam além de mim mesmo.

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